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2021

ASCO 2021: incidência e tendências de tumores associados ao HPV

luisa lina villa 2020 bxNos últimos 17 anos, a incidência de câncer de colo do útero diminuiu anualmente em 1%, enquanto a incidência de outros cânceres relacionados ao papilomavírus humano (HPV) continua a aumentar. Os resultados são de uma revisão da incidência e tendências dos tumores HPV-relacionados que considerou dados de 657.317 indivíduos e está entre os destaques do programa científico do 2021 American Society of Clinical Oncology Annual Meeting (ASCO 2021). Quem comenta é a bióloga Luisa Lina Villa (foto), referência em pesquisa do HPV.

Em 2006, a vacina contra o HPV foi aprovada pela primeira vez nos Estados Unidos para meninas e mulheres jovens com idades entre 9-26 anos para prevenir a infecção por HPV e o desenvolvimento de lesões de câncer cervical. Em 2011, as recomendações para a vacinação contra o HPV foram estendidas aos meninos de 11 a 12 anos. Atualmente, a vacinação é aprovada para todos até 45 anos. No entanto, não existem diretrizes claras para outros tumores que tenham uma associação conhecida com a infecção pelo HPV, incluindo câncer orofaríngeo e tumores de vulva, vagina, pênis, ânus e reto.

Os dados de 657.317 indivíduos foram obtidos do programa U.S. Cancer Statistics de 2001-2017. As tendências de incidência foram calculadas para cânceres associados ao HPV, incluindo carcinoma de células escamosas da orofaringe, ânus, reto, vulva, vagina, pênis e carcinoma cervical.

A incidência global de cânceres relacionados ao HPV para mulheres foi de 13,68/100.000 em 2001, com câncer cervical representando mais da metade (52%), para 7,12/100.000 no ano de 2017. Nos últimos 16 anos, a incidência de câncer cervical diminuiu a uma mudança percentual anual (APC) de 1,03% (p <0,001). Em contraste, o carcinoma de orofaringe (APC = 0,77%, p <0,001), ânus e reto (APC = 2,75%, p <0,001) e CEC vulvar aumentaram significativamente (APC = 1,27%, p <0,001).

Para mulheres mais velhas, a incidência de câncer anal e retal se aproximou do câncer cervical. Naquelas com mais de 80 anos, a incidência de câncer de colo do útero foi de 6,95 (-2,90% APC, p <0,001), em comparação com 6,36 para o câncer anal e retal (1,23% APC, p <0,001). Usando um modelo de projeção, a incidência de câncer anal e retal deve ultrapassar a incidência do câncer cervical até o ano de 2025 para todas as faixas etárias acima de 55 anos.

Quando comparadas com coortes mais velhas, as mulheres na faixa etária de 20-24 anos apresentaram uma redução desproporcionalmente maior na incidência de câncer cervical, 4,63% ao ano, sugerindo um efeito potencial da vacinação.

"É provável que a diminuição significativa na incidência do câncer cervical resulte de diretrizes claras para o rastreamento do câncer cervical e também possa refletir a promoção e aceitação da vacinação, particularmente em mulheres mais jovens", disse Cheng-I Liao, principal autor do estudo.

Para os homens, a incidência de todos os cânceres HPV-relacionados foi de 11,0/100.000 em 2017, sendo 81% associados ao câncer de orofaringe. Nos últimos 16 anos, houve um aumento anual global dos tumores HPV-relacionados em 2,36% ao ano (p <0,001) com o maior aumento na orofaringe (APC = 2,71%, p <0,001) e CEC anal e retal (APC = 1,71%, p <0,001). Aqueles com maior risco de câncer de orofaringe eram homens com idades entre 65-69 anos, com uma incidência de 36,5/100.000, e aumento percentual anual de 4,24% (p <0,001). A interseccionalidade de idade e raça mostrou que homens brancos entre 65-69 anos tiveram a maior incidência de câncer de orofaringe, em 41,6/100.000.

“Sem o rastreamento padronizado, os cânceres HPV-relacionados, como os tumores de orofaringe, reto e ânus, estão aumentando. Precisamos desenvolver estratégias de rastreamento eficazes e determinar a eficácia da vacina nessas populações de pacientes para reduzir essas tendências e alcançar um sucesso comparável ao observado com o câncer cervical”, afirmou Liao.

Os pesquisadores planejam analisar as taxas de teste de HPV e vacinação de outros bancos de dados para obter informações adicionais. “Recursos e pesquisas adicionais são necessários para abordar a falta de rastreamento de doenças e recomendações de vacinação para cânceres associados ao HPV, com exceção do câncer cervical”, ressaltaram.

Vacinação contra HPV terá papel fundamental na redução de tumores em diferentes sítios anatômicos

Por LUisa LIna Villa

Enquanto para o câncer de colo do útero, tumor causado por HPV praticamente na sua totalidade, há prevenção secundária através de rastreamento e prevenção primária com vacinas profiláticas de HPV, para outros tumores associados a esses vírus tais medidas não estão disponíveis ou não são igualmente aplicadas. 

De fato, o rastreamento organizado dos tumores do colo do útero, que ocorre há décadas principalmente em países desenvolvidos, resultou na redução significativa da incidência e mortalidade por esse câncer. Mesmo em países com rastreamento oportunista, como ocorre no Brasil, por exemplo, observa-se uma clara redução de incidência do câncer de colo do útero; entretanto, a mortalidade por esse tumor fora das capitais do país ainda se mantém sem tendência de queda. Acrescente-se, ainda, a vacinação contra HPV disponível no mundo desde 2006 e no Brasil desde 2014 para meninas de 9 a 14 anos (e desde 2016 para meninos de 11 a 14 anos), que vem impactando as taxas de infecção e de doenças por HPV com reduções significativas observadas em poucos anos após a introdução das vacinas, principalmente naqueles países com elevadas taxas de cobertura de vacinação.

Por outro lado, em relação aos outros tumores causados por HPV - vulva, vagina, ânus e orofaringe nas mulheres; pênis, ânus, orofaringe nos homens - não há programas de rastreamento, o que sem dúvida contribui para as observadas tendências de aumento de incidência de alguns desses tumores. Destacam-se os achados de tumores de orofaringe, cuja incidência, pelo menos nos Estados Unidos, supera a dos cânceres de colo do útero, reflexo dos programas de rastreamento e da vacinação.

Até o momento, há poucos avanços nas propostas de rastreamento de tumores causados por HPV fora da cérvice uterina, destacando-se apenas a citologia e exame com magnificação do canal anal, ainda em fase de estudo para aplicação clínica. Entretanto, devemos considerar que a vacinação contra os tipos principais de HPV deverá ser estratégia universal, já que os tipos de HPV que causam parte dos cânceres de orofaringe, ânus, pênis, vulva e vagina são causados principalmente por HPV tipo 16, eficientemente controlado pelas vacinas disponíveis no mundo, incluindo o programa nacional de imunização do governo brasileiro.

Assim, é possível antecipar que a vacinação contra HPV terá papel fundamental na redução de tumores em diferentes sítios anatômicos, beneficiando mulheres e homens, e contribuindo para a eliminação de proporção significativa de tumores em diferentes sítios anatômicos.


Referência: HPV-associated cancers in the United States over the last 15 years: Has screening or vaccination made any difference? 
Authors: Justice Liao, Michelle Ann Caesar, Chloe Chan, Michael Richardson, Daniel Kapp, Alex Francoeur, John Chan

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