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AtualizadoQua, 27 Mar 2024 5pm

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Daichii Sankyo

 

Painel de biomarcadores e avaliação de risco de câncer de pulmão

RIAD NET OK 2Um painel baseado em biomarcadores de proteínas circulantes pode melhorar o modelo atual de predição de risco e os critérios de rastreamento para câncer de pulmão, que considera exclusivamente o histórico de tabagismo? Um estudo publicado dia 12 de julho no JAMA Oncology demonstrou que um simples exame de sangue obteve sensibilidade superior, sem aumentar o número de resultados falso-positivos em comparação com as diretrizes para triagem aprovadas pela US Preventive Service Task Force (USPSTF). O cirurgião torácico Riad Younes (foto), Diretor Geral do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, analisa os resultados.

As diretrizes da USPSTF recomendam a triagem por tomografia de baixa dose apenas em adultos entre 55 e 80 anos, com um histórico de 30 anos de tabagismo que fumam ou pararam de fumar nos últimos 15 anos.

Em um estudo de validação de 63 pacientes fumantes com câncer de pulmão e 90 controles combinados, um modelo de predição de risco que inclui quatro proteínas encontradas no sangue - Pro-SFTPB, CA125, CYFRA 21-1, e antígeno carcinoembrionário (CEA) - superou o modelo baseado apenas no histórico de tabagismo quando validado de maneira cega usando amostras pré-diagnóstico de duas coortes europeias.

Métodos

Amostras pré-diagnósticas de 108 pacientes fumantes com câncer de pulmão diagnosticados no período de 1 ano após a coleta de sangue e amostras de 216 controles fumantes pareados da coorte Carotene and Retinol Efficacy Trial (CARET) foram usados ​​para desenvolver um score de risco de biomarcador baseada em 4 proteínas (antígeno de câncer 125 [CA125], antígeno carcinoembrionário [CEA], fragmento de citoqueratina-19 [CYFRA 21-1] e a forma precursora da proteína surfactante B [Pro-SFTPB]).

O escore biomarcador foi posteriormente validado usando estimativas de risco absoluto entre 63 pacientes fumantes com câncer de pulmão diagnosticados dentro de 1 ano após a coleta de sangue e 90 controles pareados de duas grandes coortes europeias baseadas na população, a European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition (EPIC) e o Northern Sweden Health and Disease Study (NSHDS).

Resultados

No estudo de validação de 63 pacientes fumantes com câncer de pulmão e 90 controles pareados (mediana de idade [SD], 57,7 [8,7] anos; 68,6% homens) de EPIC e NSHDS, um modelo integrado de predição de risco que combinou a exposição ao fumo com a pontuação do biomarcador produziu uma AUC de 0,83 (95% IC, 0,76-0,90) em comparação com 0,73 (95% IC, 0,64-0,82) para um modelo baseado apenas na exposição ao fumo (P = 0,003 para a diferença na AUC).

Com uma especificidade geral de 0,83, com base nos critérios de seleção da USPSTF, a sensibilidade do modelo de predição de risco integrado (biomarcador) foi de 0,63 (40 de 63) em comparação com 0,43 (20 de 62) para o modelo baseado apenas no histórico de tabagismo. Por outro lado, com uma sensibilidade geral de 0,42, com base nos critérios de seleção da USPSTF, o modelo de previsão de risco integrado apresentou uma especificidade de 0,95 em comparação com 0,86 para o modelo de tabagismo.

Rastreamento de câncer de pulmão: novas perspectivas, velhas limitações 

Por Riad Younes 

Há poucos dias,  Equipe de cientistas do Consórcio para Detecção Precoce de Câncer de Pulmão, liderada por Dr Samir Hanash, do MD Anderson Cancer Center em Houston, EUA, publicou um estudo muito interessante que tenta avaliar o potencial do uso de 5 (cinco) biomarcadores proteicos, no sangue periférico, para determinar o risco FUTURO de câncer de pulmão em pessoas de alto risco (fumantes crônicas). O estudo apresenta uma possibilidade de melhor predizer o risco de um fumante crônico ser diagnosticado com câncer de pulmão.

Apesar do estudo ser preliminar e publicado como Brief Report na revista JAMA Oncology, este seria o primeiro estudo onde um score baseado em biomarcadores séricos foi testado e validado em coortes independentes de voluntários. A aplicação deste score resultou em uma clara melhora na capacidade de predizer o risco de diagnóstico de tumores malignos de pulmão nesta população, quando comparada com o cálculo clássico de risco baseado somente em dados clínicos, incluindo os índices de intensidade e duração de fumo.

Dr Hanash, autor principal do estudo declarou que "... o painel de biomarcadores identifica com mais precisão os fumantes em risco que devem proceder à triagem, mesmo que não corram maior risco com base apenas no histórico de tabagismo. Um teste de sangue positivo significa que um fumante possui tanto, se não mais, risco de ter câncer de pulmão em comparação com um fumante inveterado com baixa pontuação no biomarcador".

O entusiasmo inicial do Dr Hanash é justificado, tendo em vista os resultados encorajadores do presente estudo, e suas potenciais aplicações clínicas. No entanto, a pesquisa é ainda preliminar, e apresenta várias limitações que precisam ser levadas em consideração:

  1. A escolha destes marcadores especialmente, com a exclusão de outros marcadores séricos já estudados no passado, e que correlacionaram com ocorrência e risco de câncer de pulmão;
  1. Número limitado de pessoas incluídas no estudo;
  1. Como selecionar as pessoas que teriam a indicação de fazer o exame de sangue, tendo em vista os critérios de inclusão de fumantes crônicos em programas de detecção precoce de câncer de pulmão que se baseiam em modelos que incluem somente idade e intensidade do tabagismo? Devemos ampliar a indicação futura de exames de detecção precoce, como CT de tórax, para pessoas com baixa carga tabágica?;
  1. Qual o impacto destes exames, quando positivos, na detecção de câncer de pulmão em estádios ainda precoces, potencialmente curáveis? Pode ser, os dados do estudo não permitem conclusões, que os marcadores somente detectem doença agressiva, mais avançada, que mesmo diagnosticada precocemente apresenta poucas chances de cura;
  1. Qual o impacto real destes testes na mortalidade por câncer de pulmão ou por outras causas, objetivo final de qualquer exame de screening oncológico?;
  1. Qual o impacto de testes falsos negativos no comportamento da população examinada?;
  1. Qual seria o impacto de testes falsos positivos na indicação mais intensiva, com suas implicações obvias de ansiedade, custos, e potenciais complicações relacionadas a estes exames?;
  1. Com que frequência estes exames de sangue deveriam ser realizados em pessoas de baixo risco ou de risco elevado? Uma vez na vida? Anualmente? Outra frequência?;
  1. Quando o teste é positivo, quais seriam os exames indicados para a procura do câncer? A mesma CT de tórax, ou seriam necessários outros exames caso a tomografia não mostre lesão suspeita? Deveria a CT ser repetida com frequência maior (3/3 meses, 6/6 meses), ou manter a recomendação de CT anual?

Apesar dos dados interessantes publicados pelo Consórcio, devemos sempre lembrar que são ainda preliminares. Ou como dizem os autores, no próprio artigo, “apesar deste estudo fornecer uma prova de princípio (proof of principle) do potencial do uso de biomarcadores, na avaliação do risco de câncer de pulmão, para definir a elegibilidade ao screening, a validação e a calibração o modelo integrado de risco necessita o estudo com amostras populacionais maiores, são claramente necessárias antes deste instrumento preditivo poder ser utilizado na prática clínica”.

Referência:  Assessment of Lung Cancer Risk on the Basis of a Biomarker Panel of Circulating Proteins - Integrative Analysis of Lung Cancer Etiology and Risk (INTEGRAL) Consortium for Early Detection of Lung Cancer - JAMA Oncol. Published online July 12, 2018. doi:10.1001/jamaoncol.2018.2078


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