GLOBOCAN 2018: carga global do câncer

Globocan 2018 NET OKA Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) divulgou as estimativas mais recentes sobre a carga global do câncer, indicando 18,1 milhões novos casos e 9,6 milhões de mortes por câncer em 2018. O banco de dados GLOBOCAN 2018, parte do IARC Global Cancer Observatory, fornece estimativas de incidência e mortalidade em 185 países para 36 tipos de câncer e para todos os tumores combinados. A análise dos resultados publicada no Cancer Journal for Clinicians destaca a grande diversidade geográfica na ocorrência de câncer e as variações na magnitude e perfil da doença entre as regiões. Elisabete Weiderpass, diretora-eleita do IARC, e Liz Almeida, gerente da Divisão de Pesquisa Populacional do INCA, comentam os resultados.

Segundo as estimativas, um em cada cinco homens e uma em cada seis mulheres em todo o mundo desenvolvem câncer durante a vida, e um em cada oito homens e uma em cada 11 mulheres morrem da doença. Em todo o mundo, o número total de pacientes vivos 5 anos após o diagnóstico da doença é estimado em 43,8 milhões.

O aumento da carga de câncer é devido a vários fatores, incluindo o crescimento populacional e o envelhecimento, bem como a prevalência na mudança de certas causas de câncer ligadas ao desenvolvimento social e econômico, especialmente em economias em rápido crescimento, onde se observa uma mudança de tumores relacionados à pobreza e infecções para cânceres associados a estilos de vida típicos de países industrializados. Esforços de prevenção eficazes podem explicar a diminuição observada nas taxas de incidência de alguns tumores, como câncer de pulmão (por exemplo, em homens do Norte da Europa e América do Norte) e câncer do colo do útero (por exemplo na maioria das regiões, exceto na África Subsaariana). “A queda na taxa de incidência do câncer de pulmão em algumas áreas do mundo é uma exclen te notícia. No Brasil, essa diferença foi ainda maior. Enquanto o câncer de pulmão lidera os tipos de câncer no mundo, no Brasil não é mais o primeiro já há algum tempo”, afirma Liz Almeida.

Liz acrescenta que os tumores relacionados com regiões de nível de desenvolvimento social e econômico mais baixo também estão relacionados com as regiões menos desenvolvidas do Brasil. “O Brasil funciona como um espelho disso. Regiões mais e menos desenvolvidas presentam incidência diferentes de determinados tipos de câncer. O maior exemplo disso é o câncer de colo de útero. Enquanto no consolidado do país ele está em terceiro lugar entre as mulheres, na região norte ele é o câncer mais prevalente nas mulheres. É uma doença que tem um fator infeccioso, um vírus, e para controlar essa doença é preciso ter uma população esclarecida, acesso aos exames preventivos, ao tratamento das lesões precursoras. E para isso o sistema tem que funcionar. Ele pode até detectar, mas se não tratar, essa mulher vai ter câncer no futuro. Isso mostra claramente que temos regiões mais e menos desenvolvidas”, diz.

Apesar das diferenças regionais, os novos dados mostram que a maioria dos países ainda se depara com um aumento no número absoluto de casos diagnosticados. Os padrões globais mostram que, para homens e mulheres combinados, quase metade dos novos casos e mais da metade das mortes por câncer em todo o mundo em 2018 são estimados na Ásia, em parte porque a região tem quase 60% da população mundial.

A Europa responde por 23,4% dos casos globais de câncer e 20,3% das mortes pela doença, embora concentre apenas 9% da população mundial. As Américas têm 13,3% da população global e representam 21% de incidência e 14,4% de mortalidade em todo o mundo. Em contraste com outras regiões do mundo, as proporções de mortes por câncer na Ásia e na África (57,3% e 7,3%, respectivamente) são maiores do que as proporções de casos incidentes (48,4% e 5,8%, respectivamente), porque essas regiões têm maior frequência de certos tipos de câncer associados a pior prognóstico e maiores taxas de mortalidade, além de acesso limitado a diagnóstico e tratamento oportuno em muitos países.

Principais tipos de câncer em 2018

Os cânceres de pulmão, mama feminina e colorretal são os três principais tipos de câncer em termos de incidência, e estão classificados entre os cinco primeiros em termos de mortalidade (primeiro, quinto e segundo, respectivamente). Juntos, esses três tipos de câncer são responsáveis ​​por um terço da incidência de câncer e da carga de mortalidade em todo o mundo.

Os tumores de pulmão e mama feminina são os principais tipos em todo o mundo em termos do número de novos casos; para cada um desses tipos, aproximadamente 2,1 milhões de diagnósticos são estimados em 2018, contribuindo com cerca de 11,6% da carga total de incidência de câncer. O câncer colorretal (1,8 milhões de casos, 10,2% do total) é o terceiro câncer mais comumente diagnosticado, o câncer de próstata é o quarto (1,3 milhão de casos, 7,1%) e o câncer de estômago é o quinto (1,0 milhão de casos, 5,7%). O câncer de pulmão também é responsável pelo maior número de óbitos (1,8 milhão de óbitos, 18,4% do total), pelo mau prognóstico do tumor, seguido pelo câncer colorretal (881 mil mortes, 9,2%), câncer de estômago (783 000 mortes, 8,2%), e câncer de fígado (782.000 mortes, 8,2%).

O câncer de mama feminino é a quinta maior causa de morte (627 mil mortes, 6,6%), em parte porque o prognóstico é relativamente favorável, ao menos nos países mais desenvolvidos.

Padrões globais por nível de desenvolvimento humano

Para muitos tumores, as taxas de incidência global em países com níveis elevados ou muito elevados de IDH são geralmente 2 a 3 vezes superiores às dos países com níveis de IDH baixos ou médios. No entanto, as diferenças nas taxas de mortalidade entre essas duas categorias de países são menores, por um lado, porque os países com IDH menor têm uma frequência mais alta de determinados tipos de câncer associados à pior sobrevida e, por outro, porque o acesso ao diagnóstico oportuno e ao tratamento eficaz é menos comum.

Nos homens, o câncer de pulmão ocupa o primeiro lugar, com o câncer de próstata na segunda posição em incidência nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nas mulheres, as taxas de incidência de câncer de mama excedem em muito as de outros tumores em países desenvolvidos e em desenvolvimento, seguido pelo câncer colorretal em países desenvolvidos e câncer cervical em países em desenvolvimento.

Padrões globais de câncer por sexo

O câncer de pulmão é o câncer mais comumente diagnosticado em homens (14,5% do total de casos em homens e 8,4% em mulheres) e a principal causa de morte por câncer em homens (22%, ou seja, cerca de uma em cada cinco mortes por câncer). Nos homens, é seguido por câncer de próstata (13,5%) e câncer colorretal (10,9%) para incidência e câncer de fígado (10,2%) e câncer de estômago (9,5%) para mortalidade.

O câncer de mama é o tumor mais comumente diagnosticado em mulheres (24,2%, ou seja, cerca de um em cada 4 casos de câncer diagnosticados em mulheres no mundo). É o câncer mais comum em 154 dos 185 países incluídos no GLOBOCAN 2018. O câncer de mama também é a principal causa de morte por câncer em mulheres (15%), seguido por câncer de pulmão (13,8%) e câncer colorretal (9,5%), que também são o terceiro e segundo tipos mais comuns de câncer, respectivamente. O câncer do colo do útero ocupa o quarto lugar tanto na incidência (6,6%) quanto na mortalidade (7,5%).

“Medidas de prevenção do câncer como eliminação completa do uso de tabaco, restrição do uso de bebidas alcoólicas, vacinação contra o vírus HPV e contra Hepatite B, e detecção precoce de lesões pré-malignas ou de cânceres em estágio precoce (para cancêres de mama, colo do útero e colorretal), junto com diagnóstico e tratamento adequados, poderão ter um impacto substancial na diminuição da incidência e mortalidade por câncer no Brasil no futuro”, ressalta a brasileira Elisabete Weiderpass, diretora-eleita do IARC.

Liz concorda que a principal mensagem das estimativas da IARC é que a prevenção funciona. “Os médicos precisam ficar atentos em relação a isso, e conversar com seus pacientes sobre todos esses fatores de risco – tabagismo, padrão alimentar, atividade física - que envolvem não apenas o câncer, mas outras doenças crônicas. A prevenção tem que ser reforçada, e muitas vezes os especialistas deixam a questão em segundo plano”, alerta.

Referência:  Global Cancer Statistics 2018: GLOBOCAN Estimates of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185 Countries - Freddie Bray BSc, MSc, PhD, Jacques Ferlay ME, Isabelle Soerjomataram MD, MSc, PhD, Rebecca L. Siegel MPH, Lindsey A. Torre MSPH, Ahmedin Jemal PhD, DVM - First published: 12 September 2018 - https://doi.org/10.3322/caac.21492