Onconews - Disfunção miocárdica em sobreviventes de câncer de mama precoce

    Especiais Congressos

      Transplante autólogo não mostra benefício no linfoma de células do manto em primeira remissão completa com doença residual mínima indetectável

      Análise provisória do estudo randomizado de Fase 3 ECOG-ACRIN EA4151 (LBA 6) mostrou que em uma era de regimes de indução e manutenção altamente eficazes, pacientes com linfoma de células do manto na primeira remissão completa e doença residual mínima indetectável não se beneficiaram do...

      PICCOLO: mirvetuximabe soravtansina mostra resultados no câncer de ovário recorrente sensível à platina FRα-alto

      Mirvetuximabe soravtansina demonstrou atividade antitumoral clinicamente significativa e tolerabilidade favorável em pacientes com câncer de ovário recorrente sensível à platina com alta expressão do receptor alfa de folato (FRα). Os resultados são do estudo PICCOLO, apresentado em sessão...

      Entendendo o RNA de interferência (RNAi) e sua regulação da expressão gênica

      Em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista Andre Murad (foto) explica o que é o RNA de interferência (RNAi), um conjunto de pequenas moléculas de RNAs complementares a RNAs mensageiros (mRNA's) que inibe e regula a expressão gênica na fase de tradução. Confira.

      TV Onconews

       
      O oncologista Antonio Carlos Buzaid, diretor médico geral do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, faz, em vídeo, uma revisão de importantes estudos sobre câncer de mama apresentados nos congressos do ASCO, ESMO Breast e ESMO, em 2024. “Temos uma série de dados importantes do trastuzumabe deruxtecana (T-DXd); de qualidade de vida, de eficácia no...
       
      Os oncologistas Martha Tatiane Mesquita dos Santos, da Rede D’Or em Brasília, e Victor Braga Gondim Teixeira, do Américas Oncologia do Rio de Janeiro, discutem em vídeo a adição de Osimertinibe à quimioterapia como tratamento do câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) para pacientes com mutação do EGFR. Entre os estudos discutidos está a análise post-hoc apresentada na...
       
      O que muda com a aprovação da Lei 14 874 sancionado este ano, depois de longo período de tramitação? “É muito importante juntar forças para, de fato, mudar o ambiente de pesquisa”, destaca Renato Porto, Presidente-executivo da Interfarma, que ao lado do oncologista Fabio FranKe, diretor da Aliança Pesquisa Clínica Brasil, analisa a nova lei, publicada 29 de maio no Diário Oficial...
       
      A crioablação se mostra como alternativa às cirurgias de câncer de mama em estágio inicial. A taxa de sucesso é de 100% para tumores menores que um centímetro, como indicam os resultados do FIRST (FreezIng bReaST câncer in Brazil), ensaio clínico multicêntrico com participação da Universidade Federal de São Paulo, do HCor e do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.    
       
      Adeylson Guimarães, diretor adjunto da Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP), analisa dados atualizados sobre o câncer de cabeça e pescoço, com informações epidemiológicas extraídas dos 79 Registros Hospitalares de Câncer (RHCs) do Estado, compreendendo 42 544 casos diagnosticados de 2000 a 2020. Assista na TV Onconews, com participação da epidemiologista Marcela Fagundes.
       
      Apresentado em Sessão Plenária no ASCO 2024 e publicado simultaneamente na New England Journal of Medicine (NEJM), o estudo de Fase 3 LAURA demonstrou que osimertinibe melhorou significativamente a sobrevida livre de progressão (SLP) de pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) com mutação de EGFR em estágio III, irressecável, tratados com...
       
      O oncologista Fabian Trillsch, vice-diretor na LMU Klinikum, em Munique, apresentou no ESMO Gynaecological Cancers Congress 2024 os resultados do estudo DUO-O, demonstrando benefício clínico e estatisticamente significativo de sobrevida livre de progressão do tratamento com durvalumabe + bevacizumabe + quimioterapia seguido de durvalumabe + bevacizumabe + olaparibe de manutenção em...
       
      Selecionado para apresentação em Sessão Plenária no ASCO 2024, o estudo de Fase 3 ADRIATIC prolongou a sobrevida global e a sobrevida livre de progressão em pacientes com câncer de pulmão de células pequenas em estágio limitado tratados com durvalumabe como terapia de consolidação após quimiorradioterapia. O oncologista David Spigel, principal autor do estudo, comenta os...
       
      A relação entre microbioma, dieta e câncer colorretal é tema de videoaula do microbiologista Alessandro Silveira, pós-doutor em Farmácia (UFSC) e Microbiologia (USP), pesquisador do Departamento de Microbiologia do ICB-USP e membro da equipe do Instituto Assaly. O assunto foi pauta da TV Onconews, com participação da nutróloga Vânia Assaly, Diretora do Instituto Assaly e Presidente...
       
      “A metabolômica tem sido utilizada na pesquisa e na prática clínica para estudar a interação metabólica entre o câncer e o hospedeiro, identificar marcadores de diagnóstico e monitoramento, e entender melhor a doença para aprimorar os tratamentos”, explica Graziela Ravacci, doutora em oncologia e metabolômica pela FMUSP. A especialista é convidada da TV ONCONEWS, em vídeo com...

          Urologista brasileiro assina publicação internacional dedicada à cirurgia robótica

          O urologista Stênio de Cássio Zequi (foto), líder do Centro de Referência em Tumores Urológicos do AC Camargo Cancer Center, é coeditor da mais recente publicação da Elsevier em cirurgia robótica, com participação do engenheiro biomédico Hongliang Ren. O Handbookof Robotica Surgery é dedicado a...

          ESTUDOS CLÍNICOS

          carolina cardio bxEstudo publicado no European Journal of Heart Failure buscou determinar a prevalência e os fatores de risco para disfunção miocárdica em uma grande coorte de sobreviventes de câncer de mama em idade precoce (40-50 anos) tratadas com quimioterapia com e sem antraciclinas. A cardiologista Carolina Carvalho Silva (foto), cardio-oncologista da Rede D’Or e conselheira da International Cardio-Oncology Society (ICOS), analisa o trabalho.

          As antraciclinas sabidamente aumentam o risco de insuficiência cardíaca (IC) a curto e longo prazo. De forma semelhante, já é bem estabelecido o conceito de que as chances de reversibilidade do dano cardíaco são proporcionais `a precocidade do diagnóstico e rapidez na instituição do tratamento para IC. Embora muito têm sido discutido quanto `as estratégias para detecção precoce da cardiotoxiciade peri-QT, pouco se conhece sobre a prevalência e diagnóstico da cardiotoxicidade tardia em sobreviventes de câncer de mama, especialmente entre mulheres tratadas em idade jovem. Desta forma, o presente estudo objetivou avaliar a prevalência e fatores de risco associados a cardiotoxicidade em uma grande coorte de mulheres jovens tratadas com quimioterapia com e sem antraciclinas.

          Judy N. Jacobse et al conduziram uma análise transversal (cross-sectional) de 569 sobreviventes de câncer de mama invasivo (TNM estadio I-III) ou carcinoma ductal in situ em seguimento em 2 diferentes hospitais holandeses por tempo médio pós tratamento de 5–7 anos (n = 277) ou 10–12 anos (n = 292). A avaliação de cardiotoxicidade foi realizada pela análise da fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), strain longitudinal global (GLS) e fração N-terminal do peptídeo natriurético tipo B  (NT-pro BNP), sendo definido o diagnóstico de cardiotoxicidade na presença de um dos seguintes: FEVE < 54%, GLS > -17% ou NT-proBNP > 125ng/L. As associações entre os fatores de risco relacionados ao paciente e ao tratamento e a disfunção miocárdica foram avaliadas por meio de regressão linear e logística.

          Resultados

          O tempo médio de seguimento das pacientes das coortes avaliadas foi de 6,8 anos (no grupo de 5–7 anos pós tratamento) e 11,6 anos (no grupo de 10–12 anos pós tratamento). Os esquemas mais utilizados foram o FEC (5-Fluoruracil, Epirrubicina e ciclofosfamida) e AC (Doxorrubicina e Ciclofosfamida), com dose cumulativa mediana de antraciclina de 240 mg/m2. A idade mediana na ocasião do estudo foi 55,5 anos, sendo que nenhuma das pacientes apresentava sinais / sintomas de IC na avaliação. Em geral, não houve diferenças entre os grupos com antraciclinas (n = 313) e sem (n = 256) com relação a prevalência de fatores de risco para doença cardiovascular, exceto por maior IMC, menores taxas de tabagismo e maior frequência de status pós menopausa no grupo antraciclinas.

          O estudo chamou a atenção para a elevada taxa de cardiotoxicidade encontrada: FEVE < 54%, GLS > -17% e NT-proBNP > 125 ng/L foram observados em 10%, 34% e 23% dos pacientes, respectivamente. Mais da metade das pacientes (54%) do estudo apresentava pelo menos 1 indicador de cardiotoxicidade.

          Comparando-se os grupos com e sem antraciclinas, foram observadas diferenças estatisticamente significativas em todos os marcadores de dano cardíaco utlizados: FEVE < 54% (10% vs. 4%), GLS reduzido (34% vs. 27%) e NT- proBNP elevado (23% vs. 8%), respectivamente. Ainda, o GLS e a FEVE apresentaram redução linear com o aumento da dose cumulativa de antraciclina (GLS:-0,23 e LVEF:−0,40 por ciclo de 60 mg/m2; P <0,001). De forma interessante, os valores de GLS apresentaram-se mais reduzidos em pacientes com irradiação da mama esquerda.  

          Os autores concluem: “Descobrimos que 5-12 anos após o tratamento com quimioterapia à base de antraciclina, uma proporção substancial de sobreviventes de câncer de mama em idade precoce mostrou sinais de disfunção miocárdica com base em medições de GLS e níveis de NT-proBNP, enquanto o número de mulheres com uma FEVE diminuída foi muito menor”..... “A avaliação longitudinal é essencial para determinar o valor prognóstico de strain e biomarcadores cardíacos no desenvolvimento de cardiotoxicidade e identificar sobreviventes de câncer de mama de alto risco que podem se beneficiar da vigilância cardíaca”.

          Discussão

          Por Carolina Carvalho Silva

          O estudo traz achados consisistentes com a literatura prévia e provocativos quanto a possibilidade de subdiagnóstico de cardiotoxicidade nos sobreviventes. De forma interessante, traz como inovações o possível papel do uso do GLS no cenário dos sobreviventes, bem como na detecção de toxicidade tardia por radioterapia. Sem dúvidas são achados com plausibilidade biológica e mecanística, no entanto, ainda insuficientes para definição incorporação na prática clínica.

          Globalmente, os resultados desta publicação devem ser interpretados com cautela, especialmente pela falta de avaliação cardiológica basal. Uma vez que as definições de cardiotoxicidade contemplam necessariamente uma comparação com medidas iniciais (determina-se a queda da FE ou do GSL em relação a medidas basais), o uso de valores isolados mostra-se inadequado e insuficiente para diagnóstico de dano cardíaco. Com relação ao uso do NT-proBNP, também faz-se necessária a interpretação dos dados com cautela, uma vez que dentre as ferramentas disponíveis, foi a menos estudada e validada para o diagnóstico de cardiotoxicidade, especialmente em cenários de aferição isolada e sem comparativo basal.

          Desta forma, não apenas a avaliação longitudinal, mas também a avaliação seriada e eventualmente a associação de métodos diagnósticos (especialmente no caso dos biomarcadores como troponina e BNP ou NT-proBNP) ainda são os métodos de escolha para ensaios clínicos de avaliação der cardiotoxicidade.

          Assim, o estudo apresenta consistência com a literatura prévia, além de trazer `a tona objetivamente a documentação do possível papel do GLS na detecção de toxicidade tardia por RT.

          Referência: Myocardial dysfunction in long‐term breast cancer survivors treated at ages 40–50 years – Judy N. Jacobse et al - https://doi.org/10.1002/ejhf.1610