Consumo de ômega 3 e câncer colorretal

Bruna Moraes Nutricao NET OKA suplementação de ácidos graxos ω-3 marinhos reduz o risco de lesões precursoras de câncer colorretal na população geral dos EUA? Estudo publicado no JAMA Oncology concluiu que a suplementação diária de ácido graxo ω-3 marinho não reduziu o risco de adenomas convencionais ou pólipos serrilhados na população avaliada, que incluiu mais de 25 mil adultos, mas mostrou papel em indivíduos com baixos níveis plasmáticos de ácido graxo ω-3 no baseline e entre afro-americanos. A nutricionista Bruna Moraes (foto), gerente de dados da Unidade Clínica de Terapia Celular do Hospital das Clínicas da FMUSP, comenta o trabalho.

Esta análise pré-especificada do estudo VITAL (Vitamina D e Ômega-3) examinou o efeito dos suplementos ω-3 marinhos entre 25871 adultos na população geral dos EUA, incluindo 5106 afro-americanos, todos livres de câncer e doenças cardiovasculares no momento da inscrição.

A intervenção considerou a ingestão de 1 grama/dia de ω-3 marinho, incluindo ácido eicosapentaenoico (460 mg) e ácido docosahexaenóico (380 mg), além de suplementos de vitamina D3 (2000 UI diariamente). A randomização foi de novembro de 2011 a março de 2014 e a intervenção foi concluída em 31 de dezembro de 2017.

Resultados

Durante acompanhamento médio de 5,3 anos (variação de 3,8 a 6,1 anos), 294 casos de adenomas convencionais foram documentados no grupo ω-3 e 301 no grupo controle (OR multivariável, 0,98; IC95%, 0,83-1,15) Além disso, 174 casos de pólipos serrilhados foram registrados no grupo ω-3 e 167 no grupo controle (OR 1,05; IC 95% 0,84-1,29). Nenhuma associação foi encontrada para subgrupos de pólipos de acordo com tamanho, localização, multiplicidade ou histologia.

Os resultados da análise mostram que a suplementação diária de ácido graxo ω-3 marinho (1 g) não reduziu o risco de adenomas convencionais (adenoma tubular, adenoma tubuloviloso, adenoma viloso e adenoma com displasia de alto grau) ou pólipos serrilhados (pólipo hiperplásico, adenoma serrilhado tradicional e pólipo serrilhado séssil). No entanto, uma associação benéfica foi observada entre indivíduos com baixos níveis plasmáticos de ácido graxo ω-3 no baseline (OR, 0,76; IC 95%, 0,57-1,02; P = 0,03) e entre afro-americanos (OR, 0,59; IC 95%, 0,35-1,00).

“Apesar do estudo bem desenhado e conduzido não encontrar associação entre a suplementação de ômega -3 (1 g por dia) e o risco de lesão pré-maligna colorretal, ele apontou a possibilidade de redução do risco de adenomas entre indivíduos com baixo índice ω-3 no plasma. Um índice observado de 2,5% é muito baixo e está diretamente associado ao consumo de ômega 3”, explica Bruna.

A nutricionista destaca o benefício associado à etnia como outro ponto positivo do trabalho. “Tal condição corrobora com outros estudos a respeito da biodisponibilidade e o metabolismo do ácido graxo ômega-3 e variantes genéticas cujas distribuições são diferentes de acordo com a raça/etnia”, diz.

Em conclusão, a suplementação com ácidos graxos ω-3 marinhos (1 g por dia) não foi associada à redução de risco de precursores de câncer colorretal. O potencial benefício desta suplementação em indivíduos com baixos níveis basais de ω-3 ou em afro-americanos requer confirmação adicional.

Bruna observa que outros fatores de confusão não avaliados podem estar associados ao risco de lesão pré-maligna colorretal, como o microbioma intestinal, suas interações com o hospedeiro e modulações metabólicas. “Para a prática clínica promovemos o aumento da ingestão de alimentos fonte de ômega-3 (em conjunto ou não com suplementação), mas continuamos com dúvidas em relação a todos os possíveis benefícios de uma alimentação saudável e consumo de nutrientes imunomoduladores”, conclui.

O estudo está registrado na ClinicalTrials.gov: NCT01169259.

Referência: Song M, Lee I, Manson JE, et al. Effect of Supplementation With Marine ω-3 Fatty Acid on Risk of Colorectal Adenomas and Serrated Polyps in the US General Population: A Prespecified Ancillary Study of a Randomized Clinical Trial. JAMA Oncol. - published online November 21, 2019. - doi:https://doi.org/10.1001/jamaoncol.2019.4587