Câncer de ovário seroso e microambiente tumoral

EVA ANGELICA NET OKEstudo publicado dia 2 de outubro na Clinical Cancer Research com o objetivo de ampliar a compreensão da biologia molecular do câncer de ovário seroso de alto grau (HGSOC) traz novos dados sobre a doença primária e recorrente. A oncologista Angélica Nogueira-Rodrigues (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG), comenta os principais achados.

A maioria dos pacientes com câncer de ovário seroso de alto grau (HGSOC) desenvolve doença recorrente após o tratamento de primeira linha. O comportamento clínico da doença recorrente muitas vezes difere do da doença inicial e também entre pacientes recidivadas.

Os pesquisadores avaliaram os perfis de expressão gênica de tumores primários e recorrentes, a partir de amostras congeladas de 66 pacientes com HGSOC. As características moleculares foram obtidas por sequenciamento de RNA.

Resultados

As amostras de tumores primários e recorrentes de HGSOC apresentaram diferenças na expressão de genes em seu microambiente, identificadas por um painel genético que considerou todas as principais vias de ativação imune, além dos genes envolvidos na remodelação da matriz extracelular e dos tecidos adiposos.

As alterações encontradas no tecido tumoral foram estratificadas em grupos imunes ativos e silenciosos. Os pesquisadores identificaram que, enquanto alguns tumores recorrentes compartilhavam o mesmo status imunológico que os seus equivalentes primários, outros alteravam o status imune, passando do status silencioso ao ativo ou do ativo ao silencioso. Curiosamente, os genes pertencentes à família dos checkpoints imunológicos B7-CD28, conhecidos por seu papel como reguladores da resposta imune, foram sobre-expressos nos tumores com status imunológico ativo.

O estudo também identificou um membro da família de antígenos carcinoembrionários – o CEACAM21 – que foi significativamente superexpresso em tecidos imunes ativos.

Em conclusão, os resultados ilustram a complexidade do microambiente tumoral em HGSOC e revelam a relação molecular entre tumores primários e recorrentes, com múltiplas implicações terapêuticas. Estes dados trazem luz à complexa biologia do HGSOC. Sob esta mesma denominação, HGSOC, encontram-se doenças distintas, com respostas terapêuticas variadas quando da exposição ao tratamento medicamentoso. O status imune ativo versus silencioso pode ser testado como um biomarcador para a seleção de pacientes para estudos clínicos. A correta seleção de pacientes para imunoterapia aumenta o potencial de estudos positivos e de ampliação de estratégias terapêuticas para esta doença com tão alta mortalidade.

Referências:

C Kreuzinger e t al. A complex network of tumor microenvironment in human high grade serous ovarian cancer.
Clin Cancer Res. 2017
Published OnlineFirst October 2, 2017
doi: 10.1158 / 1078-0432.CCR-17-1159