ESMO 2021

Perfil clínico e prognóstico do câncer de mama metastático com pseudocirrose

solange sanches accamargo bxSolange Sanches (foto), do AC Camargo Cancer Center, é autora sênior de estudo que se propõe a avaliar o perfil clínico e prognóstico do câncer de mama metastático com pseudocirrose, aceito para o ESMO Congress 2021.

Descrita como uma condição rara e sombria, a pseudocirrose (PC) é definida por anormalidades radiológicas que sugerem cirrose em pacientes com metástases hepáticas, especialmente aquelas decorrentes do câncer de mama metastático. A causa da PC pode ser a progressão da doença hepática, toxicidade do tratamento ou resposta ao tratamento sistêmico.

Este estudo retrospectivo foi realizado com pacientes com câncer de mama metastático atendidas na instituição no período de 2010-2020. Idade, tipo histológico, locais de metástase, alterações radiológicas, ascite, volume de doença hepática, tratamentos anteriores, níveis de bilirrubina, AST e ALT, causa de PC e sobrevida global foram analisados. O método de Kaplan-Meier foi usado para análise de sobrevida, enquanto o teste de log rank foi empregado para comparar curvas de sobrevida, a regressão de Cox para análise multivariável e o teste de Qui-quadrado para comparar proporcionalmente os grupos. 

Resultados

Os resultados reportados em pôster no ESMO Congress 2021 mostram que 44 pacientes foram incluídas na análise, com idade média de 55,5 anos, 83,3% do subtipo luminal, 54,6% com metástases fora do fígado. O contorno lobular do fígado foi o achado radiológico mais frequente (31%) e 88,4% das pacientes tinham mais de 5 lesões hepáticas no momento do diagnóstico de PC. O tempo mediano entre o desenvolvimento de metástases hepáticas até o PC foi de 33,3 meses. A mediana de SG de pacientes com PC foi de 3,18 meses. Em 63,4% dos casos a PC foi decorrente de metástases devido a progressão da doença e a SG foi menor em comparação com pacientes sem progressão (2,16 meses versus 15,4 meses; razão de risco [HR] 2,37; p <0,03; IC de 95% 1,06 a 5,27). Em 31,7% dos pacientes, PC foi devido à resposta clínica ao tratamento e a SG atingiu 15,7 meses vs. 2,16 meses (respondedores vs não-respondedores; HR 2,60; p 0,02; IC 95% 1,10 a 6,17). Apenas 4,9% dos pacientes tiveram PC devido à toxicidade do tratamento, com SG de 1,8 meses.

Os autores descrevem que a SG variou de acordo com as linhas de tratamento para o câncer de mama metastático, com 15,8 meses para aqueles com 1 terapia endócrina anterior vs 8,1 meses para pacientes que usaram 2 linhas (HR 2,39; p 0,03; IC 95% 1,08 a 5,25) e 22,12 meses entre pacientes que receberam 1 linha de quimioterapia (QT) vs. 6,46 meses para 2 linhas de QT (HR 3,34; p <0,01; 95% IC 1,36 a 8,17). Os níveis de AST 2 vezes o limite superior foram correlacionados com piores resultados (SG de 2,16 meses vs. 15,24 meses; HR 2,90; p 0,01; IC 95% 1,19 a 7,05). A mesma correlação foi observada com os níveis de ALT e SG: 1,87 meses vs. 3,97 meses (HR 2,38; p 0,03; IC 95% 1,04 a 5,46) e valores anormais de bilirrubina (1,77 meses vs. 15,24 meses; HR 4,18; p <0,01; IC 95% 1,80 a 9,69).

“Embora rara, é importante estar atento a possibilidade de ocorrência de pseudocirrose, principalmente em pacientes com câncer de mama. Esta é uma das maiores séries sobre pseudocirrose no câncer de mama metastático. A sobrevida global em pacientes com pseudocirrose é baixa, varia de acordo com o agente causal e alguns marcadores podem indicar pior desfecho”, concluem os autores.

Referência: 323P Clinical profile and prognosis of metastatic breast cancer with pseudocirrhosis: A rare and dismal condition