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AtualizadoSeg, 18 Mar 2024 5pm

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Daichii Sankyo

 

Apoio à prática médica

CELULAR BAIXAAplicativos desenvolvidos por especialistas brasileiros contribuem para a tomada de decisão e ajudam a disseminar o melhor padrão de cuidados.

Não é de hoje que os aplicativos chegaram à rotina médica como ferramentas que auxiliam a prática diária. A novidade é o interesse e participação de especialistas brasileiros no desenvolvimento de diferentes soluções.

Diversos aplicativos se propõem a trazer rotinas terapêuticas, calculadoras médicas e algoritmos para facilitar a tomada de decisão e disseminar boas práticas.

Foi justamente essa a ideia do mastologista Gustavo Zucca-Matthes, coordenador do departamento de mastologia e do Centro de Treinamento em Oncoplástica Mamária do Hospital de Câncer de Barretos, ao desenvolver o aplicativo ‘Oncoplastic Breast Surgery’.

O objetivo é compartilhar e disseminar conhecimento sobre cirurgia oncoplástica e reconstrução mamária. “Detectamos uma lacuna de informação na área e resolvemos fazer um aplicativo que pudesse ser utilizado mesmo em regiões sem acesso fácil à internet. Uma vez feito o download, o aplicativo funciona off-line”, explica.

A ferramenta traz uma relação de sites para pesquisa, vídeos que ilustram procedimentos cirúrgicos, além de dicas para a escolha de implantes mamários, com orientações baseadas nas características de cada paciente. “O usuário fornece informações sobre tamanho da mama, tamanho do tumor e localização. A partir dessas informações, o algoritmo sugere técnicas específicas, adequadas para aquele perfil de paciente", explica Zucca-Matthes. "O aplicativo ainda oferece um vídeo específico sobre a técnica cirúrgica sugerida, com orientação de como realizar a cirurgia", acrescenta.

Em determinadas situações a ferramenta recomenda evitar a reconstrução, fazer a mastectomia clássica ou mesmo discutir com a paciente. “Em alguns casos, pode não ser recomendada a reconstrução imediata. Se muita pele foi retirada, se a pele está em mal estado ou, ainda, se o tumor é um carcinoma inflamatório, são condições que ilustram a necessidade de postergar a cirurgia reconstrutora. São indicações e contraindicações, relativas e absolutas. Depende de cada situação”, diz.

Manejo de sintomas

A Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP) lançou em dezembro um aplicativo que pretende auxiliar os médicos na avaliação e no planejamento do cuidado prestado ao paciente. Idealizado pelos estudantes de medicina Gabriel Drumond Ferreira e Gabriela Nóbrega Mendonça, o aplicativo ‘Manejo de Sintomas’ foi coordenado pelo vice-presidente da ANCP, o geriatra André Filipe Junqueira dos Santos. O desenvolvimento do aplicativo também teve apoio de graduandos da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA), do Instituto de Medicina Integrada Prof. Francisco Figueira (IMIP) e suporte da Mundipharma. “É importante deixar claro que ele é um facilitador, não substitui a consulta médica”, ressalta Junqueira.

Na primeira versão estão contemplados oito sintomas considerados os mais prevalentes: dor, dispneia, náuseas e vômitos, constipação, depressão, ansiedade, caquexia e fadiga. A ideia é chegar em até vinte sintomas em futuras atualizações.

O aplicativo lançado pela ANCP utiliza como referência o Edmonton Symptom Assessment System (ESAS) para definir a intensidade dos sintomas. A partir dessa escala, a ferramenta guia o usuário pela avaliação clínica para definir um planejamento de conduta. “Partimos do pressuposto de que o profissional já fez uma boa anamnese e um bom exame físico. Em quase todos os sintomas a palavra fundamental é percepção", alerta o geriatra. "O mesmo estímulo doloroso, a mesma náusea, cada pessoa sente de uma maneira diferente. Esse é o grande desafio. O manejo do sintoma sempre é proporcional à intensidade que o paciente relata. Agora, se é fator emocional, físico, espiritual, cabe ao médico interpretar”, diz. De acordo com os sintomas relatados pelo paciente e o grau de intensidade, a ferramenta sugere um algoritmo de manejo baseado nos guidelines de melhores práticas.

Outro importante diferencial da ferramenta é uma calculadora de conversão de opioides apenas com os medicamentos disponíveis no Brasil, dialogando diretamente com a prática do médico brasileiro.“Nas calculadoras internacionais existem vários opioides que não estão disponíveis na nossa realidade e aqueles que utilizamos aqui muitas vezes não são contemplados", observa.

Estadiamento do câncer de mama

A 8a edição da classificação TNM no câncer de mama, elaborada pelo American Joint Committee on Cancer (AJCC), entra em vigor a partir de janeiro de 2018, trazendo importantes mudanças no estadiamento anatômico e prognóstico. Este último, com nova atualização em novembro de 2017, foi subdividido em estadiamento prognóstico clínico e estadiamento prognóstico patológico. Ao invés das três variáveis clássicas (TNM), sete variáveis passam a ser incorporadas na definição do estadiamento prognóstico, tanto clínico quanto patológico (N M G HER2 RE RP (T – tumor; N – nódulo; M- metástase, G - grau histológico; status HER2, status receptor hormonal e status receptor de progesterona).

“É uma mudança de paradigma na forma como estadiamos a paciente com câncer de mama. Em alguns casos, ainda teremos o OncotypeDX®, totalizando oito variáveis para a definição do estadiamento prognóstico patológico neste subgrupo de pacientes”, explica o mastologista Wesley Andrade, médico do Instituto de OncoMastologia. “Com todas essas variáveis, o número de combinações ultrapassa 700 possibilidades em relação ao estadiamento prognóstico clínico e mais de 700 possibilidades em relação ao estadiamento prognóstico patológico”, acrescenta.

Para facilitar o trabalho do médico, o especialista desenvolveu o aplicativo ‘TNM8 Breast Cancer Calculator’, uma ferramenta que a partir da inserção dos dados TNM G HER2 RE RP gera tanto o clássico estadiamento anatômico, quanto o novo estadiamento prognóstico. “A maior parte dos médicos ainda não tomou conhecimento da mudança. Estabelecer o prognóstico ficou muito mais complexo. Nosso objetivo é ajudar o médico a incorporar com mais facilidade e agilidade o novo estadiamento na prática clínica”.

Cirurgia Oncológica

Aferir a qualidade da cirurgia oncológica e promover a educação continuada para a excelência dos procedimentos cirúrgicos no tratamento do câncer. Esse é o objetivo do aplicativo idealizado pelo cirurgião oncológico Jorge Lyra, professor-assistente de cirurgia da Universidade Federal do Maranhão. A ferramenta entrou em fase de testes no final de novembro.

Segundo Lyra, a ideia do aplicativo surgiu de um programa de qualidade solicitado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), ainda na gestão do médico Felipe Coimbra. “É um programa que tem o objetivo de promover boas práticas de cirurgia oncológica. É totalmente voluntário e aquele hospital que aderir passa a ter um suporte, por exemplo, com a possibilidade de integrar reuniões multidisciplinares, onde os casos daquele serviço são discutidos por vários especialistas– e a gente sabe que isso gera resultados melhores para o paciente”, diz. O programa busca levantar quantas cirurgias oncológicas cada centro realiza e se tem programas de cirurgia segura ou programas de acreditação.

Outro aspecto fundamental é avaliar as taxas de complicação e os resultados oncológicos, como sobrevida livre de doença e qualidade de vida. “O objetivo é registrar os dados do paciente, se fistulizou, se houve infecção e de que tipo, enfim, compilar esses resultados para permitir o acompanhamento”, explica Lyra.

Segundo o especialista, podem participar serviços públicos e privados. A única exigência é ser associado da SBCO, mas se um médico da instituição for associado, o hospital como um todo pode participar. Os hospitais e médicos que aderirem terão seus dados absolutamente resguardados. A ideia do programa não é criticar, nem ter caráter punitivo, mas promover a melhoria dos serviços. Aquele hospital que mostrar uma taxa alta de complicações em determinado procedimento, vai receber todo o amparo necessário. “Só vamos avançar se formos capazes de mapear o problema e abrir caminhos para o diálogo na busca de soluções. O objetivo final é reduzir as complicações e, com isso, ter resultados melhores para a cirurgia oncológica. Quem vai se beneficiar de todo esse esforço é o paciente”, afirma.

“Estamos ainda em uma primeira fase, mas o intuito é ter dados de longo prazo, e a partir desse aplicativo ter um grande banco de dados para acompanhar a qualidade e a evolução da cirurgia oncológica no Brasil”, conclui.


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