ESMO 2017

PACIFIC: durvalumab no câncer de pulmão avançado

Samira Mascarenhas NET OKDados do estudo PACIFIC apresentados na ESMO 2017 mostraram benefícios do inibidor de checkpoint imune durvalumab no tratamento de pacientes com câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) estádio III, irressecável. Os resultados foram publicados no New England Journal of Medicine. O PACIFIC é o primeiro estudo de fase III a avaliar um inibidor de checkpoint imune como tratamento sequencial em pacientes com CPNPC estádio III que não haviam progredido após a quimioterapia à base de platina concomitante à radioterapia. Quem comenta é Samira Mascarenhas (foto), oncologista do Núcleo de Oncologia da Bahia/Grupo Oncoclínicas e membro do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT).

Atualmente, cerca de um terço dos pacientes com CPNPC apresentam doença estádio III ao diagnóstico. O tratamento padrão com quimioterapia à base de platina concomitante à radioterapia proporciona sobrevida livre de progressão por cerca de oito meses e apenas 15% dos pacientes estão vivos em cinco anos.

"Há evidências de que a sinergia entre radioterapia e imunoterapia pode aumentar a probabilidade de resposta", disse Luis Paz-Ares, primeiro autor do estudo e presidente do departamento de Oncologia do Hospital Universitario Doce de Octubre, em Madrid, Espanha. "Nós exploramos o impacto da inibição de PD-L1 após o tratamento padrão de quimiorradioterapia", esclareceu.

O PACIFIC comparou o tratamento sequencial com o anti PD-L1 durvalumab versus placebo em pacientes com CPNPC estádio III não ressecável, que não haviam progredido após a quimioterapia à base de platina concomitante à terapia de radiação.

O estudo envolveu 235 centros, em 26 países. Entre maio de 2014 e abril de 2016 foram selecionados 713 pacientes, randomizados 2:1 para receber durvalumab 10 mg/kg a cada duas semanas (N= 473) ou placebo por até 12 meses (N=236). Os endpoints primários foram sobrevida livre de progressão e sobrevida global.

Os resultados da análise pré-planejada aos 14,5 meses foram apresentados no congresso europeu e apontam benefícios para o tratamento sequencial com durvalumab, com mediana de sobrevida livre de progressão de 16,8 meses (IC 95%, 13,0-18,1) em comparação com 5,6 meses com placebo, (HR= 0,52, IC 95%, 0,42-0,65, P <0,0001). "Durvalumab diminuiu a probabilidade de progressão da doença em 48%, com benefícios consistentes em todos os subgrupos analisados", afirmou Paz-Ares.

As taxas de SLP em 12 e 18 meses também favoreceram durvalumab versus placebo, com 55,9% contra 35,3% e 44,2% contra 27,0%, respectivamente. O estudo mostrou benefícios de durvalumab nos endpoints secundários, incluindo taxa de resposta objetiva (28,4% vs 16,0%; P <0,001) e duração de resposta (não alcançada vs 13,8 meses). O tempo médio para morte ou metástase também foi maior com o anti PD-L1 durvalumab (23,2 vs 14,6 meses).

Os dados gerais de sobrevida ainda não estão maduros.

Os eventos adversos relacionados ao tratamento ocorreram em 68% dos pacientes no grupo durvalumab, em comparação com 53% no grupo placebo. A taxa de eventos imunomediados foi de 24% com durvalumab e de 8% com placebo. A pneumonite grave (grau 3/4) ocorreu em 3,4% e 2,6% dos pacientes com durvalumab e placebo, respectivamente. O tratamento teve que ser descontinuado devido à pneumonite em 6,3% dos pacientes com durvalumab e em 4,3% no braço placebo.

A conclusão dos autores indica que durvalumab tem um perfil de segurança gerenciável e melhorou a sobrevida livre de progressão em 11 meses. A inibição de PD-L1 após a quimiorradiação parece ser uma nova opção para pacientes com câncer de pulmão estádio III irressecável localmente avançado.

Para Pilar Garrido, chefe da seção de tumor torácico do Hospital Universitário Ramón y Cajal, em Madri, durvalumab após o término da quimiorradiação melhorou a sobrevida sem progressão em três vezes em comparação com o placebo, “o que é um benefício clinicamente relevante. Os resultados para a sobrevida livre de progressão de 12 e 18 meses também foram altamente encorajadores ", apontou.

O estudo é financiado pela AstraZeneca (NCT02125461).

Estudo PACIFIC

Por Samira Mascarenhas, oncologista do Núcleo de Oncologia da Bahia/Grupo Oncoclínicas e membro do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT)

O tratamento da doença localmente avançada é uma grande barreira no avanço do tratamento do câncer de pulmão. Utilizando tratamento padrão, temos 15% de sobrevida em 5 anos, mediana de sobrevida livre de progressão de 8 meses.

O PACIFIC é um estudo de fase III que avaliou o papel do DURVALUMAB como sequencial ao tratamento de pacientes que não progrediram após o tratamento combinado de quimioterapia e radioterapia. 

Estudo conduzido em 26 países, total de 235 centros. 713 pacientes foram randomizados 2:1, para receber durvalumab ou placebo por 12 meses. End-points foram sobrevida livre de progressão e sobrevida global. Os resultados de análise interina previamente programada apresentada na sessão presidencial da ESMO demonstrou um PFS de 16,8 meses no braço do durvalumab comparado ao placebo que encontrou 5,6 meses, a hazard ratio foi de 0,52. O benefício foi consistente em todos subgrupos. Os dados de sobrevida global ainda estão imaturos, importante termos esses dados. 

O durvalumab demonstrou um benefício em redução progressão de doença em torno de 48%. Estamos quebrando os paradigmas em oncologia torácica e ganhando novos desafios, especialmente superar as barreiras do acesso. 

Referência: Abstract LBA1_PR 'PACIFIC: A double-blind, placebo-controlled Phase III study of durvalumab after chemoradiation therapy (CRT) in patients with Stage III, locally advanced, unresectable NSCLC' - L. Paz-Ares et al