Estudo do ICESP discute quimioterapia no câncer de esôfago

tiago castria bxEstudo de coorte retrospectivo realizado no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) avaliou a segurança e eficácia de diferentes protocolos de quimioterapia em pacientes com câncer de esôfago metastático ao diagnóstico (EAC ou ESCC) tratados na instituição de janeiro de 2008 a novembro de 2016. Os resultados foram publicados no Journal of Global Oncology (JGO) e mostram que um regime à base de fluoropirimidina mais platina, embora menos utilizado, apresentou perfil de toxicidade mais favorável em pacientes com adenocarcinoma, com melhor controle da doença e mediana de sobrevida global superior aos demais protocolos avaliados. O oncologista Tiago Biachi de Castria (foto) é o autor sênior do trabalho.

Apesar das diferenças epidemiológicas e moleculares entre câncer de esôfago e de estômago, os autores argumentam que a maioria dos estudos publicados incluiu pacientes com esses dois tipos de tumores em um cenário metastático. Neste estudo de coorte retrospectivo, os pacientes foram agrupados de acordo com o protocolo de quimioterapia prescrito: platina e taxano (grupo A); platina e irinotecano (grupo B); platina e fluoropirimidina (grupo C); e sem platina (grupo D). O objetivo foi avaliar a segurança e eficácia do regime de quimioterapia empregado.

Resultados

Dos 1.789 pacientes com câncer de esôfago tratados no ICESP de 2008 a 2016, foram incluídos na análise 397 com doença metastática na apresentação. O carcinoma espinocelular foi a histologia mais frequente (78,8%).

A mediana de sobrevida global (SG) foi de 7 meses (95% CI, 6,15 a 7,85 meses). A quimioterapia foi administrada a 285 pacientes, que atingiram SG mediana de 9 meses (IC 95%, 8,0 a 9,9 meses); em 112 pacientes que não receberam tratamento, a mediana de SG foi de 3 meses (95% CI, 2,3 a 3,7 meses; P <0,001).

A combinação mais utilizada foi platina mais irinotecano (A; 55,5%). O controle da doença nos grupos A, B, C e D foi de 39,2%, 30,1%, 53% e 14,3%, respectivamente. Os pacientes do grupo C atingiram SG mediana de 17 meses (IC 95%, 13,1 a 20,8 meses; p = 0,034). Não foram observadas diferenças na mediana de SG com os outros protocolos (9 meses). O perfil de toxicidade variou, com eventos mais graves no grupo B (hematológicos, diarreia e número de dias hospitalizados).

Em conclusão, a combinação de platina com paclitaxel ou platina com irinotecano promoveu SG semelhante, embora pacientes tratados com irinotecano tenham experimentado eventos mais graves. Na população de adenocarcinoma, um regime à base de fluoropirimidina mais platina, embora menos utilizado, apresentou perfil de toxicidade mais favorável, com melhor controle da doença e mediana de SG superior.

“Esse é um estudo que reflete o mundo real, realizado em um serviço público no Brasil, com 80% dos pacientes com histologia escamosa. O doublet de platina e fluoropirimidina demonstrou ser superior aos demais regimes. No entanto, pode ter ocorrido um importante viés de seleção. Quando comparado ao doublet de platina e irinotecano, a combinação de platina e paclitaxel foi igualmente eficaz e melhor tolerada, e merece ser melhor estudada naqueles casos com histologia escamosa”, avalia Castria. 

“Em instituições com orçamento limitado, sem acesso a bombas de infusão, platina e paclitaxel devem ser uma opção, com menos efeitos adversos que platina e irinotecano, especialmente na histologia de carcinoma escamoso”, recomendam os autores.

No Brasil, o câncer de esôfago representa a sexta maior causa de mortalidade, e mais da metade dos casos diagnosticados são irressecáveis ​​ou metastáticos, com sobrevida em 5 anos menor que 3%. 

O estudo está disponível na íntegra, em acesso aberto: https://ascopubs.org/doi/full/10.1200/JGO.19.00103 

Referências: Victor, C. R., Fujiki, F. K., Takeda, F. R., Hoff, P. M. G., & de Castria, T. B. (2019). Safety and Effectiveness of Chemotherapy for Metastatic Esophageal Cancer in a Community Hospital in Brazil. Journal of Global Oncology, (5), 1–10. doi:10.1200/jgo.19.00103