EMPOWER-Cervical 1: cemiplimabe no câncer de colo de útero recorrente

andreia melo 2020 bxEm pacientes com câncer de colo de útero recorrente após quimioterapia de primeira linha contendo platina, o anticorpo anti-PD-1 cemiplimabe conferiu sobrevida significativamente maior em comparação com a quimioterapia de agente único de escolha do investigador. Os resultados do estudo de Fase III EMPOWER-Cervical 1 foram publicados na New England Journal of Medicine (NEJM), em artigo com a participação da oncologista Andreia Melo (foto), chefe da Divisão de Pesquisa Clínica e Desenvolvimento Tecnológico do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e Diretora de Pesquisa do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG).

Pacientes com câncer de colo de útero recorrente têm um prognóstico reservado. Aprovado para o tratamento de pacientes com câncer de pulmão e pele, o anticorpo anti-PD-1 cemiplimabe havia demonstrado atividade clínica preliminar nessa população.

Neste estudo de Fase III foram inscritos pacientes que tiveram progressão da doença após quimioterapia contendo platina de primeira linha, independentemente do status de PD-L1. As mulheres foram randomizadas (1:1) para receber cemiplimabe (350 mg a cada 3 semanas) ou a quimioterapia de escolha do investigador como agente único. O endpoint primário foi a sobrevida global; também foram avaliadas a sobrevida livre de progressão e segurança. 

Resultados

Um total de 608 mulheres foram incluídas (304 em cada grupo). Na população geral do estudo, a mediana de sobrevida global foi maior no grupo de cemiplimabe em comparação com o grupo de quimioterapia (12,0 meses vs. 8,5 meses; taxa de risco para morte, 0,69; IC 95% 0,56 a 0,84; bilateral P<0,001). O benefício de sobrevida global foi consistente em ambos os subtipos histológicos (carcinoma de células escamosas e adenocarcinoma, incluindo carcinoma adenoescamoso).

A sobrevida livre de progressão também foi maior no grupo cemiplimabe do que no grupo de quimioterapia na população geral (taxa de risco para progressão da doença ou morte, 0,75; IC 95% 0,63 a 0,89; P <0,001 bilateral). Na população geral, uma resposta objetiva ocorreu em 16,4% (IC 95% 12,5 a 21,1) dos pacientes do grupo cemiplimabe, em comparação com 6,3% (IC 95% 3,8 a 9,6) no grupo de quimioterapia.

Uma resposta objetiva ocorreu em 18% (IC 95% 11 a 28) das pacientes tratadas com cemiplimabe com expressão PD-L1 maior ou igual a 1% e em 11% (IC 95% 4 a 25) daquelas com expressão de PD-L1 inferior a 1%. Em geral, eventos adversos de grau 3 ou superior ocorreram em 45% das pacientes que receberam cemiplimabe e em 53,4% daquelas que receberam quimioterapia.

“O câncer de colo de útero ainda é uma neoplasia bastante incidente e com mortalidade alta, infelizmente. No cenário da doença avançada após a progressão à quimioterapia de primeira linha as opções são limitadas e a quimioterapia, que era o tratamento padrão antes dos resultados animadores com a imunoterapia, trazia poucas respostas objetivas, sem impacto relevante em sobrevida global. O estudo EMPOWER-Cervical 1 mostra um indiscutível ganho em sobrevida global. Além disso tal estudo destaca a importância da pesquisa clínica no Brasil, com vários centros participantes incluindo o principal centro recrutador do mundo para o Fase III”, destaca Andreia.

O estudo foi financiado pela Regeneron Pharmaceuticals e Sanofi; EMPOWER-Cervical 1/GOG-3016/ENGOT-cx9 ClinicalTrials.gov número, NCT03257267.

Referência: Survival with Cemiplimab in Recurrent Cervical Cancer - Krishnansu S. Tewari, M.D., Bradley J. Monk, M.D., Ignace Vergote, M.D., Austin Miller, Ph.D., Andreia C. de Melo, M.D., Ph.D., Hee-Seung Kim, M.D., Yong Man Kim, M.D., Ph.D., Alla Lisyanskaya, M.D., Ph.D., Vanessa Samouëlian, M.D., Ph.D., Domenica Lorusso, M.D., Ph.D., Fernanda Damian, M.D., Chih-Long Chang, M.D., Ph.D., et al.,  for the Investigators for GOG Protocol 3016 and ENGOT Protocol En-Cx9* - February 10, 2022 N Engl J Med 2022; 386:544-555 DOI: 10.1056/NEJMoa2112187