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AtualizadoSex, 19 Abr 2024 10pm

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Daichii Sankyo

 

Prevalência e severidade de danos evitáveis aos pacientes

ricardo caponero 232 200 NET OK 2O dano evitável afeta cerca de um em cada 20 pacientes (6%) em atendimento médico, com 12% de mortes ou incapacidade permanente na população afetada. Os resultados são de uma revisão sistemática e meta-análise publicada no British Medical Journal (BMJ). 70 estudos envolvendo 337 025 pacientes foram incluídos na metanálise. A revisão mostrou que o dano evitável foi principalmente relacionado a incidentes com medicamentos (25%, intervalo de confiança de 95%, 16% a 34%) e procedimentos invasivos (24%, IC: 21% a 30%).  O oncologista Ricardo Caponero (foto), coordenador do Centro Avançado de Terapia de Suporte e Medicina Integrativa do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, comenta o trabalho.

Na comparação com os hospitais gerais, onde a maioria das evidências se originou, o dano evitável ao paciente foi mais prevalente em especialidades avançadas (terapia intensiva ou cirurgia; coeficiente de regressão b = 0,07, intervalo de confiança de 95% 0,04 a 0,10).

Panagioti et al observam que embora o foco na prevenção de danos ao paciente tenha sido incentivado pela agenda internacional de políticas de segurança do paciente, a maior parte das recomendações é direcionada a danos gerais. "O desenvolvimento e implementação de estratégias especificamente direcionadas a danos evitáveis ​​ao paciente podem levar a melhorias importantes na qualidade do atendimento médico, que também podem ser mais eficazes em termos de custos”, sustentam os autores. “Fortalecer o foco em danos evitáveis ​​ tem o potencial de levar a benefícios clínicos tangíveis e melhorar a segurança do paciente na prática clínica”, descrevem.

Para os autores, o estudo mostra que o dano evitável ao paciente é um desafio internacional de saúde altamente prevalente, que causa sofrimento desnecessário ao paciente e pode resultar em várias mortes evitáveis.

Em editorial na mesma edição (Preventable harm: getting the measure right), Papanicolas et al apontam as limitações do estudo. “ Um modelo focado na definição de evitável, ao vincular um processo identificável a um dano, teria menor probabilidade de capturar eventos que resultam de múltiplos falhas - incluindo, por exemplo, trabalho em equipe ou comunicação ruim - e talvez dê ênfase excessiva nos danos resultantes de falhas individuais”.

Primeiro, não prejudicar

Por Ricardo Caponero

A preocupação com o dano é antiga na medicina, remonta à Hipócrates, que já dizia em seus aforismos: “Primum non nocere”. Essa máxima foi incorporada pela bioética, com o princípio de não maleficência, que vem antes do princípio de beneficência, como preconizava a máxima hipocrática.

O estudo em questão mostra o quanto a medicina pode ser lesiva, mesmo quando realizada com primor e com o máximo de zelo. Eventos adversos e complicações são absolutamente rotineiros, por isso a medicina, exceto em algumas poucas de suas áreas, como a cirurgia plástica, por exemplo, é considerada uma "atividade de meio", e não "de fim". Ou seja, compromete-se a realizar sempre o melhor, independentemente do desfecho que se concretize.

A estatística é a irmã da medicina, Lidamos o tempo todo com o delicado balanço entre riscos e benefícios. E é claro que quanto mais invasivo e intensivo o procedimento, maiores os riscos. O que vale para a cirurgia e para a terapia intensiva também vale para a oncologia, onde o compromisso com o "meio" é o mais importante, já que o "fim" nem sempre é a cura. Efeitos colaterais são aceitos e tenta-se minimizá-los o máximo possível, mas são inevitáveis.

Muitas vezes, erros de ponderação levam a indicações terapêuticas fúteis, sem significado para o paciente, o que não deixa de ser uma lesão (psicológica, econômica, etc.). Mas o mais importante, e muitas vezes imponderável, é o dano causado pela comunicação. Como disse Michel Balint, "O médico é o instrumento mais utilizado na medicina, e como todo medicamento ou procedimento, deveria ser conhecido em todos os seus resultados e potenciais efeitos colaterais". O que o estudo não mede é o dano que uma comunicação mal feita também provoca.

Referências:

BMJ 2019;366:l4185

BMJ 2019;366:l4611


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