Levofloxacino profilático no mieloma múltiplo

MAIOLINO NET OKO uso profilático de levofloxacino durante as primeiras 12 semanas de tratamento de pacientes com mieloma múltiplo recém-diagnosticado foi associado a uma redução significativa nos primeiros episódios febris ou morte por qualquer causa. É o que apontam resultados de estudo fase III publicados no Lancet Oncology em artigo de Drayson et al. “Para o nosso meio é particularmente importante porque o perfil do mieloma múltiplo aqui no Brasil é de pacientes com doença mais avançada, diante do atraso no diagnóstico, indicando que levofloxacino profilático pode ter um impacto maior aqui”, avalia Ângelo Maiolino, professor de hematologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador de hematologia do Americas Centro de Oncologia Integrado, no Rio de Janeiro.

Este estudo duplo-cego inscreveu 977 pacientes para receber levofloxacino na dose de 500 mg (n = 489) ou placebo (n = 488) uma vez ao dia por 12 semanas. A dose foi reduzida de acordo com a taxa de filtração glomerular estimada a cada 4 semanas. O endpoint primário foi tempo para o primeiro episódio febril ou morte por qualquer causa nas primeiras 12 semanas de tratamento na população com intenção de tratar.

Resultados

Os primeiros episódios febris ou morte ocorreram em 19% dos pacientes do grupo levofloxacino, contra 27% dos pacientes do grupo placebo nas 12 semanas iniciais de tratamento (taxa de risco [HR] = 0,66, P = 0,0018). Episódios febris ocorreram em 18% vs 23% (87 vs 112 pacientes), morte por qualquer causa ocorreu em 1% vs 3% (4 vs 15 pacientes) e episódios febris com morte ocorreram em 1% vs 1% (4 vs 7 pacientes). Infecções não febris ocorreram em 24% dos pacientes no grupo levofloxacino contra 27% dos pacientes no grupo placebo (P = 0,23).

“É um artigo longamente esperado considerando que esse estudo foi apresentado no ASH em 2017 e é também um artigo importante, porque levofloxacino profilático realmente demonstrou redução de episódios de infecções e mortes no período mais crítico do tratamento do mieloma múltiplo, que são as primeiras 12 semanas”, explica Maiolino. “É um período em que existe realmente risco de mortalidade não apenas em decorrência do tratamento inicial, mas da carga da doença”, diz o especialista, que alerta para o risco de resistência às quinolonas.”Uma ressalva deve ser feita sobre a questão da resistência às quinolonas e os médicos precisam estar atentos a isso. Há de se ter um cuidado para evitar o uso indiscriminado das quinolonas, o que pode provocar resistência”.

Em relação ao perfil de segurança, eventos adversos graves foram semelhantes nos dois grupos avaliados, 52% no grupo de levofloxacino versus 48% em pacientes do grupo placebo nas 16 semanas iniciais de tratamento, exceto pela ocorrência de tendinite (reversível) em 5 pacientes do braço de intervenção (1%).

“A adição de levofloxacino profilático ao tratamento ativo do mieloma durante as primeiras 12 semanas reduziu significativamente os episódios febris e as mortes em comparação com o placebo, sem aumentar as infecções associadas”, concluíram os autores.

O estudo é financiado pelo UK National Institute for Health Research.

Referências: Drayson, M. T., Bowcock, S., Planche, T., Iqbal, G., Pratt, G., Yong, K., … Dunn, J. A. (2019). Levofloxacin prophylaxis in patients with newly diagnosed myeloma (TEAMM): a multicentre, double-blind, placebo-controlled, randomised, phase 3 trial. The Lancet Oncology. doi:10.1016/s1470-2045(19)30506-6