Coberturas Especiais

Mieloma múltiplo: o que há de novo?

Durante a Hemo 2014, grandes especialistas brasileiros falaram sobre o tratamento atual e as perspectivas do mieloma múltiplo (MM), patologia que se caracteriza pela proliferação excessiva de plasmócitos malignos na medula óssea, o que compromete não apenas a própria medula, mas também afeta ossos e o funcionamento dos rins. 

Hoje, a expressão gênica permite identificar perfis moleculares, assim como modernos meios de imunofenotipagem são usados para refinar as estratégias de tratamento. A abordagem do MM também se beneficiou de novos métodos de imagem, como o PET scan, capaz de detectar lesões ósseas antes da ocorrência de fraturas.

Diante de tantas inovações, a sobrevida de pacientes com MM continua a melhorar. Entre as mudanças, a oncohematologista Vânia Hungria chamou a atenção para a importância do tratamento do paciente assintomático de alto risco, depois que as pesquisas do grupo espanhol demonstraram que o tratamento precoce foi capaz de retardar a progressão da doença.O estudo teve a participação de María Victoria Mateos e Jesus San Miguel, do Serviço de Hematologia do Hospital Universitário de Salamanca, e avaliou pacientes idosos, recém diagnosticados.

Em uma era de tratamentos tóxicos, como o esquema MP (melfalano e predinisona), a intervenção precoce não era padrão em pacientes assintomáticos, uma vez que o objetivo era atingir a resposta parcial. No entanto, a chegada de um novo arsenal reconfigurou a abordagem de mieloma múltiplo nesse perfil de pacientes e o grande objetivo passou a ser a resposta completa.

Entre os novos agentes estão os inibidores de proteassoma, como bortezomibe, consagrado pelo estudo VISTA, e, mais recentemente, carfilzomibe (Kyprolis®), a segunda geração de inibidores de proteassoma.

O carfilzomibe, da Amgen, recebeu aprovação do FDA em 2012, com base no estudo de braço único que envolveu 266 pacientes com mieloma múltiplo recorrente, previamente tratados com pelo menos duas linhas, incluindo bortezomibe e imunomodulatores (talidomida ou lenalidomida).

A taxa de resposta objetiva, definida como principal desfecho da investigação, foi de 22,9%, com mediana da duração de resposta de 7,8 meses.

O estudo ASPIRE foi outro a comparar o uso de carfilzomibe na combinação com revlimid e dexametasona versus revlimid e dexametasona e alcançou o desfecho primário de sobrevida livre de progressão, com mediana de 26,3 meses versus 17,6 meses (p <0,001).

Uma das maiores autoridades mundiais no tratamento da doença, Andrzej Jakubowiak, da Universidade de Chicago, participa de outro estudo que avalia a combinação de carfilzomibe, lenalidomida e dexametasona e apresentou na Hemo 2014 os resultados preliminares da investigação, também bastante encorajadores.

Ao lado da segunda geração de inibidores de proteassoma, o tratamento do mieloma múltiplo  vive avanços com novos imunomoduladores. Depois da lenalidomida, que mostrou resultados em pacientes refratários aos regimes com talidomida, agentes como a pomalidomida mostram papel importante na gestão da doença.

Outra novidade incorporada ao armamentário do MM é a bendamustina, um agente com duas funcionalidades, que reúne ao mesmo tempo as propriedades de um alquilante e de um análogo de purina, com vantagens na combinação com dexametasona em relação ao esquema MP (32% versus 13%, p=.007) com benefícios também no tempo até a progressão (14 meses para o braço da bendamustina em comparação com 10 meses no grupo MP).

“A escolha do melhor agente deve ser individualizada, levando em conta o planejamento terapêutico e, principalmente, o perfil de toxicidade adequado a cada paciente”, recomenda Vânia Hungria, uma das maiores autoridades brasileiras no assunto, que apresentou no Hemo 2014 diversos paines de atualização em mieloma múltiplo.