Câncer de ovário e contraceptivos orais

PILAR_NET_OK.jpgMaria Del Pilar Estevez Diz (foto), coordenadora da Oncologia Clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e membro do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (GBTG/EVA), analisa a associação entre câncer de ovário e contraceptivos orais e comenta estudo publicado no Annals of Oncology sobre o cenário global da doença.

O uso de contraceptivos orais tem sido associado à redução de risco de câncer de ovário, com redução de 10 a 12% após um ano de uso e cerca de 50% após 5 anos1. Há alguma controvérsia quanto a diferentes níveis de proteção dependendo da dosagem de progesterona2,3,4. Nas mulheres portadoras de mutações dos genes BRCA1 e BRCA2 há evidências de redução de risco com uso de anticoncepcionais5,6, apesar deste benefício não ter sido demonstrado em outro estudo7.

Os contraceptivos orais são comercializados no Brasil desde 1962, 2 anos após a aprovação pelo FDA. O consumo de anticoncepcionais no Brasil é heterogêneo, com grande diversidade regional. Entretanto, o uso de contraceptivos orais se manteve estável ou com tendência a decréscimo em décadas passadas. A ligadura tubárea está associada à redução de risco de câncer de ovário, porém provavelmente com magnitude menor que o uso de contraceptivos orais.
 
Considerando que o diagnóstico do câncer de ovário é feito usualmente em estádios avançados e que não há estratégias de rastreamento eficientes, capazes de diagnóstico precoce e consequente reducão na mortalidade, o uso de contraceptivos orais pode ser um dos fatores de redução da mortalidade. Entretanto, estes dados no Brasil precisam ser avaliados com maior cuidado.

Leia mais: Mortalidade por câncer de ovário


1.      Hankinson SE, Colditz GA, Hunter DJ, et al. A quantitative assessment of oral contraceptive use and risk of ovarian cancer. Obstetrics and Gynecology 1992; 80(4):708–714
 
2.      Centers for Disease Control and Prevention and the National Institute of Child Health and Human Development. The reduction in risk of ovarian cancer associated with oral-contraceptive use. The Cancer and Steroid Hormone Study of the Centers for Disease Control and the National Institute of Child Health and Human Development.New England Journal of Medicine 1987; 316(11):650–655. 
 
3.      Schildkraut JM, Calingaert B, Marchbanks PA, Moorman PG, Rodriguez GC. Impact of progestin and estrogen potency in oral contraceptives on ovarian cancer risk. Journal of the National Cancer Institute 2002; 94(1):32–38. 
 
4.      Greer JB, Modugno F, Allen GO, Ness RB. Androgenic progestins in oral contraceptives and the risk of epithelial ovarian cancer. Obstetrics and Gynecology 2005; 105(4):731–740. 
 
5.      Narod SA, Risch H, Moslehi R, et al. Oral contraceptives and the risk of hereditary ovarian cancer. Hereditary Ovarian Cancer Clinical Study Group. New England Journal of Medicine 1998; 339(7):424–428. 
 
6.      Antoniou AC, Rookus M, Andrieu N, et al. Reproductive and hormonal factors, and ovarian cancer risk for BRCA1 and BRCA2 mutation carriers: results from the International BRCA1/2 Carrier Cohort Study. Cancer Epidemiology Biomarkers and Prevention 2009; 18(2):601–610
 
7.      Modan B, Hartge P, Hirsh-Yechezkel G, et al. Parity, oral contraceptives, and the risk of ovarian cancer among carriers and noncarriers of a BRCA1 or BRCA2 mutation. New England Journal of Medicine 2001; 345(4):235–240.
 
8.      Vieira EM, Badiani R, Fabbro ALD, et al. Características do uso de métodos anticoncepcionais no Estado de São Paulo. Revista de Saúde Pública 2002, 36(3).