A pergunta “surpresa” em pacientes com câncer avançado: um estudo prospectivo entre médicos generalistas

logo_ancp_horizontal__1__NET_OK.jpgA decisão de prosseguir com tratamento oncológico ou iniciar os Cuidados Paliativos em pacientes com câncer avançado é muito influenciada pelo prognóstico de cada paciente. 

Sabe-se que a introdução dos Cuidados Paliativos no momento apropriado é capaz de garantir uma melhor qualidade de vida ao doente e sua família, além de diminuir os gastos do sistema de saúde.

Entretanto, atualmente ainda existe uma dificuldade em se estimar a sobrevida dos pacientes com câncer avançado, o que acarreta um atraso na indicação dos Cuidados Paliativos.

 
A proposta desse estudo foi avaliar se a aplicação da pergunta “surpresa” (“você ficaria surpreso se esse paciente morresse no próximo ano?”) permitiria aprimorar a acurácia do prognóstico médico e a identificação adequada de pacientes elegíveis aos Cuidados Paliativos.
 
Entre o período de dezembro de 2011 e fevereiro de 2012, 42 dos 50 médicos generalistas da área de Bolonha (Itália) foram randomicamente selecionados e avaliaram um total de 231 pacientes diagnosticados com câncer avançado (estágio IV). Os profissionais classificaram esses pacientes de acordo com a resposta à pergunta “surpresa” e os acompanharam prospectivamente durante o período de um ano.
 
Os pacientes foram então divididos em dois grupos independentes: SIM (haveria surpresa se morresse no próximo ano) ou NÃO (não haveria surpresa se morresse em um ano).
 
Dos 231 pacientes, os médicos generalistas responderam “NÃO” à pergunta “surpresa” para 126 pacientes (54,5%) e “SIM” para 105 pacientes (45,5%). Após o período de 12 meses, 104 (45%) pacientes haviam morrido, sendo que 87 pacientes (83,7%) estavam no grupo “NÃO”.  A sensibilidade da pergunta “surpresa” foi de 69,3% e a especificidade de 83,6%.
 
Dessa forma, o estudo mostrou que a resposta “NÃO” à pergunta “surpresa” teve uma significativa correlação com a sobrevida em um ano de pacientes com câncer avançado. Por esse motivo, a aplicação dessa pergunta pelos médicos generalistas pode ser considerada como uma ferramenta útil na identificação de pacientes capazes de se beneficiar dos Cuidados Paliativos. Outros fatores prognósticos (como a capacidade funcional ou estado nutricional) podem aprimorar ainda mais o potencial da acurácia prognóstica.
 
O artigo original está disponibilizado gratuitamente no site do jornal Palliative Medicine através do link: http://pmj.sagepub.com/content/28/7/959.full.pdf+html
 
Flávia Navi
É geriatra, médica da unidade de cuidados paliativos do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e secretária do capítulo Sudeste da ANCP