Coberturas Especiais

ASCO 2019: quimio em baixas doses em idosos com câncer gastroesofágico

André Junqueira IDEA PC NET OK NEWSA quimioterapia em baixas doses com oxaliplatina e capecitabina oferece benefícios de sobrevida livre de progressão comparáveis à dose mais alta do tratamento em pacientes idosos e frágeis com câncer gastroesofágico avançado, com menos efeitos colaterais. Os resultados são do estudo de fase III GO21 e serão apresentados no congresso anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), em Chicago. “O estudo amplia o conhecimento sobre tratamentos oncológicos da parcela da população mais acometida pelo câncer: os maiores de 60 anos”, observa o geriatra e paliativista André Filipe Junqueira dos Santos (foto), presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) e coordenador do Serviço de Cuidados Paliativos da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP).

“Apesar dessa alta incidência existe uma baixa participação de idosos em ensaios clínicos, sendo muitas vezes a própria idade critério de exclusão. Comorbidades e a própria avaliação do oncologista são critérios que podem limitar o acesso dessa população a novos tratamentos2”, lamenta André, que também atua Instituto Oncológico de Ribeirão Preto (InORP).

O câncer gastroesofágico geralmente é diagnosticado em estádios avançados e é a sexta causa mais comum de mortes por câncer em todo o mundo. É mais comum em homens e pessoas idosas, com uma mediana de idade ao diagnóstico de 68 anos3, e uma parcela significativa dos pacientes é incapaz de tolerar a combinação de três tipos de quimioterapia. A taxa de sobrevida relativa em 5 anos para o câncer gastroesofágico avançado nos Estados Unidos é de 5%.4

Em um estudo de fase II em uma população semelhante de pacientes idosos e frágeis com câncer gastroesofágico avançado, a combinação de oxaliplatina e capecitabina (OCap) foi mais eficaz no controle da doença em comparação com a capecitabina isolada. A combinação também demonstrou maior eficácia em comparação com o regime que incluía oxaliplatina, capecitabina e epirrubicina (EOCap), que demonstrou maior toxicidade.

Sobre o estudo

O GO2 foi desenhado para encontrar a dose ideal de capecitabina e oxaliplatina para o tratamento de pacientes idosos ou frágeis com câncer gastroesofágico. Para determinar o benefício clínico ideal, tolerabilidade, qualidade de vida e satisfação do paciente para a terapia de dois medicamentos, os pesquisadores utilizaram uma ferramenta de avaliação chamada Utilidade Geral de Tratamento (do inglês, Overall Treatment Utility – OTU).

Entre 2014 e 2017, os pesquisadores randomizaram 514 pacientes (1:1:1, GFR ≥ 30, bili <2x ULN) entre 51 a 96 anos, em 61 dentros de tratamento no Reino Unido, para três níveis de dosagem. O nível A continha 130 mg/m2 de oxaliplatina administrada uma vez a cada 21 dias e uma dose de 625 mg/m2 de capecitabina duas vezes por dia administrada continuamente (Ox 130 mg / m2 d1, Cap 625 mg/m2 bd d1-21, q21d). O nível B foi de 80% da dosagem do nível A e o nível C foi de 60% da dosagem do nível A. Pessoas com função renal diminuída receberam 75% das doses sugeridas de capecitabina.

Após 9 semanas, os pacientes foram avaliados para OTU. A continuação dos medicamentos foi baseada na avaliação dos médicos.

Resultados

Os resultados demonstraram que os pacientes que receberam dosagens de Nível C tiveram menos toxicidade relacionada ao tratamento e melhores resultados de OTU em comparação com os pacientes que receberam os níveis A ou B. O nível C produziu a melhor OTU mesmo em pessoas mais jovens e menos frágeis, e nenhum grupo teve maior beneficiou com os níveis mais altos de dosagem.

Várias medidas secundárias também foram avaliadas. A sobrevida global foi comparável entre as doses: os pacientes do nível viveram uma média de 7,5 meses; os pacientes do nível B viveram, em média, 6,7 meses; e os participantes do nível C atingiram 7,6 meses de sobrevida. A não-inferioridade da sobrevida livre de progressão foi confirmada para o nível B vs A (HR 1.09, CI 0.89-1.32) e para o nível C vs A (HR 1.10, CI 0.90-1.33). Os pacientes que receberam doses de nível A viveram uma média de 4,9 meses; nível B uma mediana de 4,1 meses; e nível C uma mediana de 4,3 meses, sem sinais de agravamento da doença.

Efeitos colaterais de grau 3 ou superiores foram observados em 56% das pessoas que receberam as doses dos níveis A e B, e em apenas 37% dos pacientes que receberam doses nível C.

Os pacientes do nível C também tiveram uma porcentagem maior de bons escores de OTU (43%) em comparação com os níveis A e B (35% e 36%, respectivamente).

O GO2 é o terceiro estudo no Reino Unido a utilizar o OTU para avaliar os resultados em pacientes mais velhos e frágeis. O estudo FOCUS2 utilizou a ferramenta para avaliação de pacientes com câncer colorretal, e o 321GO em pacientes com câncer gastroesofágico. “O uso de OTU poderia apresentar um novo paradigma na avaliação dos resultados em populações idosas com doença em estágio avançado. Estamos avaliando se qualquer um dos nove fatores que compõem a OTU é dominante ou mais determinante em relação à saúde do paciente”, afirmam os pesquisadores.

Segundo André, um subgrupo de idosos envolvido nesse estudo e que merece uma atenção em particular são os pacientes idosos frágeis. “A fragilidade é uma síndrome geriátrica definida como um estado de vulnerabilidade fisiológica relacionada à idade, resultante de reservas homeostáticas comprometidas, e uma capacidade reduzida do organismo resistir aos estressores (Fried & Walston, 2002). A fisiopatologia da fragilidade é complexa e multifatorial, envolvendo a presença de sarcopenia, desregulação neuro-endócrina e disfunção imunológica. A sua presença é de difícil caracterização em fases pré-clínicas e envolve uma ampla avaliação de diversos domínios da saúde de uma pessoa”, explica.

"Considerando a complexidade do processo de envelhecimento e da fragilidade em si, a disponibilidade de recursos terapêuticos para o tratamento oncológico, com a ampliação das linhas de quimioterapia, ressalta a importância da oncogeriatria, envolvendo uma avaliação e seguimento por um médico geriatra e uma equipe multidisciplinar junto com a equipe de oncologia”, conclui.

O recebeu foi financiado pelo Cancer Research UK e pela Universidade de Leeds.

Referências:

1 - Abstract 4006: Optimizing chemotherapy for frail and elderly patients (pts) with advanced gastroesophageal cancer (aGOAC): The GO2 phase III trial. - Peter Hall et al
Presentation Information: Gastrointestinal (Noncolorectal) Cancer Oral Abstract Session - Sunday, June 2: 11:45-11:55 a.m. - Arie Crown Theater

2 - Dean A. Shumway , Ageism in the Undertreatment of High-Risk Prostate Cancer , Vol 33 N 7 2015, JCO

3 - Esophageal cancer statistics: https://www.cancer.net/cancer-types/esophageal-cancer/statistics

4 - NCI SEER Cancer Statistics: https://seer.cancer.gov/statfacts/html/esoph.html