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AtualizadoSeg, 22 Abr 2024 2pm

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Daichii Sankyo

 

Mortalidade, morbidade e prognóstico na ressecção de metástases cerebrais

helder ícarelli neurocirurgia cymk okHelder Picarelli (foto), neurocirurgião do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP), é primeiro autor de estudo que avalia a sobrevida, morbidade, causas de morte, fatores prognósticos e o impacto da radioterapia em pacientes com metástases cerebrais tratados por ressecção neurocirúrgica. O trabalho foi publicado no Journal of Neurological Surgery.

Apesar dos avanços na terapia sistêmica e na radioterapia, a ressecção neurocirúrgica continua sendo a base do tratamento das metástases cerebrais. Embora seja inequívoca em casos de dúvida diagnóstica, radiorresistência e risco de morte devido a causas neurológicas, a ressecção neurocirúrgica pode ser controversa em outras situações. Muitos aspectos relacionados à ressecção neurocirúrgica ainda não foram bem estabelecidos e os índices prognósticos primários foram propostos apenas na última década.

Métodos e resultados

Um total de 200 pacientes com metástases cerebrais tratados com ressecção neurocirúrgica foram avaliados sequencialmente e seguidos prospectivamente. Foram utilizados modelos de regressão logística e de regressão de Cox para identificar fatores independentes associados à mortalidade em 4 semanas e em 1 ano, respectivamente. Os pesquisadores também avaliaram características clínicas, morbidade, recorrência e causas de morte.

O câncer de pulmão foi o câncer mais prevalente (36,5%); a mediana do escore do Karnofsky Performance Status (KPS) foi de 60. A ressecção total foi alcançada em 89% e a radioterapia adjuvante foi aplicada em 63% dos casos. As taxas de mortalidade cirúrgica, morbidade e mortalidade em quatro semanas foram de 1,5%, 17% e 7,5%, respectivamente. As infecções sistêmicas foram a principal causa de morte em 62,5% dos casos.

A mediana de sobrevida foi de 5 meses e 34,5% dos pacientes viveram > 1 ano. O escore KPS pós-operatório (KPSpo) permaneceu inalterado ou melhorado em 94,5% dos casos. Na análise multivariada, um escore KPSpo ≥ 80 e a aplicação de radioterapia adjuvante foram associados a um menor risco de morte em 12 semanas e em 1 ano. “As variáveis ​​do local do tumor primário, número de metástases cerebrais e presença de meningite carcinomatosa não foram significativas”, observaram os autores.

A morbimortalidade foi alta. Um terço dos pacientes viveu > 1 ano e o escore KPS melhorou ou permaneceu inalterado na maioria dos casos. “Os índices prognósticos e as condições de saúde foram fatores preditivos importantes, mas o escore KPSpo e a radioterapia adjuvante foram variáveis ​​independentes para sobrevida em 12 semanas e 1 ano. Novos estudos são necessários para avaliar a influência dos tratamentos modernos e perfis moleculares específicos”, concluem.

Comentários

Por Helder Picarelli*

O tratamento, a expectativa de cura e o tempo de sobrevida dos pacientes com câncer mudou drasticamente com o desenvolvimento e uso disseminado de modernos quimioterápicos, drogas-alvo, estratégias imunomoduladoras, avançadas técnicas de radioterapia e inovadores recursos cirúrgicos. Esses avanços terapêuticos, associados a exames diagnósticos cada vez mais sensíveis, são responsáveis pelo aumento do tempo de vida dos doentes com câncer, e consequente, elevação da incidência de metástases cerebrais, que são diagnosticadas cada vez mais precocemente, frequentemente assintomáticas.

Comumente, muitos pacientes em remissão da doença sistêmica por anos apresentam metástases cerebrais como os únicos focos reincidentes. Felizmente esse evento não é mais considerado catastrófico e associado interrupção do tratamento, como em um passado não muito distante.

Nesse estudo identificamos e reportamos fatores prognósticos, estimamos a expectativa de sobrevida e as taxas de complicações associadas ao tratamento cirúrgico realizado em um hospital especializado do Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade de São Paulo. Embora não represente a maioria da realidade brasileira, ele pode ajudar profissionais da área de saúde, bem como familiares, na tomada de decisões terapêuticas complexas, ou ainda a responder questões simples como: Quais são os riscos? Posso haver sequelas? Posso morrer? Quanto tempo me resta?

As boas condições gerais de saúde, o estado mental e desempenhos funcionais preservados estiveram associados à melhor prognóstico. A ressecção cirúrgica, associada à radioterapia adjuvante, proporcionou tempo de sobrevida mais longo e melhora do estado funcional, independentemente do tipo de neoplasia e do número de metástases cerebrais.

Como era presumível, a ocorrência da morte e outras complicações foram mais frequentes em doentes em condições gerais ruins de saúde e funcionalidade comprometida. As taxas de complicações relacionadas ao ato cirúrgico em si, e a mortalidade cirúrgica, foram baixas. Entretanto, as taxas de complicações sistêmicas, dentre elas as infecções sistêmicas, foram bastante elevadas, sendo os principais desencadeantes do óbito.

*Helder Picarelli é neurocirurgião do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo; Doutor em Neurociências pela Universidade do Estado de São Paulo, com especialização em Neuro-oncologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês

Referência: Mortality, Morbidity, and Prognostic Factors in the Surgical Resection of Brain Metastases: A Contemporary Cohort Study - Helder Picarelli, Marcelo de Lima Oliveira, Gustavo Nader MartaDavi J. Fontoura SollaManoel Jacobsen TeixeiraEberval Gadelha Figueiredo - J Neurol Surg A Cent Eur Neurosurg
DOI: 10.1055/s-0039-1696997


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