Mortalidade por câncer de ovário

C__ncer_Ov__rio.jpgAs taxas de morte por câncer de ovário no Brasil continuam em elevação, em contraste com as taxas globais registradas entre 2002 e 2012. É o que mostra estudo publicado no Annals of Oncology, que aponta a tendência de queda nos Estados Unidos, União Europeia e, em menor grau, no Japão, resultado que segundo os pesquisadores é associado ao uso de contraceptivos orais. Maria Del Pilar Estevez Diz, coordenadora da Oncologia Clínica do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) e membro do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (GBTG/EVA), comenta para o Onconews.

O estudo é liderado por Carlo La Vecchia, da Faculdade de Medicina da Universidade de Milão, Itália, e usou dados da Organização Mundial de Saúde desde 1970 para acompanhar o panorama da doença. Os resultados mostram que nos 28 países da União Europeia (menos Chipre, devido à indisponibilidade de dados) as taxas de mortalidade por câncer de ovário diminuíram 10% entre 2002 e 2012, variando de 5,76 para 5,19 por 100.000 mulheres.
 
Nos EUA, o declínio nas taxas de mortalidade pela doença foi ainda maior, com queda de 16%, passando de 5,76 por 100.000 em 2002 para 4,85 por 100.000 em 2012. No Canadá, durante o mesmo período as taxas diminuíram em cerca de 8%, de 5,42 para 4,95. Na Austrália as mortes por câncer de ovário caíram quase 12% de 2002 a 2011, (de 4,84 para 4,27), enquanto na Nova Zelândia a queda foi de 12%, de 5,61 para 4,93 por 100.000 mulheres. No Japão, que teve uma das menores taxas mundiais, a mortalidade caiu 2%, de 3,3 para 3,28 por 100.000 mulheres.
 
Entre os países europeus, a redução nas taxas de morte por câncer de ovário variou de 0,6% na Hungria para mais de 28% na Estônia, enquanto a Bulgária foi o único país europeu a mostrar um aumento aparente. No Reino Unido, a queda foi de 22%, de 7,5 para 5,9 por 100.000 mulheres, assim como foi expressiva na Áustria (18%), Dinamarca (24%) e Suécia (24%).
 
Na América Latina, Argentina, Chile e Uruguai apresentaram queda na mortalidade por câncer de ovário entre 2002 e 2012, mas segundo a pesquisa Brasil, Colômbia, Cuba, México e Venezuela mostraram aumento nas taxas de morte.
 
“Na Europa, ainda existem diferenças notáveis ​​entre países como a Grã-Bretanha, Suécia e Dinamarca, onde as mulheres começaram a tomar contraceptivos orais mais cedo, a partir da década de 1960, e países como Espanha, Itália e Grécia, onde o uso de contraceptivos orais começou muito mais tarde e foi menos generalizado”, explicou o pesquisador.
 
Este padrão misto também ajuda a explicar a diferença na redução do número de mortes por câncer de ovário entre União Europeia, EUA e Japão, por exemplo. Para a epidemiologista Eva Negri, do Istituto di Ricerche Farmacologiche Mario Negri, em Milão, o uso de reposição hormonal para gerir sintomas da menopausa vem caindo desde 2002, mas até então era maior em países como Alemanha, Reino Unido e EUA.
 
“É um aspecto que também pode ajudar a explicar a queda nas taxas de mortalidade por câncer de ovário entre mulheres de meia-idade nesses países", observou.
 
Para os autores, as conclusões do estudo mostram como o uso de tratamentos hormonais tem impacto sobre a mortalidade por câncer de ovário e podem orientar futuras estratégias de prevenção.
 
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Referência: Global trends and predictions in ovarian cancer mortality - M. Malvezzi et al - Ann Oncol (2016)  First published online: September 5, 2016 - doi: 10.1093/annonc/mdw306