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AtualizadoSeg, 18 Mar 2024 5pm

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Daichii Sankyo

 

Qualidade da dieta e diminuição do risco de morte em sobreviventes de câncer

CAMILLA MARTINS AVI NET OKSobreviventes de câncer que consumiram uma dieta balanceada e rica em nutrientes tiveram um risco 65% menor de morrer da doença em comparação com os sobreviventes com uma dieta de baixa qualidade. Os resultados publicados no JNCI Cancer Spectrum sugerem que mais do que focar em um grupo alimentar específico, a dieta dos sobreviventes do câncer deve ser rica em vegetais, frutas, grãos integrais, proteínas e laticínios em quantidades recomendadas para idade, altura e peso. A nutricionista Camilla Martins Avi (foto), coordenadora do Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital de Amor (Hospital de Câncer de Barretos), comenta os achados. 

As diretrizes dietéticas para sobreviventes de câncer têm sido limitadas ou se concentram em recomendações alimentares específicas para pessoas com tumores específicos. "Exemplo disso é a orientação para a limitação do consumo de carne vermelha por sobreviventes de câncer de cólon”, disse o autor sênior do estudo, Kalyani Sonawane, professor assistente no Department of Health Services Research, Management and Policy da Universidade da Flórida (UF). "Enquanto as orientações dietéticas para o público em geral avançaram em direção à importância da qualidade da dieta global, essa abordagem não foi extensivamente estudada entre os sobreviventes de câncer. Nossas descobertas evidenciam o conceito emergente de que uma abordagem de dieta global para uma alimentação saudável pode ser mais impactante do que estratégias baseadas em componentes nutricionais específicos", acrescentou.

Segundo a nutricionista Camilla Martins Avi, coordenadora do Serviço de Nutrição e Dietética do Hospital de Amor (Hospital de Câncer de Barretos), uma alimentação equilibrada, saudável e variada, com consumo de vegetais, frutas, hortaliças, grãos integrais e sem excesso de gordura saturada é capaz de oferecer nutrientes e substâncias como os compostos fitoquímicos, que possuem propriedades antimicrobianas, antifúngicas, anti-inflamatórias e antioxidantes que agem sobre os mecanismos biológicos agressores. “A nutrição tem um efeito benéfico na prevenção e na redução do risco de câncer, bem como na recorrência da doença, principalmente nos cânceres de mama, cólon, esôfago, útero, rim e fígado. Em contrapartida, o consumo de açúcar, sódio, gorduras trans, gordura saturada e alimentos ultraprocessados aumenta significativamente o aparecimento da doença”, explica.

Métodos

Foram analisados dados coletados entre 1988 e 1994 pela National Health and Nutrition Examination Survey, um estudo realizado pelo National Center for Health Statistics para avaliar a saúde e o estado nutricional da população norte-americana. Por meio de entrevistas, os participantes relatavam sua alimentação nas últimas 24 horas.

A equipe identificou cerca de 1.200 sobreviventes de câncer entre os participantes e avaliou sua dieta através do Healthy Eating Index, uma medida da qualidade da dieta baseada no U.S. Department of Agriculture’s Dietary Guidelines for Americans. Uma pontuação alta indica uma dieta saudável, o que inclui uma variedade alimentar suficiente em conformidade com as recomendações para ingestão de frutas, legumes, grãos integrais, proteínas, laticínios, gordura saturada, colesterol e sódio.

Os pesquisadores relacionaram os participantes do estudo aos registros do National Center for Health Statistics Linked Mortality Files até 2011. Durante um acompanhamento médio de 17,2 anos, 607 participantes morreram.

Resultados

Os sobreviventes de câncer que tiveram alta pontuação no Healthy Eating Index apresentaram 65% menos probabilidade de morrer de câncer do que os sobreviventes que ingeriram uma dieta de baixa qualidade. Uma dieta de alta qualidade (maior escore da IHE no quartil) foi associada à redução do risco de mortalidade global (hazard ratio [HR] = 0,59, 95% IC = 0,45 a 0,77) e câncer-específica (HR = 0,35, 95 IC% = 0,19 a 0,63), quando comparados com uma dieta de baixa qualidade (menor pontuação no IHQ).

Os pesquisadores analisaram componentes individuais da dieta, como o consumo de sal ou carne, mas descobriram que o mais forte preditor de redução do risco de mortalidade foi baseado na dieta global. “Nossos resultados destacam a importância de uma abordagem de "dieta global" para melhorar a sobrevida entre pacientes com câncer”, ressaltam.

O estudo também examinou a dieta e mortalidade para sobreviventes de todos os cânceres, bem como para subgrupos de sobreviventes de câncer de pele e de mama. "Os resultados foram consistentes entre esses subgrupos - uma dieta saudável foi associada à diminuição do risco de mortalidade, seja a mortalidade por qualquer causa ou mortalidade câncer-específica ", disse Ashish A. Deshmukh, professor assistente no UF Department of Health Services Research, Management and Policy e um dos autores do estudo.

Os pesquisadores concluíram que o estudo fornece evidências iniciais dos benefícios de uma abordagem de dieta global para sobreviventes de câncer e que mais pesquisas são necessárias, como estudos que permitam identificar as combinações ideais de alimentos e os mecanismos pelos quais essas combinações afetam os resultados do câncer.

“É de extrema importância a orientação do paciente oncológico em relação à necessidade da mudança dos hábitos alimentares, seja para auxiliar o tratamento ou reduzir o risco de reincidência do tumor. A mudança dos hábitos alimentares melhora o prognóstico do paciente, a resposta ao tratamento, e reduz as chances de recidiva”, diz Camila.

A especialista ressalta que ao associar a alimentação equilibrada à prática de exercícios físicos há diminuição no risco de morte e do retorno da doença. “No entanto, seu impacto não deve impedir ou se confundir com as medidas médicas comprovadas, como a cirurgia ou mesmo a quimioterapia, que devem ser parte integrante do tratamento”, observa. 

Entre as limitações do estudo estão o fato da ingestão alimentar no NHANES ser auto-relatada e ter como base as 24 horas anteriores à entrevista, o que pode não representar um comportamento dietético habitual. “Além disso, os resultados podem ser confundidos devido a outros motivos além da dieta, como estilo de vida (por exemplo, atividade física), vigilância do câncer e tratamento”, observam os autores.

O estudo foi realizado com apoio do National Cancer Institute.

Referência: The Association Between Dietary Quality and Overall and Cancer-Specific Mortality Among Cancer Survivors, NHANES III - Ashish A Deshmukh Shervin M Shirvani Anna Likhacheva Jagpreet ChhatwalElizabeth Y Chiao Kalyani Sonawane - JNCI Cancer Spectrum, Volume 2, Issue 2, 1 April 2018, pky022,https://doi.org/10.1093/jncics/pky022 - Published: 05 June 2018

 


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