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AtualizadoQui, 28 Mar 2024 2pm

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2021

OCTOPUS: Dose de quimioterapia adjuvante e sobrevida em obesos com câncer colorretal

rivadavio 2020Meta-análise apresentada no ESMO GI 2021 demonstrou que pacientes obesos com câncer colorretal (CCR) recebem doses cumulativas mais baixas de quimioterapia adjuvante em relação à área de superfície corporal (BSA) em comparação com pacientes não obesos1, o que poderia explicar a pior sobrevida observada nessa população de pacientes. O oncologista Rivadávio Antunes de Oliveira (foto), coordenador da residência médica do Hospital do Câncer de Londrina, comenta os resultados.

“A quimioterapia adjuvante é dosada de acordo com a área de superfície corporal do paciente, calculada a partir de sua altura e peso. Devido à preocupação com o aumento de efeitos colaterais, em pacientes obesos as doses são frequentemente limitadas ou baseadas em um peso idealizado. Isso significa que pacientes obesos podem receber doses proporcionalmente mais baixas de quimioterapia”, observou Corinna Slawinski, da Universidade de Manchester, Reino Unido, principal autora do estudo.

Estudos anteriores mostraram que pacientes obesos com câncer colorretal apresentam resultados piores em comparação com pacientes não obesos. Mas as limitações com esses estudos tornaram difícil concluir se um índice de massa corporal mais alto estava diretamente associado à sobrevida ou se a associação era devido a outros fatores, como o tratamento, ou seja, a dose administrada. “Um fator importante é avaliar como as doses de quimioterapia são calculadas para pacientes individuais. Realizamos nosso estudo para entender melhor a relação entre IMC, dosagem de quimioterapia e sobrevida no câncer colorretal”, explicou Slawinski.

O estudo OCTOPUS analisou dados de pacientes recebendo quimioterapia adjuvante após cirurgia curativa para câncer de cólon e/ou reto em quatro grandes ensaios clínicos randomizados - MOSAIC, SCOT, PROCTORSCRIPT e CHRONICLE (CRC-ACT). Os pesquisadores examinaram a relação entre o IMC e a dosagem de quimioterapia e a relação entre a dosagem de quimioterapia e a sobrevida.

Os autores utilizaram duas maneiras de medir a quantidade de quimioterapia recebida como uma proporção das doses padrão reais e esperadas: dose relativa cumulativa média (ACRD) e intensidade de dose relativa média (ARDI). “ACRD é a proporção da dose padrão total esperada (por unidade de área de superfície corporal) ao longo de todo o curso de quimioterapia. Já ARDI também leva em consideração a duração do tratamento e é a proporção da intensidade da dose padrão esperada (a dose total por unidade de BSA, dividida pelo número de semanas de tratamento) realmente recebida. Ambas as medidas são calculadas em média sobre o número de medicamentos no regime e expressas como uma porcentagem”, esclarecem os autores.

O desfecho primário foi a sobrevida livre de doença (SLD), e os desfechos secundários foram a sobrevida geral (SG) e sobrevida câncer específica (CSS), além de ARDI e ACRD.

Todos os modelos foram ajustados para idade, sexo, status de desempenho, estágio T e estágio N (além do IMC nos modelos de sobrevida).

Resultados

Foram elegíveis 7.269 pacientes. Incrementos de 5kg/m2 de IMC foram associados a uma redução de 2,04% na dose do ciclo 1 (95% CI: -2,45, -1,64; p <0,001) e reduções modestas no ACRD (-1,05% (-1,84, -0,26); p = 0,009) e ARDI (-1,02% (-1,43, -0,62); p <0,001). No estudo, a modificação do efeito foi demonstrada para ARDI (feminino vs. masculino: 1,55% (0,97, 2,13); p <0,001), mas não ACRD (feminino vs. masculino: 0,88% (-0,14, 1,89); p = 0,092).

Incrementos de 5% de ACRD foram associados a melhor SLD (HR 0,926, 0,980); p = 0,001), SG (HR 0,931 (0,908, 0,955); p <0,001) e CSS (HR 0,941 (0,924, 0,959); p < 0,001). No entanto, nenhuma relação significativa foi demonstrada para ARDI (DFS HR 1,015 (0,967, 1,065); p = 0,552; SG HR 1,035 (0,990, 1,081); p 0,134; CSS HR 1,022 (0,982, 1,064); p = 0,282).

“Nosso estudo demonstrou uma associação entre o aumento do índice de massa corporal e reduções modestas na dose relativa cumulativa de quimioterapia adjuvante em pacientes com CCR. Também observamos uma associação entre o aumento da dose relativa cumulativa e a melhora da sobrevida”, afirmam os autores, acrescentando que os achados apoiam a diretriz da ASCO recentemente publicada que preconiza que doses completas de quimioterapia com base no peso devem ser usadas para tratar pacientes adultos obesos.2

“Esses resultados mostraram que o IMC elevado está associado a uma dose relativa reduzida de quimioterapia no primeiro ciclo de tratamento e a uma redução modesta na ACRD. Esses efeitos indiretos por meio de um tratamento abaixo do ideal podem explicar uma pior sobrevida em pacientes obesos, ao invés dos efeitos diretos da obesidade resultantes, por exemplo, da biologia do tumor”, destacam.

“Nossos resultados até agora apoiam o fornecimento de uma dose completa de quimioterapia a pacientes obesos com base em seu peso corporal. Mas ainda estamos explorando os dados de toxicidade, examinando a relação entre IMC, limite de dose, toxicidade e sobrevida”, ressaltou Slawinski.

Segundo Oliveira, reduções de dose para quem tem IMC alto, ou além do padrão estabelecido, pode estar relacionado à baixa taxa de cura em pacientes com CCR ressecados tratados com quimioterapia adjuvante. “Um fato que já é sabido é que a quimioterapia adjuvante tem o potencial de curar pacientes com doença residual micrometastática; portanto é de suma importância que nós forneçamos esse benefício para todos os pacientes”, diz.

O especialista acrescenta que apesar de estudos prévios demonstrarem piores desfechos de pacientes obesos com CCR em comparação com pacientes não-obesos, é difícil tirar qualquer conclusão mais assertiva por conta de limitações nesses trabalhos. “Será que o IMC alto está diretamente relacionado à sobrevida? Ou será que esta associação é devido a outros fatores como o tratamento em questão (dose administrada)?”, questiona.

“Vários aspectos são necessários para a decisão de se fazer ou não a quimioterapia adjuvante, e se será oferecida com redução de dose ou não. Esse trabalho sugere que a redução de dose em pacientes obesos parece estar associada com piora de sobrevida, porém estudos adicionais são necessários”, conclui.

O trabalho foi apoiado pelo Cancer Research UK através do financiamento para o Cancer Research UK Manchester Centre.

Referências: 

1 - Abstract O-4 - Average cumulative relative dose (ACRD) of adjuvant chemotherapy is more important than average relative dose intensity (ARDI) for colorectal cancer survival, with implications for treating obese patients: the OCTOPUS consortium - C. Slawinski et al

2 - Griggs JJ, Bohlke K, Balaban EP et al. Appropriate systemic therapy dosing for obese adult patients with cancer: ASCO Guideline Update. J Clin Oncol 2021 DOI https://doi.org/10.1200/JCO.21.00471
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