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AtualizadoSex, 19 Abr 2024 10pm

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PORTEC-3: quimiorradioterapia adjuvante vs radioterapia no câncer de endométrio

EVA ANGELICA NET OKEmbora as mulheres com câncer de endométrio geralmente tenham um prognóstico favorável, as pacientes com características de doença de alto risco apresentam maior risco de recorrência. Publicado no Lancet Oncology, o estudo PORTEC-3 investigou o benefício da quimioterapia adjuvante durante e após a radioterapia (quimiorradioterapia) versus radioterapia pélvica isolada na doença de alto risco. Quem comenta os resultados é a oncologista Angélica Nogueira-Rodrigues (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG) e chair de ginecologia do LACOG.

Métodos

O PORTEC-3 foi um estudo fase III aberto, internacional, randomizado, que envolveu 103 centros em seis ensaios clínicos colaborativos no Gynaecological Cancer Intergroup. As pacientes elegíveis apresentaram câncer de endométrio de alto risco com FIGO 2009 estádio I, tipo endometrioide de grau 3 com invasão profunda do miométrio ou invasão do espaço vascular linfático (ou ambos), estádio II ou III do tipo endometrioide ou estádio I a III com histologia serosa ou de células claras.

As mulheres foram randomizadas (1:1) para receber radioterapia isolada (48,6 Gy em frações de 1,8 Gy administradas 5 dias por semana) ou radioterapia e quimioterapia (dois ciclos de cisplatina 50 mg/m2 administrados durante a radioterapia, seguido de quatro ciclos de carboplatina AUC5 e paclitaxel 175 mg/m2). As participantes foram estratificadas por centro participante, linfadenectomia, estádio de câncer e tipo histológico.

Os endpoints finais coprimários foram sobrevida global e sobrevida livre de falhas. O estudo foi encerrado em 20 de dezembro de 2013; o follow-up está em andamento.

Resultados

Seiscentas e oitenta e seis (686) mulheres foram inscritas entre 23 de novembro de 2006 e 20 de dezembro de 2013. Seiscentas e sessenta (660) pacientes elegíveis foram incluídas na análise final; 330 pacientes receberam quimiorradioterapia e 330 pacientes foram submetidas à radioterapia. O acompanhamento médio foi de 60,2 meses (IQR 48,1 – 73,1).

A sobrevida global em 5 anos foi de 81,8% (95% IC; 77,5 - 86,2) com quimiorradioterapia versus 76,7% (72,1 – 81,6) com radioterapia (hazard ratio ajustada [HR] 0,76; 95% IC 0,54 – 1,06; p = 0,11). A sobrevida livre de falhas em 5 anos com quimiorradioterapia foi de 75,5% (95% IC 70,3 – 79,9) versus 68,6% (63,1 – 73,4; HR 0,71, 95% IC 0,53 – 0,95; p=0,022) com radioterapia isolada.

Os eventos adversos de grau 3 ou superiores durante o tratamento ocorreram em 198 pacientes (60%) que receberam quimiorradioterapia versus 41 (12%) entre as mulheres submetidas à radioterapia (p < 0,0001). A neuropatia (grau 2 ou superior) persistiu significativamente com mais frequência após a quimiorradioterapia em comparação com a radioterapia isolada (20 mulheres [8%] versus uma [1%] aos 3 anos; p <0,0001).

A maioria das mortes aconteceu em virtude do câncer de endométrio; em quatro pacientes (duas em cada grupo), a causa da morte foi incerta. Uma morte no grupo de radioterapia foi devido à progressão da doença ou às complicações tardias do tratamento; três mortes (duas no grupo de quimiorradioterapia e uma no grupo de radioterapia) foram decorrentes de doença intercorrente ou toxicidade tardia relacionada ao tratamento.

Os resultados indicam que a quimioterapia adjuvante administrada durante e após a radioterapia para câncer de endométrio de alto risco não melhorou a sobrevida global em 5 anos, embora tenha aumentado a sobrevida livre de falhas. Os autores concluíram que as mulheres com câncer de endométrio de alto risco devem ser aconselhadas individualmente sobre o tratamento combinado, e ressaltaram a necessidade do acompanhamento contínuo para avaliação da sobrevida a longo prazo.

O PORTEC-3 está registrado com número ISRCTN14387080 e ClinicalTrials.gov, número NCT00411138. O trabalho foi financiado pela Dutch Cancer Society, Cancer Research UK, National Health and Medical Research Council Project Grant and Cancer Australia, L'Agenzia Italiana del Farmaco e Canadian Cancer Society Research Institute.

tratamento combinado para uma paciente de alto risco, objetivando-se reduzir o risco de metástases à distância, quimioterapia deve ser o tratamento inicial.

Avaliação do tratamento combinado no câncer de endométrio de alto risco

Por Angélica Nogueira-Rodrigues

Com incidência crescente e já sendo o câncer ginecológico mais comum no mundo desenvolvido, o tratamento do câncer de endométrio é desafiador quando as pacientes apresentam critérios de alto risco.

Dois estudos há muito esperados, avaliando a melhor abordagem para estas pacientes de alto risco, foram apresentados na ASCO de 2017, o PORTEC III e o GOG 258. O PORTEC III, agora publicado, avaliou prospectivamente 686 pacientes com CE alto risco que foram randomizadas (1:1) para RT (48,6 Gy) ou QTRT (dois ciclos de ciplatina 50 mg/m² nas semanas 1 e 4 da RT, seguido de quatro ciclos de carboplatina AUC5 e paclitaxel 175 mg/m² a cada 21 dias). A SG em 5 anos para o braço de QTRT versus RT foi e 81,8% vs 76,7%; HR 0,79 [IC 95% 0,57-1,12, p=0,183]. Também não houve diferença significativa entre os braços para a sobrevida livre de recorrência em 5 anos, salvo nas pacientes com estágio III que apresentarem maior benefício com a combinação: FFS em 5 anos 69,3% para QTRT vs 58,0% para RT [IC 95% 0,45-0,97, p=0,032] e a SG em 5-anos para o estágio III foi 78,7 % vs 69,8% (p=0,114).

Importante analisar estes resultados em conjunto com os do estudo GOG 258. Alinhado com o PORTEC III, o estudo GOG 258 também randomizou prospectivamente 813 pacientes com CE estágios III/IVA, ou I/II se células claras ou seroso, entre QT (carboplatina e paclitaxel por 6 ciclos) e QTRT. As pacientes no braço de tratamento combinado apresentarem menor incidência de recorrência vaginal, pélvica e para-aórtica (3% vs 7%, HR = 0,36, IC 0,16- 0,82; 10% vs 21%, HR=0,43, IC 02,8-0,66) comparado à quimioterapia isolada, mas metástases à distância foram mais frequentes no braço combinado que no braço de quimioterapia isolada (28% vs 21%, HR 1,36, IC 1- 1,86). J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr 5505).

Combinando os resultados dos dois estudos, ao se definir por tratamento combinado para uma paciente de alto risco, objetivando-se reduzir o risco de metástases à distância, quimioterapia deve ser o tratamento inicial. Estes estudos têm a limitação de não considerar as especificidades moleculares do câncer de endométrio, objetivo assumido pelo PORTEC IV, atualmente recrutando pacientes.

Referência:  Adjuvant chemoradiotherapy versus radiotherapy alone for women with high-risk endometrial cancer (PORTEC-3): final results of an international, open-label, multicentre, randomised, phase 3 trial - Stephanie M de Boer et al - Published: 12 February 2018 - Open Access - DOI: https://doi.org/10.1016/S1470-2045(18)30079-2

 


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