Ansiedade em parceiros de sobreviventes de câncer

Homem_Depressao.jpgUma nova análise conclui que 42% dos parceiros de jovens sobreviventes de câncer de mama experimentam ansiedade, mesmo vários anos após o diagnóstico de câncer da sua parceira. Os pesquisadores observaram que estratégias de enfrentamento inadequadas, preocupações com os filhos e outros fatores foram associados à ansiedade. Os dados serão apresentados no 2017 Cancer Survivorship Symposium, em San Diego.

Os resultados são parte de um crescente corpo de pesquisa sobre os efeitos do diagnóstico de câncer sobre cuidadores e membros da família, e reforçam a necessidade de maior apoio ao cuidador, o que teria implicações em sua própria saúde, bem como na saúde e qualidade de vida dos sobreviventes.
 
"Quando um ente querido é diagnosticado com câncer, os membros da família muitas vezes deixam de lado a sua própria saúde e bem-estar, mas sabemos que cuidar de alguém com câncer vem com seu próprio conjunto de preocupações e ansiedades", disse Merry Jennifer Markham, especialista da ASCO. "Precisamos entender melhor as questões específicas que os cuidadores enfrentam para abordar sua ansiedade de forma eficaz. Quando os parceiros de pacientes com câncer cuidam de si mesmos, beneficiam a todos", acrescentou.
 
Métodos e resultados
 
Os pesquisadores encaminharam uma pesquisa online multicêntrica para parceiros de mulheres jovens sobreviventes de câncer de mama que tinham recebido o diagnóstico aos 40 anos ou mais jovens. Para examinar como os respondentes lidavam com o diagnóstico de seu parceiro, a pesquisa incluiu o Brief COPE, uma ferramenta de medição que avalia as diferentes estratégias de enfrentamento que as pessoas usam em resposta ao estresse. A ferramenta avalia o grau em que um parceiro utiliza estratégias específicas, como aceitação de diagnóstico, reformulação positiva, planejamento, e uso de apoio emocional.
 
O tempo médio de conclusão da pesquisa foi de 62 meses (intervalo de 16 a 114) após o diagnóstico da parceira. A regressão logística foi utilizada para explorar preditores de ansiedade (escore> 8 na Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS)).
 
A maioria dos entrevistados (284/289) era do sexo masculino, com mediana de idade de 43 anos (intervalo de 27-65). Os entrevistados eram, em sua maioria, brancos (93%), com trabalho em tempo integral (94%) e nível universitário (78%). 29% relataram algum estresse financeiro, 74% eram pais de crianças menores de 18 anos. Entre os respondedores, 42% (106/250) apresentavam sintomas de ansiedade (39/289 tinham HADS incompletos/em falta).
 
Nas análises univariadas, a escolaridade mais baixa, o tempo integral de trabalho, as preocupações parentais, o apoio social insuficiente e o enfrentamento inadequado foram associados (p <0,05) à ansiedade. No modelo multivariável, apenas o enfrentamento inadequado, que inclui comportamentos como retração emocional, negação, culpa e agressão, permaneceu significativamente associado à ansiedade (p <0,01, OR = 2,32 (95% CI: 1,22, 4,39)).
 
Os pesquisadores ressaltam a oportunidade de desenvolver intervenções que garantam que os membros da família e parceiros tenham apoio para expressar suas necessidades, educação sobre questões comuns e recomendações para uma comunicação eficaz para ajudá-los a lidar de forma positiva.
 
"O câncer não acontece apenas a uma pessoa; tem impacto sobre toda a família", disse a autora do estudo, Nancy Borstelmann, diretora de trabalho social no Dana-Farber Cancer Institute. "Como o número de sobreviventes de câncer de mama continua a crescer, intervenções que visam as preocupações dos parceiros - e famílias inteiras - são necessários para ajudá-los a lidar com as inevitáveis ​​e muitas vezes imprevistas mudanças que vêm com um diagnóstico de câncer", concluiu.
 
Referência: Abstract 184 - Partners of young breast cancer survivors: A cross-sectional evaluation of psychosocial issues and mental health - Citation: J Clin Oncol 35, 2017 (suppl 5S; abstr 184)