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AtualizadoQui, 25 Abr 2024 4pm

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Daichii Sankyo

 

OMS reforça importância da vacina contra HPV na prevenção do câncer cervical

LUISA NET OKComo parte de uma estratégia global para eliminar o câncer do colo do útero, a Organização Mundial de Saúde (OMS) propõe a meta de eliminar quatro casos por 100 mil mulheres e expandir a vacinação contra o papilomavírus humano (HPV) para alcançar 90% de cobertura até 2030, além de reforçar o rastreamento do câncer do colo do útero para 70% da população e ampliar o tratamento de lesões precursoras em 90% das mulheres afetadas. As metas globais foram publicadas em artigo no Lancet, que estima os resultados em 78 países de baixa e média renda. Quem comenta é Luisa Lina Villa (foto), chefe do Laboratório de Inovação em Câncer do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do ICESP.

A OMS instituiu um modelo global baseado em três modelos dinâmicos de infecção por HPV, considerando carcinogênese do colo do útero, rastreamento e tratamento de lesões precursoras e, finalmente, câncer invasivo. Com o objetivo de estimar a redução nas taxas de mortalidade por câncer do colo do útero em 78 países de baixa e média renda (LMICs, da sigla em inglês), a OMS estimou três cenários principais para compor cada modelo:1) vacinação somente para meninas aos 9 anos de idade, com busca ativa para meninas de 10 a14 anos; 2) vacinação somente para meninas, além de triagem única para câncer cervical e tratamento 3) vacinação somente para meninas mais triagem duas vezes na vida e ampliação do tratamento do câncer.

“Partimos da premissa de que a vacinação proporciona proteção 100% vitalícia contra infecções por HPV tipos 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58, aumentando a cobertura em até 90% em 2020. O rastreamento do câncer cervical prevê o teste do HPV aos 35 anos ou na faixa de 35 a 45 anos, considerando até 45% de cobertura até 2023, 70% até 2030 e 90% até 2045. Assumimos também que 50% das mulheres com doença cervical invasiva receberiam cirurgia, radioterapia e quimioterapia apropriadas até 2023, aumentando para 90% em 2030”, descreve o artigo de Canfell e colaboradores.

Resultados

Os resultados mostram que em 2020, a taxa estimada de mortalidade por câncer do colo do útero em todos os 78 LMICs é de 13 ± 2 (variação de 12 ± 9–14 ± 1) por 100.000 mulheres. Comparado ao status quo, até 2030 a vacinação sozinha teria impacto mínimo na mortalidade por câncer do colo do útero, levando à redução de 0∙1% (0 ∙ 1–0 ∙ 5). No entanto, somada ao rastreamento duas vezes na vida e ao tratamento dos casos de câncer, a redução da mortalidade chega a 34 ± 2% (23 × 3–37 × 8), evitando no mínimo 300 mil mortes até 2030, com resultados semelhantes ao rastreamento uma única vez na vida. Até 2070, aumentar a cobertura da vacinação contra HPV pode reduzir a mortalidade em 61 ± 7% (61 ± 4–66 ± 1), evitando 4,8 milhões de mortes. Em 2070, o aumento adicional com o rastreamento e  tratamento do câncer reduziria a mortalidade em 88, 9%, com média de 13, 3 milhões de mortes (com rastreamento único), ou em 92,3% (com rastreamento duas vezes na vida), evitando 14, 6 milhões de mortes.

A estimativa é de que nos próximos 100 anos, quase 90% das mortes seriam evitadas com a estratégia da OMS, sobretudo nas regiões mais pobres do planeta. “Essas descobertas enfatizam a importância de agir imediatamente em três frentes para aumentar a vacinação, reforçar o rastreamento e assegurar o tratamento para as lesões precursoras e o câncer invasivo do colo do útero”, reforça a OMS.

O plano de metas da OMS integra os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, da ONU, estratégia que prevê a redução de um terço da mortalidade prematura por doenças não transmissíveis até 2030. A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto.

Comentários

Por Luisa Lina Villa, chefe do Laboratório de Inovação em Câncer do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto do Câncer de São Paulo (ICESP)

"Os resultados apresentados em dois artigos publicados no dia 30 de janeiro de 2020 na revista Lancet não poderiam ser mais positivos: É POSSÍVEL ELIMINAR O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO!

Para alcançar esse objetivo, devem ser aplicadas as três estratégias propostas pela OMS, que incluem a vacinação contra HPV, o rastreamento com testes de HPV (uma ou duas vezes ao longo da vida da mulher) e o tratamento das lesões precursoras e do câncer invasivo do colo do útero (além dos cuidados paliativos, quando necessário).
Os modelos matemáticos mostram que a eliminação poderá ser alcançada em 100 anos, salvando a vida de mais de 62 milhões de mulheres, principalmente nos países de baixa e média renda.

É relevante destacar que a aplicação imediata das estratégias preconizadas pela OMS - 90% das meninas recebendo a vacina de HPV, 70% das mulheres de 30-45 anos sendo rastreadas com testes de HPV, 90% das mulheres com tumores cervicais recebendo tratamento efetivo - poderá resultar em 33% da redução da mortalidade por câncer do colo do útero nos próximos 10 anos!

Há, porém, diversos obstáculos no caminho, começando pela ausência de programas organizados de vacinação e rastreamento em muitos países de baixa e média renda, justamente aqueles com as maiores taxas de incidência e mortalidade por câncer do colo do útero. E mesmo naqueles que oferecem estes programas para o público em geral, as taxas de cobertura de rastreamento e vacinação são frequentemente muito baixas. Existe enorme diversidade na qualidade de tratamento de câncer oferecido em distintas regiões do mundo, particularmente em países de menor nível socioeconômico. Assim, o ônus da eliminação do câncer do colo do útero, com consequente redução de milhões de mortes, recai sobre todos, governos, sociedade civil, setor privado. Cada investida dos movimentos anti-vacina pode e deve ser considerada uma ação que impedirá a redução da mortalidade por câncer cervical.

Cada omissão da recomendação médica, cada falta de informação adequada, cada atraso no tratamento, tudo interfere para que as metas da OMS de eliminação do câncer do colo do útero não sejam alcançadas, nem em 100 anos, nem nunca!" 

Referência: Canfell, K., Kim, J. J., Brisson, M., Keane, A., Simms, K. T., Caruana, M., … Hutubessy, R. (2020). Mortality impact of achieving WHO cervical cancer elimination targets: a comparative modelling analysis in 78 low-income and lower-middle-income countries. The Lancet. doi:10.1016/s0140-6736(20)30157-4


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