Resposta terapêutica e risco de progressão no câncer de cabeça e pescoço

Aline Chaves NET OKA persistência de DNA de papilomavírus humano (HPV) na cavidade oral detectado após o término da terapia primária está associada à recorrência da doença e sobrevida em pacientes com câncer oral ou de orofarínge HPV-positivo? Resultados de estudo de coorte publicado em maio no JAMA Oncology mostram que sim, sugerindo que a análise do DNA do HPV tumoral e sua quantificação representa uma promessa como biomarcador de resposta ao tratamento e risco de progressão no carcinoma escamoso de cabeça e pescoço (HNSCC). A oncologista Aline Chaves (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP), comenta os resultados.

Neste estudo prospectivo foram selecionados 396 pacientes com diagnóstico recente de câncer na cavidade oral ou CEC de orofaringe, inscritos de 11 de julho de 2011 a 7 de maio de 2016.

Amostras de enxágue oral foram coletadas prospectivamente no momento do diagnóstico e no final da terapia primária. Amostras semanais de enxágue oral foram coletadas durante a radioterapia. O DNA purificado da amostra de tumor e do enxágue oral foi avaliado para 37 tipos de HPV e a carga viral foi quantificada por reação em cadeia de polimerase em tempo real. Os tumores foram estratificados pelo status de HPV e posteriormente o DNA do HPV tumoral foi classificado e comparado com as amostras de enxágues orais obtidas antes, durante e após a terapia (HPV tipo-tumoral e não-tumoral). Os dados foram correlacionados com sobrevida livre de recidiva e sobrevida global.

Resultados

Dos 396 pacientes avaliados (idade mediana, 59 anos), 217 tinham câncer de orofaringe, 170 câncer de cavidade oral e 9 tinham carcinoma escamoso de cabeça e pescoço (HNSCC) de sítio primário desconhecido. Nessa coorte, o DNA do HPV encontrado no tumor foi idêntico ao detectável em enxagues orais no momento do diagnóstico em 80% dos pacientes com câncer de oral ou de orofaringe HPV positivo.

A prevalência e a carga do HPV tipo-tumoral diminuíram significativamente durante a terapia primária (odds ratio de 0,41; 95% CI, 0,33-0,52; P <0,001), o que não ocorreu nos tipos não- tumorais (1,01; 95% CI, 0,97-1,06; P = 0,62).

O tabagismo atual foi significativamente associado com a depuração reduzida do DNA do tipo tumoral (hazard ratio [HR], 0,54; 95% CI, 0,32-0,93). A sobrevida global em dois anos foi significativamente menor entre os pacientes HPV positivos com detecção persistente de HPV tipo tumoral após a terapia do que entre aqueles sem DNA tipo tumoral detectável após o tratamento (68% vs 95%; HR ajustada, 6,61; IC 95% , 1,86-23,44; P = 0,003), assim como a sobrevida livre de recidiva (55% vs 88%; HR ajustada, 3,72; IC 95%, 1,71-8,09; P <0,001).

Em conclusão, os achados sugerem que a detecção persistente de DNA do HPV oral após a conclusão da terapia primária está associada com risco aumentado de recorrência e morte por carcinoma espinocelular de cabeça e pescoço HPV positivo.

Para os autores, os achados indicam que a análise do DNA do HPV do tumor representa uma promessa como biomarcador de resposta ao tratamento e risco de progressão no carcinoma escamoso de cavidade oral e orofaringe

“O estudo abre um novo leque para pesquisas avaliando tratamentos adjuvantes para pacientes com persistência do HPV na saliva após o término do tratamento do carcinoma de orofaringe HPV-positivo”, avalia Aline Chaves, do Grupo Brasileiro de Câncer e Cabeça do Pescoço (GBCP).

Aline ressalta que até o momento o HPV é um marcador prognóstico e faz parte do estadiamento somente dos carcinomas escamosos de orofaringe. “Não solicitamos de rotina o status do HPV para os tumores da cavidade oral. No contexto da orofaringe, o HPV não demonstrou ser um marcador preditivo e os tratamentos são similares, independente do status do HPV”, afirma.

Referências:

Fakhry, C., Blackford, A. L., Neuner, G., Xiao, W., Jiang, B., Agrawal, A., & Gillison, M. L. (2019). Association of Oral Human Papillomavirus DNA Persistence With Cancer Progression After Primary Treatment for Oral Cavity and Oropharyngeal Squamous Cell Carcinoma. JAMA Oncology. doi:10.1001/jamaoncol.2019.0439