Câncer e obesidade: sinal de alerta

PG3_OBSERVAT__RIO_PIC1_NET_OK.jpgA obesidade está associada a pelo menos 20 diferentes tipos de câncer, e indica pior prognóstico em pacientes de câncer sob tratamento.

Durante as últimas décadas, o número de adultos e crianças obesos e com sobrepeso aumentou significativamente. Os dados do IBGE revelam que 38,8 milhões de brasileiros acima de 20 anos estão com excesso de peso, o equivalente a 40,6% da população, o que demonstra uma verdadeira epidemia de obesidade.

O panorama epidemiológico global também apresenta dados alarmantes e mostra que além de doenças cardiovasculares e metabólicas, o excesso de peso tem uma estreita associação com pelo menos 20 diferentes tipos de câncer. Estudos clínicos e epidemiológicos têm sugerido que a obesidade e o excesso de peso estão relacionados com o risco de câncer de vesícula biliar, tumores colorretais, de pâncreas, esôfago e fígado, além do câncer de próstata de alto grau, endométrio e do câncer de mama após a menopausa, só para citar alguns.

A obesidade também indica pior prognóstico em pacientes de câncer sob tratamento. A ASCO deste ano apresentou o estudo da Universidade de Oxford, que investigou mulheres na pré-menopausa com câncer de mama e mostrou que a obesidade esteve associada a um risco de morte 34% maior entre as pacientes com receptor de estrogênio positivo. (Resumo 503).

Estudo recente que envolveu um grupo de pacientes tratados para câncer colorretal mostrou que entre aqueles com ingestão de elevadas cargas glicêmicas a taxa de morte foi duas vezes maior.A obesidade ainda pode estar associada à redução da sensibilidade às terapias anti-angiogênicas.

No câncer de próstata, o alerta se repete. Estudo liderado pelo urologista Stephen Freedland demonstrou que pacientes obesos tratados por prostatectomia radical são mais propensos a apresentar recorrência da doença. Dois outros estudos estenderam estes resultados a mais de 5 mil pacientes e fortalecem evidências de que os homens obesos são mais propensos a ter câncer de próstata agressivo.

Em resumo, acomunidade científica já deu o alerta: a obesidade se aproxima rapidamente do tabaco como a principal causa evitável de câncer e também está associada ao maior risco de recorrência e de mortalidade específica por câncer, o que demonstra que medidas de prevenção e controle têm papel cada vez mais importante.

Opinião de Especialista

Gestão de peso é fundamental para o paciente oncológico

PG3_Especialist_ALFREDO_PIC2_NET_OK.jpg“Se obesidade está associada ao câncer, tratar da obesidade melhora o prognóstico do câncer? Essa é a grande pergunta e tudo indica que sim”

Um dos maiores especialistas brasileiros em obesidade, o endocrinologista Alfredo Halpern diz que o paciente oncológico deve receber recomendações nutricionais e em especial aqueles em tratamento endócrino ou em hormonioterapia devem ser fortemente encorajados a evitar o excesso de peso.

“Se obesidade está associada ao câncer, tratar da obesidade melhora o prognóstico do câncer? Essa é a grande pergunta e tudo indica que sim”, reforça o especialista. “Uma pessoa com excesso de peso tem células precursoras de gordura circulantes, que vão se alojar na região do tumor e aumentar a gordura anexa a ele, alimentá-lo e interferir na tumorigênese. É uma hipótese que acho bastante plausível”, diz. “Outro fator associado é a hiperinsulinemia, que talvez seja o mais importante, mas não é o único. Existe o papel do hormônio de crescimento, da leptina e até de fatores inflamatórios que podem predispor ao câncer”, ilustra Halpern, em um indício da complexa biologia da obesidade. “O obeso é um indivíduo doente e se um paciente de câncer tem esse perfil, evidentemente a atenção é maior. A participação de um endocrinologista na equipe multidisciplinar é fundamental e o uso de remédios não deve ser descartado”, ensina.

O índice de massa corporal (IMC) continua como parâmetro e indica que indivíduos com IMC entre 18 e 25 estão na faixa adequada, entre 25 e 30 estão com sobrepeso e um IMC acima de 30kg/m2revela a presença de obesidade.

A medida de circunferência da cintura e o percentual de gordura visceral também são indicadores importantes. “As células de gordura visceral possuem taxas mais altas de lipólise que as células de gordura subcutânea, resultando em maior produção de ácidos graxos livres, por sua vez associados a maior resistência à insulina e, consequentemente, à síndrome metabólica”, lembra o especialista.

Vale a recomendação de que para cada quilo de peso perdido, há uma redução de um centímetro na circunferência abdominal.