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AtualizadoQui, 18 Abr 2024 6pm

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Farmacovigilância em oncologia: o que mais precisamos aprender?

ANNEMERI_NET_OK.jpgAnnemeri Livinalli (foto), farmacêutica e diretora de comunicação da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (SOBRAFO), discute a importância da farmacovigilância em tempos de produtos biológicos e terapias-alvo no tratamento do câncer.

Por Annemeri Livinalli*

Há uma grande discussão mundial atualmente a respeito dos produtos biológicos, em especial sobre os anticorpos monoclonais (MABs) e suas mais variadas indicações. Entre questões polêmicas, como nomenclatura e intercambialidade, muito se tem falado a respeito da farmacovigilância, o que nos remete à seguinte questão: há necessidade de uma atenção maior aos MABs do que a qualquer outro medicamento novo sintético?
Uma vez que o princípio da farmacovigilância é único, os riscos inerentes aos medicamentos não deveriam depender da complexidade da manufatura, como no caso dos produtos biológicos.

Anticorpos monoclonais são sim mais complexos que os tradicionais medicamentos sintéticos que durante décadas foram majoritários no tratamento de diversas doenças, incluindo o câncer. Agregado à complexidade da produção, tais medicamentos têm demonstrado uma variedade de efeitos adversos que nada se assemelham à já conhecida quimioterapia. Seria essa então a justificativa para tanto incentivo à farmacovigilância?

O incentivo à farmacovigilância é sim essencial, pois é a principal forma de medir o tipo e a frequência de eventos adversos que ocorrem fora de um ensaio controlado, modelo que até então se julgava ter absoluto controle sobre todo e qualquer evento durante o período de estudo. Porém, uma revisão sistemática conduzida por pesquisadores italianos apresentada no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (ESMO) chamou a atenção para os relatórios de segurança em ensaios clínicos com terapia alvo e imunoterapia e mostra que talvez não ocorra esse grau de controle.

Na revisão que incluiu 81 ensaios clínicos conduzidos de 2000 a 2015 envolvendo mais de 45.000 pacientes com tumores sólidos, os autores utilizaram o guia Consolidated Standards of Reporting Trials(CONSORT) para analisar as informações. Os dados demonstraram que um número significativo de ensaios clínicos envolvendo terapia alvo e imunoterapia tem relatórios de eventos adversos abaixo do padrão, classificados pelos autores como “subótimo”, principalmente a respeito das toxicidades tardias e a duração do evento.

Somado a tudo o que já sabemos sobre a importância da farmacovigilância, os autores concluem: “há necessidade de melhorar a coleta e os relatórios dos eventos adversos, tanto na pesquisa clínica quanto nas análises de segurança pós-marketing”.

É no pós-marketing que entra nosso importante papel de observador e notificador. Portanto, sim, é necessário repensar a farmacovigilância em tempos de produtos biológicos e terapia alvo no tratamento do câncer. É tempo de conscientizar médicos, enfermeiros e farmacêuticos entre outros, a respeito de segurança a curto e a longo prazo. A cada novo medicamento registrado e comercializado para o tratamento do câncer aqui no Brasil, cabe uma vigilância severa por no mínimo 5 anos de vida do produto.

Reiterando a importância do assunto, o New England Journal of Medicine, publicou no dia 03 de novembro de 2016 dois relatos de miocardite fulminante resultante do uso de dois novos medicamentos em combinação: ipilimumabe e nivolumabe. Embora raro, tal achado só foi possível graças à farmacovigilância.

A Food and Drug Administration, por meio de sua lista periódica de medicamentos com potenciais sinais de risco grave ou nova informação de segurança divulgou em outubro de 2016 a lista referente ao período de abril a junho de 2016 onde constam 27 medicamentos, dos quais alguns são utilizados no tratamento ou suporte do câncer. Na lista referente consta: tbo-filgrastina, bendamustina, e idelalisibe, os três aguardam se haverá necessidade de ação regulatória. Nenhum deles está registrado no Brasil.

Os destaques recentes da importância da farmacovigilância também pautaram editorial de uma das mais importantes revistas científicas, The Lancet Oncology (Cancer drug safety: time to re-focus on tackling adverse effects; vol.17, novembro de 2016), em edição que reforçou o tema com mais três textos na série denominada “Drug Safety”.
Se é para relembrar, reforçar ou reaprender, então vale mencionar trecho do editorial: “é fundamental garantir que a segurança do medicamento seja monitorada e desenvolvida em todos os níveis do ciclo de vida do produto – da pesquisa à fabricação, distribuição, regulação e política.”

O monitoramento e a vigilância são de responsabilidade de todos e é o melhor caminho para garantir que os medicamentos sirvam mais para curar do que para causar danos.
 
*Annemeri Livinali é Farmacêutica mestre em Ciências Farmacêuticas, especialista em Farmacologia Clínica, diretora de Comunicação da Sociedade Brasileira de Farmacêuticos em Oncologia (Sobrafo), membro da International Society of Oncology Pharmacy Practitioners (ISOPP), revisora ad hoc do Journal of Oncology Pharmacy Practice (JOPP) e da Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (RBFHSS).
 
Referências:

BossiP et al. Systematic review of adverse events reporting in clinical trials leading to approval of targeted therapy and immunotherapy. Annals of Oncology 2016; 27 (Sup 6): 100–102, abst 320.


Johnson DB et al. Fulminant Myocarditis with Combination Immune Checkpoint Blockade. N Engl J Med 2016; 375:1749-1755.

FOOD AND DRUG ADMINISTRATION. Potential Signals of Serious Risks/New Safety Information Identified by the FDA Adverse Event Reporting System (FAERS) April - June 2016. Acesso em 10 nov 2016. Disponível em http://www.fda.gov/Drugs/GuidanceComplianceRegulatoryInformation/Surveillance/AdverseDrugEffects/ucm523358.htm

Cancer drug safety: time to re-focus on tackling adverse effects [editorial]. Lancet Oncol 2016; 17(11):1463.
 
 
 
 
 

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