Adesão ao tamoxifeno e farmacogenética no câncer de mama

CASALI 2018 NET OKO oncogeneticista José Claudio Casali da Rocha (foto) é autor senior de estudo que avalia como a adesão ao tratamento afeta os níveis plasmáticos de tamoxifeno e seus metabólitos ativos e, consequentemente, pode interferir nos resultados clínicos de pacientes com câncer de mama ER-positivo. “Esse é o primeiro estudo de coorte prospectivo que considerou adesão ao tamoxifeno e trouxe de volta a discussão sobre a relevância da farmacogenética no metabolismo dos medicamentos de suporte e no tratamento oncológico”, destaca o oncogeneticista.

“Suspeita-se que a eficácia do tamoxifeno no câncer de mama depende da adesão e do metabolismo integral da droga”, descrevem os autores. “Avaliamos o papel do comportamento de adesão e a farmacogenética na taxa de formação de (Z) ‐endoxifeno, um metabólito ativo de tamoxifeno”, explicam.

Os participantes foram recrutados no Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba, de abril de 2014 a junho de 2017. Nesse período, 192 pacientes com câncer de mama ER-positivo tratados com tamoxifeno foram incluídos no estudo e acompanhados nos meses 3, 6 e 12 para avaliar a adesão ao tamoxifeno com base em questionário validado, níveis plasmáticos de tamoxifeno e seus metabólitos medidos por cromatografia líquida com espectrometria de massa em tandem, além da avaliação genômica para polimorfismos da enzima CYP2D6.

A adesão foi avaliada para 163 pacientes no mês 3 (85%), 173 pacientes no mês 6 (90%) e 170 pacientes no mês 12 (89%). A idade mediana ao diagnóstico foi de 51,5 anos (variação de 24 a 82 anos); 127 pacientes (66%) estavam na pré-menopausa. Aos 3 e 6 meses, 74-76% dos pacientes apresentavam altas taxas de adesão ao tratamento com tamoxifeno, que caiu para 63% aos 12 meses. A baixa adesão não foi observada durante os primeiros 3 meses, mas aumentou para 10,6% aos 12 meses (P <0,05).

A adesão explicou 47% da variabilidade das concentrações plasmáticas de tamoxifeno (P <0,001). Embora apenas o CYP2D6 tenha explicado 26,4%, a combinação do polimorfismo com a adesão explicou 40% da variabilidade de (Z) -endoxifeno em 12 meses (P <0,001). A influência da baixa adesão em reduzir os níveis relevantes de (Z) -endoxifeno foi maior em pacientes com função normal da enzima CYP2D6 (risco relativo 3,65; intervalo de confiança de 95% 1,48-8,99). “Como prova de conceito, demonstramos que os níveis de (Z) -endoxifeno são influenciados pela adesão do paciente ao tamoxifeno e pelo CYP2D6, o que é particularmente relevante para pacientes com função normal do CYP2D6”, concluem os autores.

Para José Claudio Casali da Rocha, o estudo reforça a importância de monitorar a adesão ao tratamento. “Vamos alertar os médicos e a comunidade de oncologia sobre o monitoramento do uso regular de tamoxifeno”, destaca o especialista, que aponta outro importante achado do estudo. ”Chamou nossa atenção o número de metabolizadoras intermediárias CYP2D6, um número significativo que se soma as de baixo metabolismo, com implicações nos níveis de endoxifeno”, explica.

Casali da Rocha observa, ainda, que o FDA já discute a possibilidade de dobrar a dose (40mg TMX / dia) para o grupo de metabolismo intermediário e reforça o papel de uma equipe de farmácia “que não só dispensa medicamentos, mas também monitora a adesão e interações farmacológicas, detecta inconsistências e as corrige”, enfatiza. 

O estudo está disponível em acesso aberto na Clinical and Translational Science.

Referências: Nardin, J. M., Schroth, W., Almeida, T. A., Mürdter, T., Picolotto, S., Vendramini, E. C. L., … Casali‐da‐Rocha, J. C. (2019). The Influences of Adherence to Tamoxifen and CYP2D6 Pharmacogenetics on Plasma Concentrations of the Active Metabolite (Z)‐Endoxifen in Breast Cancer. Clinical and Translational Science. doi:10.1111/cts.12707