2021

FIRE 4.5 mostra resultados no câncer colorretal metastático com mutação BRAF V600E

rachel riechelmann 2021 bxSelecionado no programa do ASCO 2021, o estudo FIRE-4.5 (AIO KRK-0116) comparou FOLFOXIRI mais cetuximabe ou bevacizumabe em pacientes com câncer colorretal metastático com mutação BRAF V600E (mCRC) sem tratamento prévio para doença metastática. Quem comenta é a oncologista Rachel Riechelmann (foto), diretora do Departamento de Oncologia do A.C. Camargo Cancer Center e presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG).

Neste estudo randomizado de fase II 1: 2, os pacientes receberam FOLFOXIRI a cada duas semanas no seguinte esquema: irinotecano 150mg / m² (30-90min, dia 1), ácido folínico 400mg / m² (120min, dia 1 ), oxaliplatina 85mg / m² (120 min, dia 1), seguido por 5-fluorouracil 3.000 mg / m², 48h. FOLFOXIRI foi combinado com bevacizumabe (braço A) na dose de 5 mg / kg de peso corporal, a cada 2 semanas ou cetuximabe (braço B) em uma dose de ataque de 400 mg / m² e doses semanais subsequentes de 250 mg / m². FOLFOXIRI foi aplicado por um máximo de 12 ciclos antes do tratamento de manutenção ser recomendado. O endpoint primário foi a superioridade do Braço B em relação à taxa de resposta global (ORR) de acordo com os critérios RECIST 1.1.

Endpoints secundários incluíram sobrevida livre de progressão (SLP), sobrevida global (SG) e dados de segurança. 

Resultados

De novembro de 2016 a dezembro de 2020, 108 pacientes foram randomizados em 90 centros alemães e 10 franceses (35 no braço A e 73 no braço B). Nenhuma toxicidade nova ou inesperada foi observada. Os dados reportados no ASCO 2021 mostram que o estudo não alcançou o endpoint primário, com ORR de 66,7% e 52,0% (p = 0,23) nos braços A e B, respectivamente. No entanto, embora os dados de sobrevida global ainda estejam imaturos, o tempo médio de SG foi comparável entre os dois braços no momento da análise. A SLP mediana foi superior no braço A vs braço B (8,3 meses vs 5,9 meses; logrank p = 0,03; HR 1,8). Pacientes com tumores primários do lado esquerdo tiveram resultados comparáveis ​​com bevacizumabe ou cetuximabe, enquanto aqueles com tumores primários do lado direito tiveram tendência a maior benefício com a combinação de bevacizumabe.

“FIRE-4.5 é o primeiro estudo prospectivo e randomizado a investigar a eficácia de FOLFOXIRI combinado com terapia-alvo no tratamento de primeira linha de mCRC BRAF V600E mutado. FOLFOXIRI mais bevacizumabe ou cetuximabe têm eficácia comparável com efeitos diferentes de acordo com a lateralidade do tumor primário, apoiando a heterogeneidade da subpopulação de pacientes com mCRC com mutação BRAF V600E”, destacam os autores.

Para Rachel, o estudo reforça o prognóstico reservado desse tipo de tumor, mostrando que provavelmente a quimioterapia é o tratamento efetivo. “A adição de anticorpos monoclonais tem papel incerto. Vale lembrar que nem toda mutação BRAF confere resistência a antiEGFR ou pior prognóstico. V600e está associada a pior prognóstico, sexo feminino, tumores do cólon direito. Já outras mutações BRAF não V600e não tem essas características”, observa. 

“Na segunda linha, o estudo BEACON mostrou que a combinação de antiEGFR e encorafenibe se tornou o padrão, pois demonstrou ganho de sobrevida global em comparação com irinotecano e cetuximabe. A droga está análise de aprovação na Anvisa”, conclui a especialista. 

Informações do ensaio clínico: NCT04034459. 

Referência: Randomized study to investigate FOLFOXIRI plus either bevacizumab or cetuximab as first-line treatment of BRAF V600E-mutant mCRC: The phase-II FIRE-4.5 study (AIO KRK-0116). - Sebastian Stintzing et al.