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AtualizadoQua, 27 Mar 2024 5pm

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Daichii Sankyo

 

Medicina de precisão em pacientes com câncer avançado

dr_casali_Bx.jpgA utilização de terapias-alvo baseada em painéis de sequenciamento multigênico está associada a melhores taxas de sobrevida livre de progressão em pacientes com doze tipos diferentes de câncer metastático previamente tratados. Os resultados do estudo prospectivo Molecular Screening for Cancer Treatment Optimization (MOSCATO 01) foram publicados online no Cancer Discovery, periódico da American Association for Cancer ResearchO oncogeneticista José Claudio Casali (foto), do Grupo Oncoclínicas (foto), comenta para o Onconews.

"A identificação de drivers genômicos do câncer e o desenvolvimento de terapias-alvo levaram à hipótese de que o teste de um grande número de genes em todos os tipos de tumores poderia melhorar os resultados para pacientes com câncer avançado", disse Fabrice André, diretor de pesquisa e professor no Departamento de Oncologia Médica do Institut Gustave Roussy em Villejuif, França. "No entanto, até agora não havia evidência de que tal abordagem realmente proporciona melhores resultados", acrescentou.  
 
Para verificar se a identificação de terapias-alvo usando um painel multigênico melhoraria os resultados dos pacientes em um ensaio clínico, os pesquisadores do Gustave Roussy compararam a sobrevida livre de progressão (SLP) sob a medicina de precisão com a SLP observada antes do paciente entrar no estudo. “Cada paciente era, portanto, seu próprio controle", afirmou Jean Charles Soria, oncologista do instituto francês e um dos autores do trabalho.
 
Métodos
 
Entre 2011 e 2016 foram inscritos no estudo 1.035 pacientes adultos com câncer avançado, irressecável ou metastático, que haviam progredido após pelo menos uma linha de terapia prévia (média de quatro terapias). Os investigadores obtiveram biópsia do tumor de 948 doentes, e o sequenciamento do DNA foi realizado em 843 participantes. Um alvo acionável foi identificado em 411 pacientes, e destes, 199 receberam uma terapia-alvo correspondente à alteração genômica identificada.
 
Os tipos de câncer mais comuns incluíram tumores do trato digestivo (21% das amostras de pacientes sequenciados), pulmão (18%), urológico (16%), mama (14%) e cabeça e pescoço (12%). Nesses tumores, as alterações mais frequentes foram observadas nos genes PIK3CA, ERBB2, PTEN, FGFR1, EGFR e NOTCH.
 
O objetivo primário foi avaliar o benefício clínico, medido pela porcentagem de pacientes que atingiram um intervalo de sobrevida livre de progressão na terapia combinada (PFS2) 1,3 vezes superior ao intervalo de SLP obtido com a terapia prévia (PFS1).
 
Resultados
 
Os resultados do estudo mostraram uma razão PFS2/PFS1 > 1,3 em 33% dos doentes. As respostas objetivas foram observadas em 22 dos 194 pacientes (11%, 95% CI, 7% -17%), sendo duas respostas completas e 20 respostas parciais.Cem pacientes tiveram doença estável e 33 apresentaram doença progressiva. A mediana de sobrevida global foi de 11,9 meses.
 
"Este é o primeiro ensaio de medicina de precisão a mostrar que a análise do DNA melhora as opções de tratamento para pacientes com câncer em estágio avançado", disse Soria. Esses resultados são particularmente emocionantes porque em alguns casos estávamos testando drogas experimentais e descobrimos que poderíamos retardar o crescimento de tumores em cerca de um em cada cinco pacientes com câncer avançado", afirmou.
 
Entre as limitações do trabalho estão o fato do estudo não ter sido randomizado e, portanto, os resultados dos pacientes que receberam terapias-alvo não puderam ser comparados com os resultados daqueles que receberam terapias não-direcionadas ou com os resultados de pacientes com doença semelhante, mas sem as alterações genômicas correspondentes.
 
Segundo os autores, os resultados precisam ser validados em um estudo randomizado maior.
 
O estudo foi financiado pela Fundação Gustave Roussy (Revolution Cancer initiative), INCa-DGOS-INSERM 6043 (SIRIC SOCRATE) e ANR-10-IBHU-0001(MMO).

Desafios da oncologia de precisão 
 
Por José Cláudio Casali
 
O estudo responde a questão de que a oncologia de precisão já é um caminho sem volta. Porém, expõe que ainda são poucos os privilegiados que tem tumores passíveis de terapia-alvo direcionada. De fato, os benefícios gerais são evidentes, mas um estudo randomizado com análise custo-efetividade é desejado para corroborar as vantagens da oncologia de precisão. 
 
O estudo elegantemente incluiu amostras de tumor fresco e realizou a análise completa de todos os tipos de mutações, fusões e rearranjos; muito diferente da nossa realidade que lida com amostras de tumor formolizado e emblocado em parafina, a maioria absoluta sem qualquer tamponamento, o que interfere negativamente na eficiência das reações moleculares e limita os tipos de análises. A aplicação da oncologia de precisão irá exigir uma revolução na preservação da qualidade do material genético, no transporte e armazenamento de amostras, no tempo de análise do perfil molecular até o início do tratamento, e finalmente, na monitorização das repostas com marcadores biomoleculares.
 
O desafio só aumenta quando pensamos no preparo dos oncologistas para atuarem com ética e dignidade em benefício do paciente com câncer diante de tanta tecnologia e interesses financeiros. Os mais antigos já viram muitas curas definitivas do câncer surgirem e depois de algum tempo perderem seu brilho. O que importa é que está claro que a cura do câncer só vai ser conseguida quando a integração de múltiplas abordagens se sobrepor aos mecanismos de sobrevivência e adaptação das células tumorais.
 
Referência: High-Throughput Genomics and Clinical Outcome in Hard-to-Treat Advanced Cancers: Results of the MOSCATO 01 Trial - Massard C, Michiels S, Ferté C, et al. -  Cancer Discov. 2017 Apr 1. doi: 10.1158/2159-8290.CD-16-1396 [Epub ahead of print]


 

 

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