Redução do volume de radiação no câncer de mama inicial após cirurgia conservadora

Ferrigno 2 NET OK 2O estudo “UK IMPORT LOW” é o primeiro ensaio clínico randomizado publicado sobre radioterapia parcial da mama que utilizou o mesmo esquema de fracionamento utilizado em toda a mama, no caso o esquema hipofracionado inglês do estudo START B (40 Gy em 15 frações de 2,67 Gy).

Por Robson Ferrigno*

Esse fracionamento é considerado padrão atualmente no Reino Unido. Portanto, trata-se de um estudo de redução de volume de radiação. Todos os estudos anteriores sobre radioterapia parcial da mama utilizaram doses mais hipofracionadas do que as utilizadas em toda a mama. Para radioterapia intra-operatória os estudos utilizaram dose única de 21 Gy e, para braquiterapia intersticial, braquiterapia com balão (“mammosite”) ou radioterapia conformada, os estudos utilizaram dose total liberada em cinco dias consecutivos duas vezes ao dia (10 frações de em torno de 3,4 Gy).

O que chama a atenção no estudo em questão foi a utilização de técnica simples de radioterapia, realizada através de campos tangentes com homogeneização de dose com subcampos (técnica conformada). Essa técnica é reprodutível na maioria dos serviços de radioterapia, inclusive no Brasil. Nas outras técnicas de radioterapia parcial da mama, tais como, intraoperatória ou braquiterapia, há necessidade de instalação de estrutura de alto custo. Nesse sentido, o estudo é muito interessante para a prática de radioterapia no Brasil para pacientes em estádios iniciais após tratamento conservador. A recidiva local nos grupos experimentais, inclusive no que utilizou radioterapia parcial da mama, foi muito baixa em cinco anos. A projeção para 10 anos pode chegar ao redor de 3%, índice ainda considerado baixo. É prudente esperar mais tempo de seguimento para que essa prática seja adotada de rotina no Brasil.

A grande vantagem da conclusão desse estudo é a possibilidade de utilizarmos em nosso meio a radioterapia apenas no quadrante acometido e não em toda a mama. Com isso há um potencial de diminuição de toxicidade, principalmente na mama, em pulmões e, do lado esquerdo, no coração. Isso torna a radioterapia da mama mais segura.

No estudo IMPORT LOW, a maioria das pacientes não possuía linfonodos comprometidos embora os critérios de inclusão permitiram pacientes com até três linfonodos comprometidos. Os autores reconhecem que não há segurança em afirmar que essa estratégia já possa ser adotada para pacientes N+.

Se confirmados os achados com seguimento mais longo, esse novo padrão de radioterapia adjuvante em câncer de mama após tratamento conservador poderá ser adotado em mulheres a partir de 50 anos, com tumor até 3 cm, axila negativa, margens livres e perfis moleculares luminal A e B. Isso trará mais segurança e menos toxicidade para essas pacientes e com tratamento realizada em 15 dias úteis e sem necessidade de complementação de dose (boost).

* Robson Ferrigno é coordenador dos Serviços de Radioterapia do Hospital BP e BP Mirante/Oncoclínicas

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