ESMO 2020

COVID-19 e os cuidados em câncer

abdul jazieh bxA pandemia da COVID-19 impactou os sistemas de saúde em todo o mundo e resultou na interrupção dos cuidados habituais em muitas instituições, expondo pacientes com câncer vulneráveis ​​a riscos significativos. Com o objetivo de avaliar o impacto global da pandemia no tratamento do câncer, estudo liderado por Abdul-Rahman Jazieh (foto), médico do King Abdulaziz Medical City, na Arábia Saudita, reuniu dados de 356 centros de câncer em 54 países (1678P). O trabalho conta com a participação da oncologista Clarissa Mathias, do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB/Grupo Oncoclínicas).

O estudo transversal utilizou questionário eletrônico validado de 51 itens via SurveyMonkey©, distribuído para líderes de centros de oncologia em todo o mundo. O survey obteve informações sobre a capacidade e serviços oferecidos nesses centros, magnitude  e motivos para interrupção, desafios enfrentados e intervenções implementadas, além de estimar os danos ao paciente oncológico durante a pandemia.

Resultados

Entre 21 de abril e 08 de maio, 356 centros de 54 países em seis continentes participaram da pesquisa. Juntos, esses centros atendem cerca de 700 mil novos pacientes de câncer por ano. A maioria deles (88%) afirma enfrentar desafios na prestação de cuidados durante a pandemia; 54% e 45% dos centros relataram casos de infecção por COVID-19 entre seus pacientes e equipe, respectivamente.

Embora 51% tenham reduzido os serviços como parte de uma estratégia preventiva, outros motivos comuns incluíram sistema sobrecarregado (20%), falta de equipamento de proteção individual (19%), falta de pessoal (18%) e acesso restrito a medicamentos (9,7%). A perda de pelo menos um ciclo de terapia em mais de 10% dos pacientes foi observada em 46% das instituições.

A maioria dos centros implementou clínicas virtuais (83,6%) e tumor boards online (93%) e os participantes acreditam que esse comportamento deve persistir além da pandemia (55,5% e 60%, respectivamente). Os centros informaram a realização de exames de rotina em laboratórios próximos às residências dos pacientes (76%) e fornecimento de medicamentos aos pacientes (68,6%). Os participantes relataram ainda a exposição dos pacientes a danos decorrentes da interrupção de cuidados específicos ao câncer (36,5%) e cuidados não relacionados ao câncer (39%), com alguns centros estimando até 80% de seus pacientes expostos a algum dano. Apenas 16% dos centros relatados que os serviços estão de volta ao baseline no momento da conclusão da pesquisa.

“O impacto prejudicial da pandemia de COVID-19 no tratamento do câncer é generalizado, com magnitude variável entre os centros em todo o mundo. São necessárias mais pesquisas para avaliar esse impacto ao paciente”, observaram os autores. “Um “novo normal” em relação ao atendimento ao câncer surgiu, com ênfase na telessaúde e na prestação de cuidados mais próximo de casa”, concluíram.

Referência: 1678P - The impact of COVID-19 pandemic on cancer care: a global collaborative study - A.R. Jazieh et al