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AtualizadoQui, 18 Abr 2024 6pm

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Um terço dos pacientes com câncer utiliza medicina complementar e integrativa

ricardo caponero 232 200 NET OK 2Estudo publicado no JAMA Oncology demonstrou que um terço dos pacientes com diagnóstico de câncer nos Estados Unidos utiliza terapias complementares, como meditação, ioga, acupuntura, fitoterapia e suplementos. Liderado por pesquisadores do Southwestern Medical Center, o trabalho mostrou ainda que cerca de 29% daqueles que utilizam tratamentos não convencionais não relataram o uso aos seus médicos. “A falta de relato dos pacientes é, pelo menos em parte, culpa dos médicos, que censuram quando deviam acolher e explicar”, avalia o oncologista Ricardo Caponero (foto), coordenador do Centro Avançado de Terapia de Suporte e Medicina Integrativa do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

 

"Os pacientes mais jovens, especialmente as mulheres, são mais propensos a usar tratamentos complementares, mas acreditávamos que mais pacientes informavam o uso de terapias complementares aos seus médicos", disse Nina Sanford, professora assistente de rádio-oncologia no UT Southwestern Medical Center e primeira autora do trabalho. “Esse dado é preocupante, especialmente no caso de suplementos de ervas, pois não sabemos exatamente o que contém esses produtos e de que forma poderiam interferir no tratamento. Especificamente em pacientes em radioterapia, existe a preocupação de que níveis muito altos de antioxidantes possam tornar o tratamento menos eficaz”, acrescentou.

Os suplementos fitoterápicos foram a medicina complementar mais comum e a quiropraxia, ou manipulação osteopática, foi a segunda mais comum, de acordo com a análise dos dados da Centers for Disease Control and Prevention’s National Health Interview Survey.

Métodos

O National Health Interview Survey (NHIS) coleta dados anualmente sobre uma série de indicadores de saúde de adultos norte-americanos. Em 2012, o NHIS incluiu um suplemento sobre o uso da CAM (do inglês, Complementary and alternative medicines), conforme definido pelo National Center for Complementary and Integrative Health.

Os dados sobre o uso da CAM e os dados demográficos dos participantes que relataram um diagnóstico de câncer foram obtidos através de entrevistas. As análises de dados para este estudo foram realizadas de outubro a dezembro de 2018.

Entre os 1023 participantes que relataram o uso da CAM, foram relatados motivos para a não revelação. Fatores associados à não-revelação da CAM foram avaliados por meio de regressão logística multivariada. Como análise de sensibilidade, as taxas de uso de CAM e da não-divulgação para seus médicos foram relatadas para participantes com diagnóstico de câncer até 2 anos antes da pesquisa (n = 812).

Resultados

Entre 3118 participantes com histórico de câncer (1230 homens e 1888 mulheres; idade mediana, 66 anos, 18 a ≥85 anos), 1023 (33,3%) utilizaram CAM nos últimos 12 meses. A modalidade mais comumente utilizada foi suplementos de ervas (363 de 1023 participantes, 35,8%), seguidos de manipulação quiroprática ou osteopática (256 de 1023, 25,4%), massagem (129 de 1023, 14,1%), yoga/tai chi/qigong (85 de 1023, 7,6%), mantra/mindfulness/meditação espiritual (75 de 1023, 6,9%), dietas especiais (29 de 1023, 2,9%), acupuntura (26 de 1023, 2,0%), homeopatia (15 de 1023 , 1,5%), técnicas de movimento ou exercício (11 de 1023, 1,3%), naturopatia (7 de 1023, 0,6%), curandeiros tradicionais (6 de 1023, 0,4%), terapia de cura energética (5 de 1023, 0,6%) , biofeedback (5 de 1023, 0,4%), hipnose (4 de 1023, 0,5%) e terapia craniossacral (2 de 1023, 0,2%).

Fatores associados ao uso de CAM incluíram raça branca (AOR, 1,82; 95% IC, 1,28- 2,58; P = 0,001), sexo feminino (adjusted odds ratios(AOR), 1,55; 95% IC, 1,26-1,91; P <0,001), etnia não-hispânica (AOR, 1,64; 95% IC, 1,05-2,56; P = 0,03), e idade mais jovem (AOR, 1,02 por ano; 95% IC, 1,01-1,02; P <0,001).

Entre 1023 participantes que utilizaram CAM, 288 (29,3%) não revelaram o uso para seus médicos. As taxas ajustadas de não revelação para aqueles que utilizaram suplementos de ervas foram de 11,8% e 58,2% para aqueles que usam mantra/mindfulness/meditação espiritual. Os motivos mais frequentemente relatados para a não revelação foram porque o médico não perguntou (n = 155 de 288; 57,4%) ou os participantes não achavam que seus médicos precisavam saber (n = 140 de 288; 47,4%).

Uma proporção menor de usuários de terapias complementares sentiu que seu médico não sabia tanto sobre a terapia (n = 28 de 288; 8,5%), não teve tempo suficiente para falar sobre a terapia (n = 12 de 288; 5,7%), expressou preocupação com uma reação negativa (n = 17 de 288; 3,9%), ficou com receio de que seu médico desencorajasse o uso (n = 18 de 288; 3,6%), ou relatou que os médicos desencorajaram o uso no passado (n = 11 de 288, 1,9%). Quando a coorte estava restrita a 812 pacientes com câncer diagnosticados até 2 anos antes da administração da pesquisa, 271 (33,4%) relatou o uso da CAM, incluindo 231 (28,5%) que não revelaram para seu médico.

O oncologista Ricardo Caponero explica que ainda há muita controvérsia em relação a denominação de práticas que não sejam as da medicina tradicional. “O termo "alternativo" é errôneo por dar a impressão de que se decide entre uma ou mais opções igualmente válidas, o que geralmente não é verdade. Por conta disso, muitos preferem o termo "complementar" ou, o mais moderno, "práticas integrativas". A diferença é que para ser "integrada", a prática deve ser do conhecimento de todos que cuidam da pessoa”, diz.

Para Caponero, o que denominar de prática complementar também é uma questão polêmica. “Assistência espiritual, por exemplo, é ou não uma prática complementar ou integrativa?”, questiona. “Sem essa definição, é muito difícil definir a porcentagem de pacientes que faz uso dessas práticas. O que é quase certo é que, depois do diagnóstico de uma doença grave, a maioria dos pacientes modifica seu estilo de vida, pelo menos transitoriamente, busca auxílio espiritual, adota práticas desportivas, modifica sua dieta, abandona hábitos nocivos, etc. Se tudo isso for considerado como "complementar", então a prática é de quase 100%”, afirma.

O especialista acrescenta que parte dessas práticas dá poder ao paciente sobre o cuidado de si mesmo e, a maior parte delas acaba tendo efeitos benéficos pelo efeito da "psicologia da sugestão". “Nada disso é ruim, exceto por duas situações. Alguns produtos naturais podem interferir com medicamentos tradicionais, modificando sua eficácia e seu perfil de eventos adversos. Alguns medicamentos interagem até mesmo com alimentos, como toranja, romã, etc. Isso merece muita atenção. Mas o mais grave é que há uma nova classe de tratamentos que está sendo usada como "medicina substitutiva", ou seja, não é "alternativa" porque não apresenta os mesmos resultados, mas são realizadas em detrimento de práticas cientificamente comprovadas. Isso é um despropósito”.

No entanto, observa que há gente séria nessa área. A Sociedade Internacional de Oncologia Integrativa fez uma revisão que foi referendada pela American Society of Clinical Oncology (ASCO) recomendando procedimentos como meditação, yoga, acupuntura, musicoterapia, etc. basicamente como auxiliares o tratamento de sintomas como estresse, depressão, fadiga, náuseas, etc. “Em resumo, conhecimento integrado é sempre bom; substituto a práticas consagradas, nunca!”, conclui.

Referência: Prevalence and Nondisclosure of Complementary and Alternative Medicine Use in Patients With Cancer and Cancer Survivors in the United States – Nina Sanford et al - JAMA Oncol. Published online April 11, 2019. doi:10.1001/jamaoncol.2019.0349


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