ASCO GI 2024

GALAXY: ctDNA e quimioterapia adjuvante no câncer colorretal

biopsia liquida 2019 bxAnálise atualizada do estudo GALAXY selecionada no programa científico do ASCO GI 2024 sugere que a biópsia líquida por DNA tumoral circulante (ctDNA) pode ajudar a identificar pacientes que podem ser poupados de quimioterapia adjuvante após cirurgia do câncer colorretal.

A análise incluiu 2.998 pacientes, dos quais 1.130 pacientes receberam quimioterapia adjuvante e 1.868 pacientes foram acompanhados em observação vigilante. O endpoint primário foi a sobrevida livre de doença (SLD) definido como o tempo entre a data da cirurgia e a data da recorrência do câncer ou morte por qualquer causa.

Para detectar ctDNA após a cirurgia, os pesquisadores usaram um exame de sangue personalizado (Signatera®) baseado nas variantes somáticas encontradas no tecido tumoral de cada paciente. Essas variantes foram rastreadas nas amostras de plasma durante coletas de sangue em 1, 3, 6, 9, 12, 18 e 24 meses após a cirurgia ou até a recorrência. Os pacientes também foram submetidos a tomografias computadorizadas de tórax, abdômen e pelve a cada 6 meses.

Durante o período de 2 a 10 semanas, os resultados de ctDNA para detectar doença residual mínima (DRM) após a cirurgia estavam disponíveis para 2.860 pacientes. Desse total, 369 (2,9%) apresentaram ctDNA positivo (ctDNA+) e 2.491 (87,1%) ctDNA negativo (ctDNA-).

A análise de sobrevida mostrou que pacientes que eram ctDNA+ tinham SLD significativamente inferior em comparação com aqueles que eram ctDNA-. Análise da dinâmica do ctDNA desde a detecção de DRM pós-operatória até um período de 6 meses revelou que os pacientes que permaneceram com ctDNA+ tinham 5 vezes mais probabilidade de sofrer uma recorrência do câncer em comparação com aqueles que tiveram eliminação de ctDNA.

Entre os 445 pacientes com ctDNA+ na população completa do estudo, 240 receberam quimioterapia adjuvante, 66,3% dos quais tiveram depuração de ctDNA. Para os pacientes que tiveram ctDNA positivo após a cirurgia, mas que se tornaram ctDNA negativo após o tratamento quimioterápico, 58% tiveram depuração sustentada em comparação com 42% dos pacientes que retornaram ao status de ctDNA+. Os pacientes com depuração sustentada do ctDNA tiveram SLD significativamente melhor em comparação com aqueles que alcançaram a depuração do ctDNA temporariamente (taxa de SLD em 24 meses: 90,1% vs. 2,3%).

Entre os pacientes com ctDNA+ tratados com quimioterapia adjuvante, uma diminuição de 50% ou mais nos níveis de ctDNA em 6 meses foi associada a melhor SLD em comparação com pacientes com diminuição ou aumento <50% nos níveis de ctDNA (taxa de SLD em 24 meses: 51% vs. 29%).

“Esses achados podem nos permitir poupar um número considerável de pacientes com ctDNA negativo da toxicidade da quimioterapia sem comprometer sua sobrevivência a longo prazo e identificar pacientes com ctDNA positivo que deveriam receber quimioterapia. O monitoramento do ctDNA durante a vigilância permite a detecção precoce da recorrência do câncer, o que tem o potencial de permitir uma intervenção precoce, melhorar as chances de cura e/ou prolongar a sobrevida”, disse o principal autor do estudo, Hiroki Yukami, do Centro de Quimioterapia do Câncer da Universidade Médica e Farmacêutica de Osaka. “Como o atual paradigma de tratamento para quimioterapia pós-operatória é amplamente baseado no estágio do câncer e em outros fatores de risco clínico-patológico, monitorar o status do ctDNA com um ensaio altamente validado nos permite desenvolver um plano de tratamento personalizado para cada paciente”.

Os autores planejam validar ainda mais o uso do ctDNA para orientar o manejo dos pacientes, estudando se a adição de trifluridina/tipiracil é comparada ao placebo em pacientes com câncer colorretal que apresentam ctDNA+ em qualquer momento após a cirurgia.

“Este é o primeiro estudo que não apenas demonstra a importância da depuração sustentada do ctDNA, mas também que uma mudança dinâmica no ctDNA de mais de 50% em seis meses de quimioterapia adjuvante foi associada à melhoria da sobrevida livre de doença”, disse Cathy Eng, membro da ASCO e especialista em câncer gastrointestinal, que comentou os resultados do GALAXY.

Esta pesquisa foi financiada pela Agência Japonesa de Pesquisa e Desenvolvimento Médico (Japan Agency for Medical Research and Development).

Referência: Circulating tumor DNA (ctDNA) dynamics in patients with colorectal cancer (CRC) with molecular residual disease: Updated analysis from GALAXY study in the CIRCULATE-JAPAN. J Clin Oncol 42, 2024 (suppl 3; abstr 6). DOI 10.1200/JCO.2024.42.3_suppl.6