Introdução: O estabelecimento da associação do microbioma oral com o risco de câncer pode levar a avanços significativos na compreensão da etiologia do câncer. Objetivo: Realizar uma revisão narrativa de literatura em busca de quais as evidências atuais no que se refere à disbiose microbiana oral e o câncer. Metodologia: Trata-se de uma revisão de literatura narrativa, em que foi realizada uma busca aleatória, sem recorte temporal, por artigos científicos em português e inglês a respeito do tema, nas bases de dados PubMed, SciELO, Cochrane e Google Scholar. Resultados: A busca resultou em 45 artigos que elencaram a associação do microbioma com o câncer na cavidade oral e em outros órgãos e consistiram em cinco revisões da literatura, nove revisões sistemáticas sem e com meta-análise, 21 ensaios clínicos randomizados, oito coortes prospectivas e retrospectivas e dois casos-controle, que foram publicados entre 2002 e 2020. Conclusão: Alguns estudos apoiam a hipótese de que altos níveis de doença periodontal aumentam o risco de câncer oral. Embora a ligação entre inflamação e câncer esteja bem estabelecida, as evidências na literatura científica sobre a associação de doença periodontal com neoplasias malignas não necessariamente da cavidade oral permanecem limitadas e inconsistentes, com alguns estudos relatando associações positivas. Fatores de virulência bem caracterizados de Fusobacterium nucleatum e Porphyromonas gingivalis podem funcionar como moléculas efetoras na transição de células epiteliais normais para células neoplásicas. No contexto da abordagem de biologia computacional no desenvolvimento de novos fármacos, as referidas moléculas podem representar novos alvos para intervenção terapêutica.
Daniel Cohen Goldemberg é estomatologista e patologista bucal, Honorary Oral Medicine Senior Lecturer – University College London (UCL), e pesquisador do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (COPQ-INCA).