Coberturas Especiais

Seleção molecular no câncer de pulmão

Clarissa_Maria_de_Cerqueira_Mathias.jpgO VIII Congresso Franco-Brasileiro de Oncologia dedicou um painel ao tema da seleção molecular em câncer de pulmão, coordenado pela oncologista Clarissa Mathias (foto). Na última década, tornou-se evidente que os subtipos moleculares de câncer de pulmão não pequenas células (CPNPC) podem influenciar a decisão terapêutica.

As mutações ocorrem em vários oncogenes (AKT1, ALK, BRAF, EGFR, HER2, KRAS, MEK1, MET, NRAS, PIK3CA, RET e ROS1) e são responsáveis por induzir e sustentar a tumorigênese.

Para o tratamento do câncer de pulmão não-pequenas células avançado, o uso de inibidores de tirosina-quinase continua a ser o padrão de cuidados para pacientes com mutações EGFR ou fusão ALK, com altas taxas de resposta (60% -70%) e impacto na sobrevida livre de progressão. “Ainda não há um painel universal, mas a seleção terapêutica mostra que a terapia personalizada tem cada vez mais lugar no tratamento do câncer de pulmão não pequenas células”, disse a oncologista.

No entanto, a resistência adquirida aos inibidores de tirosina-quinase persiste como um desafio. “Ainda não conseguimos desvendar os mecanismos de resistência secundária entre os pacientes EGFR mutados”, explica ela.

Segundo o oncologista William Nassib William Junior, do MD Anderson Cancer Center, um dos palestrantes do painel, realmente ainda há muito a aprender. “A cada seis meses, um ano, estamos descobrindo um marcador novo em câncer de pulmão. Mas o que temos disponível agora é bem diferente do que tínhamos um ou dois anos atrás, e isso só tende a crescer”, disse.

Combinação

Os dados disponíveis sobre a combinação de quimioterapia mais um inibidor de tirosina-quinase EGFR mostraram benefícios em CPNPC. Exemplo disso é o estudo FASTACT 2, que demonstrou vantagens da estratégia de intercalar erlotinibe à quimioterapia em pacientes EGFR. Nesse subgrupo, a progressão foi reduzida em 75% (P <0,0001) e o esquema de combinação reduziu o risco de morte em 52% (P = 0,0092). 

Os trials da série LUX-Lung (3,5 e 6) consideraram pacientes de CPNPC que progrediram depois de vários esquemas de quimioterapia e também mostraram vantagens do uso de anti-EGFR em pacientes mutados, desta vez com o agente afatinibe, que demonstrou impacto na sobrevida livre de progressão.  O agente já tem aprovação na Europa e Estados Unidos, mas não obteve o registro da Anvisa no Brasil. A terapia é indicada para tumores com EGFR que apresentam deleção do exon 9, o tipo mais comum de mutação. O estudo que levou a aprovação do afatinibe nos EUA demonstrou que nos pacientes com mutação do EGFR a droga apresentou um aumento da taxa de resposta e da sobrevida livre de progressão comparado com a quimioterapia. “Ele é considerado como um dos tratamentos padrão para para pacientes com a mutação EGFR virgens de tratamento”, disse William.

“São estratégias que sem dúvida alguma beneficiam uma parcela de pacientes e mostram a importância da seleção molecular no tratamento do câncer de pulmão”, diz Clarissa Mathias.

A combinação com antiangiogênicos ainda requer novas evidências, mas o estudo japonês (JO 25567) que comparou erlotinibe com ou sem bevacizumabe demonstrou diferença de 6,3 meses na sobrevida livre de progressão com a combinação (P = 0,0015; HR = 0,54). 

Erlotinibe na doença inicial

O erlotinibe também foi avaliado na doença inicial, em pacientes com tumores que superexpressavam ou tinham um aumento do número de copias do gene do EGFR. “O estudo foi negativo como um todo, mas existem algumas dicas de que talvez nos pacientes mutados essa possa ser uma estratégia interessante. Por enquanto, nada que possa ser utilizado fora de protocolo, mas estudos começam agora a randomizar e avaliar esses pacientes que têm mutação para receber o erlotinibe”, explicou o oncologista do MD Anderson.