ASCO 2022

Ixa-Dara mostra resultados no mieloma múltiplo recidivado

MAIOLINO NET OKEstudo de Fase 2 avaliou a eficácia e tolerabilidade da combinação de Ixazomibe-Daratumumabe (Ixa-Dara) sem dexametasona em idosos frágeis com mieloma múltiplo recidivado (RRMM). Os resultados foram apresentados por Xavier Leleu, do grupo francês de pesquisa em mieloma, e mostram que em um seguimento mediano de 11,6 meses, a sobrevida livre de progressão mediana foi de 16 meses e a mediana de sobrevida global não foi alcançada (estimada em 76% em um ano). O oncohematologista Angelo Maiolino (foto) comenta os principais achados.

Pacientes frágeis com mieloma múltiplo têm um resultado inferior, especialmente no cenário da recidiva. Esse prognóstico adverso está relacionado principalmente a alta taxa de descontinuação do tratamento por eventos adversos.

Neste estudo, pacientes com RRMM virgens de Ixa-Dara receberam Ixazomibe oral (4 mg: dias 1, 8, 15), daratumumabe IV (16 mg/kg; dias 1, 8, 15, 22, ciclos 1-2; dias 1, 15, ciclos 3 -6; dias 1, ciclos 7+) e metilprednisolona IV antes de daratumumabe (100 mg no dia 1, 8, ciclo 1 e depois 60 mg). Foram inscritos pacientes expostos a 1 ou 2 terapias anteriores com IMWG≥ 2. O endpoint primário foi ≥ taxa de resposta parcial muito boa (VGPR) em um ano. Endpoints secundários incluíram ORR, sobrevida livre de progressão (SLP) e sobrevida global (SG), além de análise de toxicidade de acordo com NCI-CTCAE versão 5.

Resultados

Foram inscritos 55 pacientes entre 03/2018 e 09/2021. Os pacientes estavam na primeira (n = 36) ou na segunda recaída (n = 19), sendo 60% previamente expostos a bortezomibe, 67% tratados com lenalidomida (Len) anterior e 20 (36%) refratários a Len. A idade mediana foi de 82 (72-93) anos. Todos os pacientes apresentavam escore de fragilidade ≥2 e 13 (24%) tinham escore de fragilidade 3 ou 4. Em 41 pacientes, o ISS ao diagnóstico era estágio I (n = 11), II (n = 18) ou III (n = 12). Dezessete (36%) pacientes apresentavam citogenética de alto risco, incluindo t(4;14) (n = 8) ou del17p (n = 10).

A duração mediana do tratamento entre 28 pacientes em andamento foi de 10 meses no corte de dados (2 de fevereiro). A duração mediana entre os 27 pacientes que pararam o tratamento foi de 6 meses, 18 tinham doença progressiva. Nove pacientes morreram durante o estudo: broncoespasmo relacionado a daratumumab (D1C1); sobredosagem relacionada com ixazomib (C2); sepse (n = 4) e progressão da doença (n = 3). Em relação à toxicidade, 27 pacientes tiveram EA ≥ grau 3 (49%). As toxicidades de grau 3-4 mais comuns foram trombocitopenia (n = 9), outras citopenias (n = 4), infecção (n = 8), hipertensão (n = 3) e distúrbios gastrointestinais (n = 3). Quatorze de 28 apresentaram eventos adversos severos, incluindo 5 infecções, 1 broncoespasmo, 1 insuficiência respiratória aguda e 2 overdoses de ixazomib. A taxa de resposta global, incluindo resposta mínima, foi de 86%, com uma taxa ≥VGPR de 32% em todo o grupo. Em pacientes refratários à Len, a ORR foi de 82% e ≥VGPR 41%; em pacientes com citogenética de alto risco, a ORR foi de 85% e ≥VGPR de 46%. Com seguimento mediano de 11,6 meses, a SLP foi de 16 meses e a mediana de sobrevida global não foi alcançada (estimada em 76% em um ano).

“Nesta população idosa frágil, Ixa-Dara é uma combinação viável com perfil de eficácia favorável, mesmo em pacientes refratários a Len e com citogenética de alto risco”, concluem os autores, destacando que a toxicidade precoce continua sendo uma preocupação nesse perfil de pacientes.

Para o oncohematologista Angelo Maiolino, professor de hematologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador de hematologia do Americas Centro de Oncologia Integrado, o estudo do grupo francês traz resultados importantes, apesar do pequeno número de inscritos. “É uma população que não é incluída em ensaios clínicos e o trabalho tem, primeiro, o mérito de representar esses pacientes, que normalmente não toleram a combinação de 3 ou 4 fármacos. Além disso, a combinação sem dexametasona com Ixa-Dara se mostrou bastante segura e eficaz no longo prazo, com taxa de resposta de 82% em pacientes politratados e 41% acima de remissão parcial muito boa, o que merece destaque, principalmente considerando a inclusão de pacientes com citogenética de alto risco”, analisa Maiolino.

Informações sobre este ensaio clínico: NCT03757221.

Referência: Ixazomib and daratumumab without dexamethasone (I-Dara) in elderly frail RRMM patients: A multicenter phase 2 study (IFM 2018-02) of the Intergroupe Francophone du Myélome (IFM).
Xavier Leleu, MD, PhD, Centre Hospitalier Universitaire de Poitiers
Abstract #: 8000
Clinical Trial Registry Number:  NCT03757221
Citation: J Clin Oncol 40, 2022 (suppl 16; abstr 8000)
DOI: 10.1200/JCO.2022.40.16_suppl.8000