Estudo de mundo real sugere menor sobrevida global com imunoterapia em idosos

Zukin 2 NET OK 2Os resultados de um estudo1 retrospectivo de mundo real com pacientes com câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) avançado tratados com imunoterapia sugerem que pacientes idosos (≥70 anos) podem ter uma sobrevida global mais curta do que pacientes mais jovens. Os dados foram apresentados no European Lung Cancer Congress 2019 que acontece entre os dias 10 e 13 de abril em Genebra, Suíça. O oncologista Mauro Zukin (foto), do Americas Centro de Oncologia Integrado, no Rio de Janeiro, comenta o trabalho. 

Embora cerca de metade de todas os pacientes recém-diagnosticados com CPNPC sejam idosos (4), as evidências sobre a eficácia e segurança da imunoterapia nessa faixa etária são limitadas, porque essa é uma população subrepresentada em ensaios clínicos. Além disso, existem preocupações de que o declínio do sistema imunológico relacionado à idade possa afetar a eficácia da imunoterapia em pacientes idosos.

Nesse estudo, os pesquisadores revisaram retrospectivamente todos os pacientes com CPNPC avançado tratados com agentes imunoterápicos no Hospital Universitário Ramon y Cajal em Madri, Espanha, entre 2014 e 2018. Aproximadamente um quarto dos 98 pacientes tratados com imunoterapia nesse período (27 pacientes; 27,5%) tinham 70 anos ou mais. O status de PD-L1 era conhecido em 50% dos pacientes.

A sobrevida global em pacientes idosos foi significativamente menor do que em pacientes com menos de 70 anos de idade (mediana 5,5 meses vs 13 meses, hazard ratio [HR] 3,86, 95% IC 2,073-7,214, p <0,0001). A sobrevida livre de progressão também foi significativamente menor em pacientes idosos do que em pacientes mais jovens (1,8 vs 3,6 meses, HR 2,1, 95% IC 1,181-3,744, p = 0,012).

Em relação a toxicidade, não houve diferenças estatisticamente significativas nos eventos adversos relacionados ao sistema imunológico entre pacientes idosos e mais jovens (p = 0,535).

O estudo mostrou ainda que a imunoterapia foi administrada principalmente como tratamento de segunda linha (61% dos pacientes) ou de terceira linha ou linhas posteriores (24,5%) em todo o grupo de 98 pacientes de todas as idades. Pouco mais da metade (52%) foram tratados com nivolumabe.

"Nossos resultados sugerem que pacientes idosos poderiam ter piores resultados de sobrevida com imunoterapia do que pacientes mais jovens, sem diferenças em termos de toxicidade", disseram os autores do estudo Elena Corral de la Fuente e Arantzazu Barquin Garcia, do Hospital Universitário Ramon y Cajal, Madri, Espanha, reconhecendo que uma limitação do estudo é o fato de ser uma análise retrospectiva observacional com um pequeno tamanho da amostra.

“São necessários estudos clínicos randomizados prospectivos e mais dados do mundo real para responder questões remanescentes sobre o uso da imunoterapia em pacientes idosos”, observaram.

Imunoterapia em pacientes idosos

A avaliação de pacientes idosos e o uso de Imunoterapia ainda é motivo de muito debate, uma vez que pacientes idosos com mais de 65 anos constituíam a metade dos pacientes nos estudos pivotais, mas não há uma estratificação de pacientes acima de 70 anos ou até 80 anos. A imunoterapia com inibidor de checkpoint parece ter eficácia e toxicidade semelhantes naqueles com idade ≥ 65 anos e com idade <65 anos, e a idade cronológica isolada não deve impedir o uso desses agentes.

Esse estudo me chama a atenção para essa menor eficácia em pacientes idosos , mas mais da metade dos pacientes utilizaram em segunda linha.

Uma meta-análise2 de nove estudos randomizados que comparou nivolumabe, pembrolizumabe ou atezolizumabe com quimioterapia ou Imunoterapia em tumores sólidos (câncer de pulmão de não pequenas células, melanoma, carcinoma de células renais, câncer de cabeça e pescoço) analisou a eficácia em 5458 pacientes. Houve uma vantagem de sobrevida global consistente para imunoterapia em todos os ensaios (razão de risco [HR] 0,69, IC 95% 0,63-0,74), e não houve diferença entre aqueles <65 anos (HR 0,68, IC 95% 0,61-0,75) e aqueles ≥65 anos (HR 0,64, IC 95% 0,54-0,76).

Uma análise da sobrevida livre de progressão baseada na idade foi feita em quatro ensaios. Não houve diferença significativa entre as duas coortes de idade (HR 0,73, IC 95% 0,61-0,88 e HR 0,74, IC 95% 0,60-0,92, respectivamente). As limitações desta meta-análise incluem a potencial falta de aplicabilidade para aqueles com um performance status prejudicado ou comorbidades significativas, o número limitado de pacientes com 75 anos ou mais, e a falta de dados de toxicidade relativa na população idosa versus pacientes mais jovens.

Referências: 1 - Abstract 169P_PR ‘Benefit of immunotherapy (IT) in advanced non-small cell lung cancer (NSCLC) in elderly patients (EP)’ will be presented by Elena Corral de la Fuente during the Poster Display Session on Thursday, 11 April 2019, 12:30 (CEST) in Hall 1. Annals of Oncology, Volume 30, 20019 Supplement 2. doi:10.1093/annonc/mdz072

2 - Efficacy of PD-1&PD-L1 inhibitors in older adults: a meta-analysis.Elias R, Giobbie-Hurder A, McCleary NJ, Ott P, Hodi FS, Rahma O J Immunother Cancer. 2018;6(1):26. Epub 2018 Apr 4.