Microbiota e impacto prognóstico no câncer colorretal

Rui Manuel Reis bx okEstudo do Hospital de Câncer de Barretos (Hospital do Amor) procurou explorar o perfil da microbiota de uma série de amostras de tumores colorretais de pacientes tratados na instituição. Os resultados foram publicados em acesso aberto na Frontiers in Oncology, com dados sobre a a presença e o impacto do DNA de Fusobacterium nucleatum (Fn) no prognóstico do CRC. "O estudo mostrou que a presença da bactéria está significativamente associada a uma menor sobrevida dos pacientes, sugerindo que poderá constituir um importante biomarcador de prognóstico tumoral a ser incorporado na prática clínica", avalia Rui Manuel Reis (foto), Diretor Científico e Executivo do Instituto de Ensino e Pesquisa da instituição.

 

A diversidade do microbioma tem sido apontada como um fator importante no desenvolvimento e progressão do câncer colorretal. Através do sequenciamento de 16S rRNA, o estudo avaliou por qPCR uma série de 152 casos de câncer colorretal. A presença de Fn foi detectada em 35/152 (23,0%) dos tumores recém-congelados, em 6/57 (10,5%) do tecido adjacente normal pareado, com níveis mais elevados no tecido tumoral (p = 0,0033).

No conjunto de dados de validação, o DNA de Fn no tecido foi significativamente associado a tumores (p = 0,001), maior profundidade de invasão (p = 0,014), estágios clínicos mais altos (p = 0,033), pouca diferenciação (p = 0,011), status positivo para instabilidade de microssatélites - MSI (p <0,0001), tumores BRAF mutado (p <0,0001) e perda de expressão das proteínas de reparo de incompatibilidade MLH1 (p < 0,0001), MSH2 (p = 0,003) e PMS2 (p <0,0001). Além disso, os autores descrevem que a presença de DNA Fn no tecido de CRC também foi associada à pior sobrevida em 5 anos (69,9 vs. 82,2%; p = 0,028) e pior sobrevida global (63,5 vs. 76,5%; p = 0,037).

“Aqui relatamos pela primeira vez a associação da presença de F. nucleatum com importantes características clínicas e moleculares em uma coorte brasileira de pacientes com CCR”, destacam, reforçando que a classificação baseada no perfil da microbiota intestinal pode fornecer uma abordagem promissora para melhorar a previsão do resultado do paciente.

"Temos atualmente em desenvolvimento mais estudos neste tema, avaliando se a fusobacterium nucleatum pode também constituir um biomarcador de diagnóstico precoce no contexto de rastreamento de câncer colorretal, além do seu papel na resposta a terapias moleculares em pacientes com câncer colorretal", observa Reis. 

No Brasil, estimativas do INCA apontam que o CRC é o segundo tipo de câncer mais frequente em mulheres e o terceiro mais frequente na população masculina. Estudo publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia em 2018 mostrou aumento nas taxas de mortalidade, saltando de 5,1% de todas as mortes por câncer em homens em 1996 para 6,9% em 2012; para as mulheres, as taxas aumentaram de 6,9% em 1996 para 8,2% em 2012. 

Referências:

1 - de Carvalho AC, de Mattos Pereira L, Datorre JG, dos Santos W, Berardinelli GN, Matsushita MM, Oliveira MA, Durães RO, Guimarães DP and Reis RM (2019) Microbiota Profile and Impact of Fusobacterium nucleatum in Colorectal Cancer Patients of Barretos Cancer Hospital. Front. Oncol. 9:813. doi: 10.3389/fonc.2019.00813

2 - INCA. Estimativa 2018: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva; Coordenação de Prevenção e Vigilância (2017).

3 - Oliveira MM, Latorre M, Tanaka LF, Rossi BM, Curado MP. Disparities in colorectal cancer mortality across Brazilian States. Rev Bras Epidemiol. (2018) 21:e180012. doi: 10.1590/1980-549720180012