GeparSepto: nab-paclitaxel aumenta taxa de resposta completa no câncer de mama inicial

Mama_News_1_OK.jpgO estudo GeparSepto (German Breast Group - GBG69), liderado por Gunter von Minckwitz, demonstrou que a substituição do paclitaxel por nab-paclitaxel, seguido por epirrubicina e ciclofosfamida neoadjuvante, conferiu uma taxa de resposta patológica completa de 38% em pacientes com câncer de mama invasivo primário. Os resultados foram publicados na edição online do dia 8 de fevereiro do Lancet Oncology. “Ainda não podemos considerar este estudo para um mudança na prática clínica, pois não temos dados para comprovar se o aumento na resposta patológica completa (pCR) vai impactar em sobrevida”, analisa a oncologista Maíra Tavares, da clínica AMO, em Salvador, Bahia.

O valor dos ensaios clínicos no cenário neoadjuvante tem sido demonstrado nas últimas décadas. Ensaios neoadjuvantes focam em endpoints intermediários (por exemplo, resposta patológica completa [pCR]), que se correlacionam com os endpoints finais de sobrevida livre de eventos e sobrevida global. A ligação entre a pCR e os benefícios clínicos a longo prazo foi suportada por uma análise conjunta, com o maior valor prognóstico observado em subtipos de tumores agressivos.
 
No câncer de mama metastático, nab-paclitaxel tem demonstrado aumentar significativamente a sobrevida livre de progressão em comparação com paclitaxel. O Geparsepto buscou avaliar se nab-paclitaxel semanal também poderia aumentar a proporção de pacientes com câncer de mama inicial com resposta patológica completa em comparação com o uso semanal de paclitaxel numa base de solvente, ambos seguidos de epirrubicina e ciclofosfamida como tratamento neoadjuvante.
 
Métodos
 
Em um estudo randomizado de fase 3 foram incluídas pacientes com câncer de mama inicial invasivo unilateral ou bilateral, sem tratamento prévio, randomizadas em uma proporção de 1: 1 para receber nab-paclitaxel ou paclitaxel numa base solvente.
 
Entre 30 de Julho de 2012 e 23 de dezembro de 2013, foram distribuídas aleatoriamente 1229 mulheres, 606 para o braço tratado com nab-paclitaxel e 600 para o grupo tratado com paclitaxel à base de solvente.
 
As participantes foram tratadas durante 12 semanas com nab-paclitaxel 150 mg/m2intravenoso (após alteração no estudo, 125 mg/m2) nos dias 1, 8, e 15 por quatro ciclos de 3 semanas, ou paclitaxel à base de solvente 80 mg/m2 por via intravenosa nos dias 1, 8, e 15 por quatro ciclos de 3 semanas.
 
O tratamento com taxano foi seguido em ambos os grupos por epirrubicina intravenosa 90 mg/m2 mais ciclofosfamida intravenosa 600 mg/m2 no dia 1 durante quatro ciclos de 21 dias, além de doses concomitantes de trastuzumab e pertuzumab em casos de tumores HER2 positivos, administrados no dia 1 de cada ciclo de 3 semanas.
 
O estudo definiu critérios de bioestatística para avaliar a não-inferioridade entre os dois compostos. A segurança foi avaliada em todos os pacientes que receberam o fármaco do estudo.
 
Resultados
 
Os resultados mostraram que a taxa de resposta patológica completa foi de 38% (233 pacientes [38%, 95% CI 35-42])no grupo de nab-paclitaxel em comparação com 29% (95% CI: 25-33) no grupo de paclitaxel (174 pacientes [29%, 25-33], OR 1·53, 95% CI 1·20-1·95; não ajustada p=0·00065).
 
A incidência de anemia de graus 3-4 (13 de 605 pacientes [2%] no grupo de nab-paclitaxel contra quatro pacientes [1%] no grupo de paclitaxel; p=0·048) e neuropatia periférica graus 3-4 (63 pacientes [10%] que receberam qualquer dose de nab-paclitaxel; 31 pacientes[8%] que começaram com 125 mg/m2 e 32 pacientes [15%] que começaram com 150 mg/m2; vs 16 pacientes [3%] no grupo de paclitaxel, p <0·001) foi significativamente mais elevada para nab-paclitaxel do que para o paclitaxel à base de solvente. No geral, observou-se que 283 pacientes (23%) tiveram pelo menos um evento adverso grave (baseado na droga recebida no estudo), 156 (26%) no grupo de nab-paclitaxel e 127 (21%) no grupo de paclitaxel (p=0·057).
 
Houve três mortes (durante o tratamento com epirrubicina mais ciclofosfamida) no grupo nab-paclitaxel (devido à sepse, diarreia e acidente não relacionado ao estudo) versus uma no grupo de paclitaxel à base de solvente (durante o tratamento com paclitaxel; insuficiência cardíaca).
 
O estudo concluiu que substituir paclitaxel à base de solvente por nab-paclitaxel aumentou significativamente a proporção de pacientes que atingiram uma taxa de resposta patológica completa após a quimioterapia baseada em antraciclina. “Estes resultados podem levar à troca de paclitaxel à base de solvente por nab-paclitaxel na terapia para o câncer de mama primário”, afirmaram os autores.

O estudo foi financiado pela Celgene, Roche e está registrado como ClinicalTrials.gov, número NCT01583426.

Referência: DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S1470-2045(15)00542-2
 
Referência
Untch M, Jackisch C, Schneeweiss A, et al. Nab-paclitaxel versus solvent-basedpaclitaxel in neoadjuvantchemotherapy for earlybreastcancer (GeparSepto—GBG 69): a randomised, phase 3 trial [published online aheadofprintFebruary 8, 2016]. Lancet Oncol. doi: 10.1016/S1470-2045(15)00542-2.