O estudo APHINITY foi projetado para avaliar se a adição de pertuzumabe ao tratamento adjuvante com trastuzumabe e quimioterapia melhora os resultados de pacientes com câncer de mama HER2 positivo em estágio inicial. Os dados foram apresentados dia 5 de junho durante a ASCO 2017 (LBA500). “É um estudo que traz um grande dilema, entre seguir o que é estatisticamente significativo e o que é clinicamente relevante”, avaliou o oncologista brasileiro Sergio Azevedo (foto), do Hospital do Câncer Mãe de Deus.
Foto: Divulgação HCMD
Liderado por Gunter Von Minckwitz, do grupo alemão de pesquisa em câncer de mama, o estudo APHINITY selecionou 4805 pacientes com câncer de mama HER2 positivo em estágio inicial, randomizados 1:1 para receber tratamento padrão com trastuzumabe (T) e quimioterapia (Q) ou a combinação de trastuzumabe (T) mais pertuzumabe (P). O APHINITY permitiu a utilização de diferentes regimes quimioterápicos, assim como considerou o uso de radioterapia e/ou terapia endócrina ao final da quimioterapia adjuvante. Os pacientes elegíveis para o estudo tinham tumor > 1,0 cm, T1-3 e foram inscritos tanto pacientes com doença nodal positiva como pacientes sem disseminação nodal (pN0). O desfecho primário foi sobrevida livre de doença invasiva (iDFS).
Resultados
4805 pacientes cumpriram os critérios de seleção e foram randomizados para C e T mais P (N = 2400) ou para trastuzumabe mais placebo (N = 2405). As características tumorais foram bem equilibradas entre os braços, com 63% dos pacientes com doença nodal e 36% com receptores hormonais negativos. Os tratamentos P e Pla foram concluídos em 84,5% e 87,4% desses pacientes, respectivamente. Os eventos de IDFS ocorreram em 171 pacientes do braço que recebeu adição de pertuzumabe (7,1%) e em 210 (8,7%) pacientes do braço placebo-controle (hazard ratio (HR) 0.81 (95% CI 0.68-1.00), P = 0.045). As estimativas de IDFS em 3 anos foram de 94,1% e 93,2% nos braços P e Pla, respectivamente. A coorte nódulo positiva teve uma taxa de IDFS de 3 anos de 92,0% para P em comparação com 90,2% para Pla (HR 0,77 (IC 95% 0,62-0,96), P = 0,019). A coorte pN0 teve uma taxa de IDFS de 3 anos de 97,5% para P e de 98,4% para Pla; HR = 1,13 (IC 95%: 0,68-1,86).
O perfil de segurança de P foi consistente com os ensaios anteriores. Tanto o desfecho cardíaco primário (insuficiência cardíaca ou morte por causa cardíaca) quanto o desfecho cardíaco secundário (declínio assintomático ou ligeiramente sintomático da fração de ejeção) foram pouco frequentes, presentes em 0,7% vs 0,3% e em 2,7% contra 2,8%, nos braços P e Pla, respectivamente. Diarréia ≥3 foi mais frequente com P (9,9% vs 3,7%).
Em conclusão, o APHINITY atingiu seu principal endpoint e ampliou o intervalo livre de doença, mas o benefício modesto deixa dúvidas sobre o real impacto na prática clínica. Não foram identificados novos sinais de segurança (NCT01358877).
“O ganho absoluto é de 1,7% e esse benefício é estatisticamente significativo”, diz Azevedo. No entanto, o oncologista não acredita que os dados tragam impacto na prática clínica. “O desafio é olhar esse dado de 1,7% e perguntar se isso é clinicamente importante para os nossos pacientes”, avalia. “É um estudo positivo, mas não acho que na segunda-feira meus pacientes com esse cenário vão querer o incômodo e o gasto do duplo bloqueio para um benefício desse tamanho”.
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Ouça depoimento do oncologista Sergio Azevedo, do Hospital do Câncer Mãe de Deus, sobre os resultados do estudo:
Referências:
Referência: Abstract LBA500: APHINITY trial (BIG 4-11): A randomized comparison of chemotherapy (C) plus trastuzumab (T) plus placebo (Pla) versus chemotherapy plus trastuzumab (T) plus pertuzumab (P) as adjuvant therapy in patients (pts) with HER2-positive early breast cancer (EBC). - Gunter Von Minckwitz - Citation: J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr LBA500)
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APHINITY – duplo bloqueio HER2 na adjuvância
ASCO 2017