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AtualizadoTer, 16 Abr 2024 2am

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Interações entre medicamentos e plantas medicinais

ANNEMERI NET OKAnnemeri Livinalli (foto), farmacêutica e diretora de comunicação da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (SOBRAFO), discute estudo publicado no Journal of Oncology Practice que avaliou a interação entre medicamentos e plantas medicinais.

Por Annemeri Livinalli*

Os benefícios de algumas plantas são inquestionáveis e perduram historicamente, de geração em geração, porém, pelo fato de serem plantas, não estão isentas de efeitos indesejáveis, e pior, podem ocorrer interações entre elas e alguns medicamentos alopáticos. Por essa razão, no tratamento do câncer há apreensão no seu emprego.

Embora não tenhamos informações científicas suficientes sobre todas as plantas medicinais e as interações que podem ocorrer com medicamentos, em especial com os antineoplásicos, a ciência vem avançando, e hoje já é possível encontrar bases de dados para consultar tais interações (vide exemplo no fim do texto), bem como ensaios clínicos e revisões sistemáticas sobre o assunto.

Essa semana mais um texto foi adicionado a esse rol de artigos científicos, publicado em uma revista de relevância na oncologia: Journal of Oncology Practice. Pesquisadores de Costa Rica conduziram estudo prospectivo em que identificaram mais de 50% dos pacientes utilizando suplemento de ervas com 122 potenciais interações medicamento/erva.

Resultado semelhante foi identificado na revisão sistemática de Alsanad e col. (2014). Os pesquisadores analisaram 5 publicações que totalizou 806 pacientes com câncer, dos quais 433 relataram utilizar suplementos (alimentar ou de ervas). Na análise de interação medicamento/suplementos foi identificada 167 potenciais interações ocorrendo com 60 pacientes, envolvendo 32 diferentes suplementos, sendo os mais frequentes: alho, chá verde, visco, chá de erva chinesa, ferro, erva de São João, gengibre e ginseng. Os principais antineoplásicos interagindo com os suplementos utilizados pelos pacientes foram: ciclofosfamida, irinotecano, vinorelbina e paclitaxel.

Embora muitos pacientes estejam utilizando os chamados “tratamentos alternativos” ou complementar em combinação com o tratamento convencional, em um estudo americano verificou-se que mais de 70% dos pacientes não relatavam o uso para seus médicos.

A preocupação a respeito das interações entre medicamentos e plantas medicinais tem aumentado substancialmente com base nesse tipo de publicação pois em se tratando de antineoplásicos, o que menos se deseja são interações indesejáveis (de qualquer origem), visto que são medicamentos com estreito índice terapêutico e a maioria das interações com plantas medicinais alteram metabolismo, interferem na absorção, entre outros efeitos indesejáveis e de risco para o paciente.

Mas afinal, o que são plantas medicinais?

Fitoterápico é o produto (medicamento) obtido de planta medicinal ou de seus derivados com finalidade profilática, curativa ou paliativa, assim definido pelo Ministério da Saúde/ANVISA. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como há reprodutibilidade e constância de sua qualidade validadas na produção. Os remédios caseiros de origem vegetal são preparações caseiras com plantas medicinais, de uso extemporâneo, que não exigem técnicas especializadas para manipulação e administração. A planta medicinal é uma espécie vegetal utilizada com propósitos terapêuticos, que pode tanto ser utilizada como fitoterápico, quanto remédio caseiro.

Devemos perguntar a nossos pacientes se utilizam fitoterápicos, remédios caseiros e/ou suplementos

Há pouco mais de 10 anos iniciou-se no Brasil a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, algo que resultou no Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS). Na RENISUS constam aproximadamente 70 espécies vegetais que apresentam potencial para gerar produtos de interesse ao SUS e assim orientar estudos e pesquisas que possam subsidiar a elaboração de elenco de plantas e fitoterápicos a serem disponibilizados para uso da população com segurança e eficácia. Foi daí que surgiu a incorporação de 12 fitoterápicos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME).

Na RENAME, publicada em 2014, constam 12 fitoterápicos que são distribuídos pelo SUS nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), financiados com recurso tripartide. São eles:

 alcachofra

 aroeira

 babosa

 cáscara sagrada

 espinheira santa

 garra-do-diabo

 guaco

 hortelã

 isoflavona de soja

 plantago

 salgueiro

 unha-de-gato

A razão de apresentar essas informações aqui é chamar sua atenção para a importância de perguntarmos aos pacientes se estão utilizando fitoterápicos, remédios caseiros e/ou suplemento, pois acesso eles têm, seja na UBS, farmácias ou em feiras. A biodiversidade brasileira oportuniza esse fácil acesso.

Então, se temos a evidência científica de interação e uso pelos pacientes, e sabemos que esses produtos estão fartamente disponíveis em nosso país, por que falamos tão pouco sobre isso com o paciente? Por que se dá tão pouca importância a algo que pode comprometer a eficácia da quimioterapia ou causar efeitos adversos mais graves do que o comum?

Temos que aprender mais sobre esses produtos, conversar com os pacientes, orientá-los a respeito dos riscos, em especial das interações medicamentosas já conhecidas. Não sou a favor da interrupção abrupta de qualquer produto que o paciente esteja usando, sem que haja uma razão ou comprovação para suspender, apenas entendo que se faz necessário incluir em nossas consultas perguntas sobre o que está em uso, tanto por parte dos médicos, quanto dos demais profissionais, em especial farmacêuticos e enfermeiros. Evidência para nos preocuparmos já existe, nos resta incorporar essa preocupação em nossas práticas.

*Annemeri Livinalli (foto), farmacêutica e diretora de comunicação da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (SOBRAFO).

Base de dados Medscape para verificar interação medicamento/erva: http://reference.medscape.com/drug-interactionchecker

Leia mais: Interações entre medicamentos e medicamentos e plantas medicinais em pacientes com câncer 

 

Bibliografia

Alsanad SM, Williamson EM, Howard RL. Cancer Patients at Risk of Herb/Food Supplement–Drug Interactions: A Systematic Review. Phytother Res 2017; 28: 1749–1755.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Política e Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.

______Portal da Sáude: Plantas de Interesse ao SUS. http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/leia-mais-o-ministerio/465-sctie-raiz/daf-raiz/ceaf-sctie/fitoterapicos-cgafb/l1-fitoterapicos/12552-plantas-de-interesse-ao-sus

______ Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais : RENAME 2014 / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. – 9. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2015.

Esquivel AR, Jaikel AV, Fernández C. Potential Drug-Drug and Herb-Drug Interactions in Patients With Cancer: A Prospective Study of Medication Surveillance. J Oncol Pract 2017; 13(7):e613-622.

National Center for Complementary and Integrative Health. Herb-Drug interactions. https://nccih.nih.gov/health/providers/digest/herb-drug

Sparreboom A, Cox MC, Acharya MR et al. Herbal remedies in the United

States: potential adverse interactions with anticancer agents. J Clin Oncol

2004;22:2489–2503

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